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CAIXA ALTA
Levantamento feito com 19 instituições mostra lucratividade média de 24,5% e ganho total de R$ 9,8 bilhões
Bancos têm rentabilidade recorde em 2002
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
As turbulências na economia
em 2002 podem ter sido ruins para muita gente, menos para o setor financeiro. Os bancos registraram no ano passado a maior rentabilidade dos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso.
De acordo com estudo feito pela
consultoria Austin Asis, a rentabilidade (lucro líquido sobre o patrimônio) média dos bancos em
2002 foi de 24,5%. Em 2001, a rentabilidade tinha sido de 19,1%.
Diante desses números, o presidente da Austin Asis, Erivelto Rodrigues, acredita que, em 2002, os
bancos registraram a maior rentabilidade da história. "O estresse
do ano passado não foi bom para
ninguém, mas não se pode negar
que os bancos se beneficiaram
desse momento", diz Rodrigues.
O levantamento da Austin Asis
foi feito com base nos 19 balanços
já publicados até agora. Como
quase todos os maiores bancos já
divulgaram seus balanços, Rodrigues diz que a rentabilidade média final não deverá mudar muito.
Segundo o trabalho da Austin
Asis, o lucro total dos 19 bancos
em 2002 foi de R$ 9,8 bilhões,
mais de cinco vezes o orçamento
previsto para o Fome Zero. O
maior lucro até agora foi o do Banespa (R$ 2,8 bilhões).
Em relação a 2001, o lucro dos
bancos registrou crescimento real
de 31%. Nessa conta, Rodrigues
não levou em consideração o
BNB, que, em 2001, registrou prejuízo de R$ 2,5 bilhões.
Competência
O presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), Gabriel Jorge
Ferreira, diz que é um equívoco
achar que a alta dos juros é fator
preponderante na lucratividade
dos bancos. Segundo ele, "o lucro
dos bancos é uma demonstração
de competência".
Para Ferreira, nos anos 90 os
bancos sofisticaram muito suas
operações. Hoje o país possui um
sistema financeiro sólido e rentável, diz, devido a essa busca de eficiência do sistema financeiro.
Erivelto Rodrigues observa, no
entanto, que a rentabilidade dos
bancos no país é muito superior à
apresentada pelo setor não-financeiro, que, segundo suas contas,
se situa na faixa de 5,6%.
O interessante, de acordo com
Rodrigues, é que a rentabilidade
do setor não-financeiro, se for levado em conta apenas o resultado
operacional (antes das despesas
financeiras), aumenta para 15%.
Ou seja, as empresas não-financeiras transferem mais da metade
de sua lucratividade para os bancos. "O custo do dinheiro é um
grande inibidor do crescimento
econômico", diz Rodrigues.
De acordo com o estudo da
Austin Asis, o lucro dos bancos no
ano passado se explica basicamente pelos altos ganhos obtidos
com juros e câmbio.
Da receita total, os bancos ganharam 38,7% com as operações
de títulos e valores mobiliários
(juros e câmbio). Nos anos anteriores, essas operações representaram cerca de 30% da receita total. As receitas com as operações
de títulos e valores mobiliários subiram de R$ 24,5 bilhões em 2001
para R$ 47,7 bilhões em 2002.
Para Rodrigues, outro fator que
explica o lucro elevado dos bancos são os "spreads" (diferença
entre o custo de captação e a taxa
de juros cobrada dos tomadores)
fixados pelas instituições. Para
empréstimos às empresas, o
"spread" se situa na faixa de 25%
ao ano. Já para pessoas físicas o
"spread" sobe para 57% anuais.
Os ganhos dos bancos poderiam ter sido ainda muito maiores, não fosse as instituições terem
aumentado bastante a provisão
para créditos duvidosos. Os bancos temem o aumento da inadimplência no país.
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