UOL


São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CAIXA ALTA

Levantamento feito com 19 instituições mostra lucratividade média de 24,5% e ganho total de R$ 9,8 bilhões

Bancos têm rentabilidade recorde em 2002

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

As turbulências na economia em 2002 podem ter sido ruins para muita gente, menos para o setor financeiro. Os bancos registraram no ano passado a maior rentabilidade dos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso.
De acordo com estudo feito pela consultoria Austin Asis, a rentabilidade (lucro líquido sobre o patrimônio) média dos bancos em 2002 foi de 24,5%. Em 2001, a rentabilidade tinha sido de 19,1%.
Diante desses números, o presidente da Austin Asis, Erivelto Rodrigues, acredita que, em 2002, os bancos registraram a maior rentabilidade da história. "O estresse do ano passado não foi bom para ninguém, mas não se pode negar que os bancos se beneficiaram desse momento", diz Rodrigues.
O levantamento da Austin Asis foi feito com base nos 19 balanços já publicados até agora. Como quase todos os maiores bancos já divulgaram seus balanços, Rodrigues diz que a rentabilidade média final não deverá mudar muito.
Segundo o trabalho da Austin Asis, o lucro total dos 19 bancos em 2002 foi de R$ 9,8 bilhões, mais de cinco vezes o orçamento previsto para o Fome Zero. O maior lucro até agora foi o do Banespa (R$ 2,8 bilhões).
Em relação a 2001, o lucro dos bancos registrou crescimento real de 31%. Nessa conta, Rodrigues não levou em consideração o BNB, que, em 2001, registrou prejuízo de R$ 2,5 bilhões.

Competência
O presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), Gabriel Jorge Ferreira, diz que é um equívoco achar que a alta dos juros é fator preponderante na lucratividade dos bancos. Segundo ele, "o lucro dos bancos é uma demonstração de competência".
Para Ferreira, nos anos 90 os bancos sofisticaram muito suas operações. Hoje o país possui um sistema financeiro sólido e rentável, diz, devido a essa busca de eficiência do sistema financeiro.
Erivelto Rodrigues observa, no entanto, que a rentabilidade dos bancos no país é muito superior à apresentada pelo setor não-financeiro, que, segundo suas contas, se situa na faixa de 5,6%.
O interessante, de acordo com Rodrigues, é que a rentabilidade do setor não-financeiro, se for levado em conta apenas o resultado operacional (antes das despesas financeiras), aumenta para 15%.
Ou seja, as empresas não-financeiras transferem mais da metade de sua lucratividade para os bancos. "O custo do dinheiro é um grande inibidor do crescimento econômico", diz Rodrigues.
De acordo com o estudo da Austin Asis, o lucro dos bancos no ano passado se explica basicamente pelos altos ganhos obtidos com juros e câmbio.
Da receita total, os bancos ganharam 38,7% com as operações de títulos e valores mobiliários (juros e câmbio). Nos anos anteriores, essas operações representaram cerca de 30% da receita total. As receitas com as operações de títulos e valores mobiliários subiram de R$ 24,5 bilhões em 2001 para R$ 47,7 bilhões em 2002.
Para Rodrigues, outro fator que explica o lucro elevado dos bancos são os "spreads" (diferença entre o custo de captação e a taxa de juros cobrada dos tomadores) fixados pelas instituições. Para empréstimos às empresas, o "spread" se situa na faixa de 25% ao ano. Já para pessoas físicas o "spread" sobe para 57% anuais.
Os ganhos dos bancos poderiam ter sido ainda muito maiores, não fosse as instituições terem aumentado bastante a provisão para créditos duvidosos. Os bancos temem o aumento da inadimplência no país.



Texto Anterior: Painel S.A.
Próximo Texto: Opinião econômica: Os caminhos do retrocesso
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.