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LEÃO GULOSO
Boris Fausto destaca caráter espontâneo do movimento contra MP
Historiador vê novo clima antiimposto
DA REPORTAGEM LOCAL
O historiador Luiz Felipe de
Alencastro afirma que o atual clima de ""revolta tributária" e de desobediência civil em relação ao
peso da carga tributária no Brasil
representa "o terceiro turno" de
um "longo embate" no país.
"Desta vez, não são mais as unidades da Federação, mas setores
da atividade econômica, que se
articulam nesse embate", afirma.
Alencastro diz que o primeiro
turno dessa disputa ocorreu ao final do regime militar, em 1985.
"O pacto da transição democrática no Brasil foi feito em torno
dos impostos, com as eleições estaduais, em 1982, e a dos deputados constituintes, em 86. Nesse
período, por causa da dinâmica
da recuperação da soberania popular, Estados e municípios tomaram muito dinheiro do governo central, que estava na defensiva à época", diz.
"Mais tarde, com vários escândalos e descontrole nos bancos estaduais, o Banco Central conseguiu recuperar a arrecadação federal em cima dos Estados."
Alencastro afirma que, ""como o
governo parece um pouco mais
fraco" no momento, diante das
discussões sobre o peso da carga
tributária no país, ""chegou a vez
de os empresários atacarem".
Alencastro lembra que nos
"dois eventos capitais da história
ocidental", as revoluções Americana (1775) e a Francesa (1789), o
pano de fundo são "revoltas tributárias". Nos dois casos, o Império Britânico e a coroa francesa
impingiram, respectivamente, a
seus colonos e súditos mais impostos para pagar contas de conflitos militares.
Já o historiador Evaldo Cabral
de Mello afirma que a questão tributária no Brasil "continuará sendo, ainda por muito tempo, um
nó górdio para o país".
"A importância e o peso que o
Estado brasileiro tem desde a sua
formação sempre serviram para
afogar esse tipo de protesto. Aqui,
as coisas não funcionam como
em países onde a livre empresa
predomina, onde o tamanho do
Estado se torna insustentável."
No Brasil, além do funcionalismo público, boa parte da rede de
seguridade social e de programas
sociais como o Bolsa-Família é financiada por impostos.
O historiado Boris Fausto afirma que o movimento atual contra
os impostos é significativo pelo
fato de ter "brotado espontaneamente". "É algo incomum na história recente do país", ressalta.
Fausto diz, no entanto, que é
preciso levar em conta que se trata, "em boa medida, de uma revolta de ricos". "Muitos profissionais viraram empresas para fugir
dos impostos altos", afirma o historiador.
(FERNANDO CANZIAN)
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