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LUÍS NASSIF
Uma história da China
Para os futuros analistas da
racionalidade econômica
brasileira, os últimos dias foram
um prato cheio. Começou com o
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, declarando
que "a grande discussão que se
deve ter não é exatamente se as
taxas de juros devem subir ou
não, porque isso é uma discussão técnica". Fica-se sabendo
que discussão técnica não se discute.
Nas últimas entrevistas exclusivas concedidas, aliás, Meirelles não se aventurou a nenhuma discussão técnica. Remeteu
todas as perguntas para a ata do
Copom (Comitê de Política Monetária), criando mais uma fruta que só dá no Brasil: presidente de Banco Central que se recusa a discutir tecnicamente.
Aí se deriva para algo inimaginável em qualquer sistema de
BC. No seminário, Meirelles defendeu o modelo asiático. Declarou que "nos anos 90 havia
certo consenso de que o crescimento seria financiado com a
poupança externa e por isso seria razoável conviver com os déficits em conta corrente". As sucessivas crises externas teriam
mostrado que esse modelo produzia vulnerabilidade excessiva. Segundo ele, os asiáticos teriam quebrado esse paradigma,
ao mostrar que o financiamento
pode vir dos ganhos com a exportação. E afiançou que o Brasil passou a perseguir esse modelo.
Enquanto Meirelles apresentava o "novo modelo" (mais velho que a Revolução Industrial),
os juros continuavam a aumentar, e o câmbio, a apreciar. Ou
seja, o presidente do Banco Central defendeu um modelo que é
totalmente oposto do praticado.
E o mercado nem piscou. Sabia
que eram apenas palavras.
Mês após mês o modelo está
levando ao mesmo nó que, nas
vezes anteriores, só se resolveu
via crise: juros altos, apreciação
do câmbio, aumento da exposição à próxima crise externa.
Um dos pais desse modelo, o
ex-diretor do Banco Central
Ilan Goldfajn, no artigo "O impacto do câmbio na inflação",
reconhece que há uma apreciação do real e aponta dois caminhos para reduzi-la: o caminho
"bom", se a política monetária
for bem-sucedida; o "mau", se
por meio de crise.
Ilan sugere uma maneira
"boa" de alcançar o equilíbrio,
que embute um paradoxo. Com
o sucesso da política monetária,
o diferencial de juros seria reduzido, diminuindo a pressão sobre o câmbio e provocando uma
desvalorização (já que a premissa é que o câmbio atual não
é o de equilíbrio). Havendo a
desvalorização, obviamente haverá o repasse para preços e contratos. Ou seja, se a política monetária não conduz a uma situação cambial de equilíbrio, os
preços relativos também não estão em regime de equilíbrio.
Basta o câmbio voltar ao "normal" para a inflação retornar.
Se a política monetária não leva
a uma situação de equilíbrio,
quando ela será bem-sucedida?
No Dia de São Nunca, obviamente.
Crédito
Maria Helena Guimarães de
Castro, que foi do Inep (Instituto
Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), entra em
contato para informar que o PDI
(Plano de Desenvolvimento Institucional), embutido na reforma
universitária, foi concebido em
2001, na gestão Paulo Renato de
Souza.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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