São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

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LUÍS NASSIF

Uma história da China

Para os futuros analistas da racionalidade econômica brasileira, os últimos dias foram um prato cheio. Começou com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, declarando que "a grande discussão que se deve ter não é exatamente se as taxas de juros devem subir ou não, porque isso é uma discussão técnica". Fica-se sabendo que discussão técnica não se discute.
Nas últimas entrevistas exclusivas concedidas, aliás, Meirelles não se aventurou a nenhuma discussão técnica. Remeteu todas as perguntas para a ata do Copom (Comitê de Política Monetária), criando mais uma fruta que só dá no Brasil: presidente de Banco Central que se recusa a discutir tecnicamente.
Aí se deriva para algo inimaginável em qualquer sistema de BC. No seminário, Meirelles defendeu o modelo asiático. Declarou que "nos anos 90 havia certo consenso de que o crescimento seria financiado com a poupança externa e por isso seria razoável conviver com os déficits em conta corrente". As sucessivas crises externas teriam mostrado que esse modelo produzia vulnerabilidade excessiva. Segundo ele, os asiáticos teriam quebrado esse paradigma, ao mostrar que o financiamento pode vir dos ganhos com a exportação. E afiançou que o Brasil passou a perseguir esse modelo.
Enquanto Meirelles apresentava o "novo modelo" (mais velho que a Revolução Industrial), os juros continuavam a aumentar, e o câmbio, a apreciar. Ou seja, o presidente do Banco Central defendeu um modelo que é totalmente oposto do praticado. E o mercado nem piscou. Sabia que eram apenas palavras.
Mês após mês o modelo está levando ao mesmo nó que, nas vezes anteriores, só se resolveu via crise: juros altos, apreciação do câmbio, aumento da exposição à próxima crise externa.
Um dos pais desse modelo, o ex-diretor do Banco Central Ilan Goldfajn, no artigo "O impacto do câmbio na inflação", reconhece que há uma apreciação do real e aponta dois caminhos para reduzi-la: o caminho "bom", se a política monetária for bem-sucedida; o "mau", se por meio de crise.
Ilan sugere uma maneira "boa" de alcançar o equilíbrio, que embute um paradoxo. Com o sucesso da política monetária, o diferencial de juros seria reduzido, diminuindo a pressão sobre o câmbio e provocando uma desvalorização (já que a premissa é que o câmbio atual não é o de equilíbrio). Havendo a desvalorização, obviamente haverá o repasse para preços e contratos. Ou seja, se a política monetária não conduz a uma situação cambial de equilíbrio, os preços relativos também não estão em regime de equilíbrio. Basta o câmbio voltar ao "normal" para a inflação retornar. Se a política monetária não leva a uma situação de equilíbrio, quando ela será bem-sucedida? No Dia de São Nunca, obviamente.

Crédito
Maria Helena Guimarães de Castro, que foi do Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), entra em contato para informar que o PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional), embutido na reforma universitária, foi concebido em 2001, na gestão Paulo Renato de Souza.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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