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OPERAÇÃO BIG BROTHER
Envolvidos buscavam sacar recursos prescritos ou falsos
PF prende 6 por suspeita de
fraude em títulos de estatais
JOSÉ MASCHIO
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA E CURITIBA
A Polícia Federal cumpriu ontem mandados de prisão preventiva contra seis pessoas acusadas
de participar de um esquema para
fraudar o erário. Entre os presos
está o presidente da subseção da
OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil) de Curitiba (PR), Michel
Saliba Oliveira.
João Bosco Coutinho, acusado
de comandar o esquema de fraudes, foi preso em Recife (PE).
Além de Oliveira, foram presos
em Curitiba os advogados José
Lagana e Sílvio Carlos Cavagnari,
o técnico em informática João
Marciano Oddpis e o empresário
Paulo de Andrade Sampaio.
Os mandados de prisão foram
determinados pelo juiz federal
Sérgio Fernando Moro, da 2ª Vara
Criminal Federal de Curitiba, que
também expediu 14 mandados de
busca e apreensão em Recife e Curitiba, com base em investigações
da Polícia Federal e do Ministério
Público Federal.
Para sacar dinheiro de títulos da
dívida pública com aval da União
lançados no mercado pela Eletrobrás e pela Petrobras, os fraudadores usavam o artifício de ações
judiciais em sete Estados (Paraná,
Goiás, Maranhão, Pernambuco,
Amazonas, Alagoas e Pará) em
nome de laranjas.
Grampos telefônicos feitos pela
Polícia Federal, com autorização
da Justiça Federal, mostram que o
esquema buscava cooptar juízes
de instâncias estaduais nos sete
Estados, funcionários de cartórios
distribuidores das Varas Cíveis e
funcionários do Banco do Brasil
para a fraude.
O esquema consistia em nomear um laranja que ingressava
na Justiça para receber títulos, falsificados ou prescritos, contra as
duas estatais. De posse de liminar
da Justiça para saque, os fraudadores contariam com a ajuda de
gerentes do Banco do Brasil para
tirar o dinheiro antes que a ré
(Eletrobrás ou Petrobras) fosse
notificada da decisão judicial.
A operação da PF foi denominada Big Brother, em alusão às iniciais do Banco do Brasil.
O delegado Omar Gabriel Haj
Mussi, que comanda as investigações em Curitiba há dois anos,
disse haver suspeitas de envolvimento de juízes estaduais no esquema, mas que "isso ainda está
sendo apurado". Segundo ele,
"não seria possível, em tese", que
o golpe fosse aplicado sem a participação de um juiz.
Apesar de os saques não terem
sido concretizados e o crime de
estelionato ter sido abortado, os
três advogados e o funcionário
presos ontem já podem responder por formação de quadrilha e
corrupção ativa, disse o delegado.
A participação do presidente da
seção da OAB de Curitiba no golpe foi indireta, também segundo a
PF. "Ele não propôs ação, mas
contratava advogados para que
agissem", disse o delegado. Nas
gravações telefônicas, Saliba Oliveira aparece como intermediário
de Coutinho nas conversas com
os outros advogados presos.
Outro lado
Ao ser preso pela manhã, o presidente da OAB de Curitiba disse
que não sabia do motivo da prisão. "Não sei de nada. Foi cumprida uma ordem de busca e apreensão de documentos culminando
com uma prisão absolutamente
arbitrária." O advogado de Saliba
Oliveira, René Ariel Dotti, disse
que seu cliente é inocente.
Os advogados dos demais não
conseguiram falar com seus clientes até o final da tarde de ontem.
A Eletrobrás distribuiu nota em
que informou sofrer 70 ações
fraudulentas na Justiça, com demanda na ordem de R$ 3 bilhões.
A empresa alega que são referentes a títulos ao portador, emitidos
em 1997 e que tiveram prazo legal
expirado em 2002 -logo, sem valor financeiro.
A direção do BB informou que
nenhuma agência do banco permitiu saques fraudulentos, mesmo com liminares na Justiça que
determinavam os saques nas contas da Eletrobrás ou da Petrobras.
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