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RECEITA ORTODOXA
Levantamento com 107 países mostra que, além de ter maior taxa básica, Brasil lidera também na taxa ao consumidor
Bancos do país cobram maior juro do planeta
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em nenhum lugar do mundo
um empréstimo custa tão caro como no Brasil. Levantamento feito
pela Folha a partir de dados de
107 países coletados pelo FMI
(Fundo Monetário Internacional)
mostra que os juros cobrados pelos bancos brasileiros são os mais
altos de todos.
A lista foi feita com base nos juros praticados em cada país no segundo trimestre de 2005, já descontada a inflação acumulada nos
12 meses anteriores. Por esse método, chegou-se à taxa real cobrada pelos bancos -44,7% ao ano,
no caso brasileiro.
No topo da lista, o Brasil tem a
companhia de vários países africanos, como Angola (onde a taxa
real média é de 43,7% ao ano),
Gâmbia (juros reais de 31,8% ao
ano), Gabão (18,2% ao ano) e Moçambique (14,7%). Entre os dez
países cujos empréstimos são
mais caros, seis são africanos.
Do lado oposto, dois países latino-americanos aparecem entre os
países em que os juros bancários
são mais baixos. Na Argentina, a
taxa real chega a ser negativa, porque os encargos cobrados pelos financiamentos (6% ao ano em junho de 2005) são menores do que
a inflação (alta de 8,79% acumulada entre julho de 2004 e junho de
2005). Assim como a Argentina,
outros cinco países aparecem na
lista com taxa real negativa.
Na Venezuela, o custo médio de
um empréstimo é de 0,2% ao ano,
também já descontada a inflação.
Pelos dados do FMI, até o Haiti
possui uma taxa menor do que a
brasileira: 13,1% ao ano.
Se fosse feita uma média simples dos juros reais praticados pelos bancos nos 107 países da lista
- sem considerar o peso que cada um tem na economia mundial- chegar-se-ia a uma taxa de
7,4% ao ano: esse seria o custo
médio de um financiamento bancário no mundo. O que significaria dizer que, no Brasil, uma pessoa ou uma empresa paga quatro
vezes mais do que no resto do planeta por um empréstimo.
Somente em cinco países -incluindo o Brasil- os juros reais
médios dos financiamentos bancários superam os 20% ao ano.
Dos 107 países analisados, 81 oferecem uma taxa menor que 10%
ao ano.
Os dados são coletados pelo
FMI a partir de informações enviadas pelos países que integram
o organismo. Os números não refletem, necessariamente, a média
de todas as operações de crédito
efetuadas em determinado país
-no Brasil, por exemplo, não são
considerados os chamados créditos direcionados, como o financiamento à agricultura e à habitação.
De acordo com definição do
FMI, os números recolhidos pela
instituição se referem à "taxa bancária que normalmente atende as
necessidades de financiamento de
curto e médio prazos do setor privado".
No Brasil, foram considerados
os empréstimos prefixados concedidos, com recursos livres, a
pessoas físicas e jurídicas. Em alguns países, foram incluídos financiamentos comerciais, hipotecas, entre outros. As taxas recolhidas são aquelas que, para o
FMI, melhor representam o custo
do crédito em cada região.
Os juros de 44,7% ao ano cobrados nos empréstimos bancários a
pessoas físicas e jurídicas no Brasil, no segundo trimestre de 2005,
estão bem acima da taxa básica de
juros, conhecida como Selic, hoje
em 17,25% ao ano. A taxa do BC
também é a mais alta entre os
bancos centrais do mundo.
Segundo a Febraban (Federação
Brasileira de Bancos), os juros no
Brasil são altos por causa de distorções que têm origem no governo, como a carga tributária, a dívida pública e os recolhimentos
compulsórios exigidos pelo Banco Central.
Já levantamento feito pelo Iedi
(Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) mostra
que o Brasil tem se mantido entre
os líderes da lista dos juros altos
desde, pelo menos, 1996.
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