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Lula vetará renegociação de dívida agrícola
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
FELIPE RECONDO
DA FOLHA ONLINE
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva vetará o projeto de lei nš
4.514, aprovado anteontem pelo
Senado. O texto prevê a renegociação das dívidas de agricultores
do Nordeste. Como está, desagradou ao Ministério da Fazenda,
que teme o custo fiscal da iniciativa -se fosse estendida para todo
o Brasil, alcançaria R$ 20 bilhões,
informou à Folha o secretário do
Tesouro Nacional, Joaquim Levy.
Segundo o líder do governo no
Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), uma medida provisória substituindo o projeto deve sair do
Planalto nas próximas semanas.
O texto aprovado pelo Senado é
defendido pelos ruralistas. Também recebeu sinal verde da Câmara e depende apenas da caneta
presidencial para entrar em vigor.
Atualmente, o projeto estabelece
prazo de 25 anos para amortização das dívidas e dá 4 anos de carência para os agricultores endividados.
Levy explicou que o modelo de
renegociação, tal como foi aceito,
representa "significativo risco fiscal" ao país. Na estimativa do secretário, o custo imediato para os
cofres do governo chegará a R$ 8
bilhões -só na região Nordeste.
"A maior parte vai para grandes
produtores", disse Levy. "Para os
500 maiores devedores irão quase
R$ 3 bilhões."
Segundo ele, para os 30 mil devedores menores, alvos tidos como prioritários na hora de renegociar as dívidas, seria reservado
apenas R$ 1 bilhão.
"No fundo, para um "x" de pequenos produtores do semi-árido, a conta [para o governo] será
30 vezes, 40 vezes maior, ao expandir [a renegociação] para os
grandes produtores e para o Brasil inteiro", observou Levy.
Conforme o texto atual, o Tesouro será obrigado a emitir títulos públicos para garantir a renegociação das dívidas dos produtores nordestinos.
Esses papéis seriam negociados
no mercado sob remuneração baseada nos juros básicos (Selic),
atualmente em 17,25% anuais.
Em contrapartida, os débitos
dos produtores rurais seriam parcelados em até 25 anos, corrigidos
por taxas que chegariam, no máximo, a 2% ao ano, no caso de dívidas altas. Assim, haveria grande
descasamento entre as contas,
bancado pelo dinheiro público.
O argumento dos agricultores
em favor do atual desenho de renegociação é que o setor garante
um terço do PIB nacional e, portanto, precisa de incentivo
-principalmente no Nordeste.
Outro ponto que incomodou a
equipe econômica é o prazo de
carência previsto no projeto aprovado pelo Senado. Serão quatro
anos sem pagamento.
"O governo está atento ao problema dos pequenos agricultores
do Nordeste", afirmou Levy.
"Nunca se gastou tanto em Pronaf, Bolsa-Família, Seguro-Safra.
Houve suporte governamental
em nível sem precedentes, o que é
uma das chaves para a manutenção da responsabilidade fiscal."
Para o secretário, a "melhor forma de estimular o crédito é garantir o pagamento [das dívidas]".
Medida provisória
A medida provisória em estudo
pelo governo estenderia as regras
já usadas hoje por parte dos agricultores para produtores que não
estão beneficiados.
A dívida, de acordo com a nova
proposta, será paga no prazo máximo de dez anos, com juros
anuais de 8,75%. Segundo Mercadante, a MP atenderá a 31 mil pequenos e médios agricultores, cujos contratos não excedam R$ 50
mil. "Com os grandes não tem
acordo com o governo", declarou.
De acordo com Mercadante,
parte dos senadores que votou a
favor do projeto não estava interessada em negociar acertos no
projeto com os legisladores mais
afinados com o governo.
A intenção deles, analisou Mercadante, era levar adiante a proposta, derrubar posteriormente o
veto no Congresso e estender a regra para os demais Estados
-exatamente o maior temor do
Tesouro Nacional. "Isso desestruturaria o mercado de crédito [rural]", afirmou o líder do governo
no Senado.
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