São Paulo, quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

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EUA

Em seu primeiro depoimento no Congresso como presidente do BC americano, ele acalma mercados com fala previsível

Bernanke diz que juros podem subir mais

Shawn Thew/Efe
O presidente do Fed, Ben Bernanke, durante depoimento a comitê da Câmara, em Washington


IURI DANTAS
DE WASHINGTON

Ecoando a ata da última reunião do Federal Reserve, Ben Bernanke, o novo presidente do banco central americano, indicou ontem que a taxa de juros dos EUA pode precisar de novos ajustes nos próximos meses, principalmente diante da alta dos preços de energia, esgotamento da capacidade instalada e eventual estouro da bolha imobiliária no país.
Em seu mais detalhado discurso sobre a situação econômica ontem na Câmara dos Deputados, o sucessor de Alan Greenspan elogiou o cenário econômico e afastou sua imagem da aura de mistério do antecessor, dando respostas didáticas e diretas.
"Há o risco de, com a demanda agregada exibindo força considerável, a produção possa ultrapassar seu caminho sustentável, levando conseqüentemente -na ausência de ações de política monetária de equilíbrio- a mais pressões sobre a inflação", disse Bernanke ao Comitê de Serviços Financeiros da Casa.
A discrição e a tranqüilidade do novo presidente do Fed foram bem recebidas em Wall Street. Para o mercado, as palavras e a abordagem de Bernanke eram previsíveis, e causou alívio perceber que ele atendeu ao que se esperava. As declarações de que novos aumentos do juros "podem ser necessários", dadas ontem, copiam as palavras da nota do Fed de janeiro, quando o índice foi para 4,5%.
O mercado espera que a taxa de juros estacione por volta dos 5% no primeiro semestre. Mais que isso poderia prejudicar a economia. Menos, não seria capaz de afastar pressões inflacionárias como a alta do preço do petróleo.
Ex-governador do Fed e professor de economia de Princeton, Bernanke procurou ser equilibrado, evitando simplificações apresentadas pelos deputados. Indagado, por exemplo, sobre o pacote de corte de impostos implementado pelo presidente George W. Bush, explicou o que pode acontecer à economia se os cortes forem mantidos, interrompidos ou parcialmente cortados.
Bernanke também evitou se comprometer sobre o atual déficit de conta corrente dos EUA, ainda que insistentemente indagado por deputados a respeito disso: "Vou tentar me prender ao princípio de não apoiar programas específicos de impostos ou gastos".

Continuidade
Durante as cerca de três horas de sua audiência, Bernanke reiterou que manterá "continuidade" do trabalho de Greenspan. "Como indiquei ao Congresso durante minha sabatina, minha intenção é manter continuidade dessa prática [combate à inflação com aumentos contínuos dos juros] e de outras práticas do Federal Reserve na era Greenspan", afirmou ontem.
Outro ponto ressaltado pelo novo presidente do Fed foi a intenção de dar mais transparência ao processo de elaboração da política monetária e ampliar os dados nos quais o banco se baseia para tomar suas decisões.
As duas medidas já são discutidas internamente no Fed. "Não deixaria, por exemplo, câmeras de TV em reuniões do Fomc [Comitê Federal de Mercado Aberto, que define os juros], porque acredito que isso não permitiria que ocorresse uma discussão aberta e franca. [...] Mas acredito, de forma mais ampla, que ar fresco é bom para o Federal Reserve e quero continuar nos movendo nessa direção", disse.
A alta no mercado imobiliário, iniciada há cerca de dois anos com base em crédito barato e especulação nos valores de imóveis, também receberá atenção especial na gestão Bernanke. "O Federal Reserve vai continuar a monitorar esse setor bem de perto."


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