São Paulo, quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

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ANÁLISE

Discurso enfatiza continuidade

DO "FINANCIAL TIMES"

O primeiro depoimento de Ben Bernanke diante do Congresso desde que assumiu como presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) marca o verdadeiro início da era pós-Greenspan.
Por enquanto, as mudanças visíveis são mais de estilo que de substância. Embora a linguagem empregada por Bernanke tenha sido mais direta do que era o hábito na era de Alan Greenspan, a mensagem transmitida tinha por tema a continuidade. No entanto, já eram perceptíveis os primeiros e leves indícios de que algo pode mudar, com o tempo.
O presidente do Fed se esforçou para enfatizar que ele concordava com a postura herdada quanto à política monetária. Ele ecoou cuidadosamente a análise econômica feita pelo Fed em sua última reunião, em 31 de janeiro, no dia anterior à sua posse como dirigente da instituição.
Bernanke também declarou que se sente confortável com a média das projeções econômicas feitas pelos membros individuais do Fed, publicadas em relatório ao Congresso.
Em uma aparente tentativa de acalmar o temor de que ele seja acadêmico demais em sua análise econômica, Bernanke prometeu seguir "os procedimentos operacionais padrão" do Fed na era Greenspan.
No entanto, o depoimento representa um ponto de partida, e não o destino final, para o Fed da era Bernanke. O novo presidente se viu limitado pela tarefa que lhe foi dado cumprir com esse depoimento: estabelecer a posição coletiva da instituição na transição entre o antigo e o novo dirigente.
O depoimento dele demonstrou algum otimismo com relação ao crescimento. Os operadores do mercado de títulos públicos, que ainda abrigam suspeitas sobre "Ben helicóptero" -desde que Bernanke sugeriu, em 2003, que o Fed seria capaz de evitar a deflação lançando notas de um dólar de um helicóptero-, se sentirão reconfortados por seu alerta de que o perigo de aquecimento excessivo da economia talvez justifique novos aumentos nos juros.
Bernanke enfatizou que havia "ímpeto considerável" na demanda. Ele demonstrou relativo otimismo quanto ao mercado de habitação e deixou em aberto a possibilidade de que as taxas de juros continuavam um pouco frouxas, no atual patamar de 4,5%.
No entanto, para compensar essa postura, ele também se demonstrou despreocupado quanto ao índice atual de inflação.

Metas inflacionárias
O novo presidente evitou qualquer menção às metas inflacionárias. No entanto, sua explicação quanto aos motivos por que era correto que o Fed se concentrasse na inflação como forma de cumprir sua missão mais ampla dava a entender que adotar uma meta inflacionária formal era visto como constitucional pelo Fed.
Uma sucessão de projeções divulgadas por membros do Fed sugere meta inflacionária implícita de entre 1,5% e 2% para o indicador de preços dos gastos pessoais. Bernanke se declarou "confortável" com esses números como projeções.
Ele também descreveu a a inflação ao consumidor, de 1,9% em 2005, como "moderada". Isso não se enquadra bem à idéia de que a zona de conforto do Fed quanto à inflação, sob esse critério, se situa entre 1% e 2%.
Chegará o momento em que Bernanke terá de esclarecer diante dos mercados qual é a meta que o Fed tem em mente. Por enquanto, porém, sua tarefa é evitar qualquer forma abrupta de descontinuidade e conduzir o órgão a um consenso quanto ao encerramento do ciclo de aperto monetário. O fato de que a sessão de ontem não foi dramática é um bom começo.


Tradução de Paulo Migliacci

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