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ANÁLISE
Discurso enfatiza continuidade
DO "FINANCIAL TIMES"
O primeiro depoimento de
Ben Bernanke diante do
Congresso desde que assumiu como presidente do Fed (Federal
Reserve, o banco central dos Estados Unidos) marca o verdadeiro
início da era pós-Greenspan.
Por enquanto, as mudanças visíveis são mais de estilo que de
substância. Embora a linguagem
empregada por Bernanke tenha
sido mais direta do que era o hábito na era de Alan Greenspan, a
mensagem transmitida tinha por
tema a continuidade. No entanto,
já eram perceptíveis os primeiros
e leves indícios de que algo pode
mudar, com o tempo.
O presidente do Fed se esforçou
para enfatizar que ele concordava
com a postura herdada quanto à
política monetária. Ele ecoou cuidadosamente a análise econômica feita pelo Fed em sua última
reunião, em 31 de janeiro, no dia
anterior à sua posse como dirigente da instituição.
Bernanke também declarou que
se sente confortável com a média
das projeções econômicas feitas
pelos membros individuais do
Fed, publicadas em relatório ao
Congresso.
Em uma aparente tentativa de
acalmar o temor de que ele seja
acadêmico demais em sua análise
econômica, Bernanke prometeu
seguir "os procedimentos operacionais padrão" do Fed na era
Greenspan.
No entanto, o depoimento representa um ponto de partida, e
não o destino final, para o Fed da
era Bernanke. O novo presidente
se viu limitado pela tarefa que lhe
foi dado cumprir com esse depoimento: estabelecer a posição coletiva da instituição na transição
entre o antigo e o novo dirigente.
O depoimento dele demonstrou
algum otimismo com relação ao
crescimento. Os operadores do
mercado de títulos públicos, que
ainda abrigam suspeitas sobre
"Ben helicóptero" -desde que
Bernanke sugeriu, em 2003, que o
Fed seria capaz de evitar a deflação lançando notas de um dólar
de um helicóptero-, se sentirão
reconfortados por seu alerta de
que o perigo de aquecimento excessivo da economia talvez justifique novos aumentos nos juros.
Bernanke enfatizou que havia
"ímpeto considerável" na demanda. Ele demonstrou relativo otimismo quanto ao mercado de habitação e deixou em aberto a possibilidade de que as taxas de juros
continuavam um pouco frouxas,
no atual patamar de 4,5%.
No entanto, para compensar essa postura, ele também se demonstrou despreocupado quanto
ao índice atual de inflação.
Metas inflacionárias
O novo presidente evitou qualquer menção às metas inflacionárias. No entanto, sua explicação
quanto aos motivos por que era
correto que o Fed se concentrasse
na inflação como forma de cumprir sua missão mais ampla dava a
entender que adotar uma meta
inflacionária formal era visto como constitucional pelo Fed.
Uma sucessão de projeções divulgadas por membros do Fed sugere meta inflacionária implícita
de entre 1,5% e 2% para o indicador de preços dos gastos pessoais.
Bernanke se declarou "confortável" com esses números como
projeções.
Ele também descreveu a a inflação ao consumidor, de 1,9% em
2005, como "moderada". Isso não
se enquadra bem à idéia de que a
zona de conforto do Fed quanto à
inflação, sob esse critério, se situa
entre 1% e 2%.
Chegará o momento em que
Bernanke terá de esclarecer diante dos mercados qual é a meta que
o Fed tem em mente. Por enquanto, porém, sua tarefa é evitar qualquer forma abrupta de descontinuidade e conduzir o órgão a um
consenso quanto ao encerramento do ciclo de aperto monetário. O
fato de que a sessão de ontem não
foi dramática é um bom começo.
Tradução de Paulo Migliacci
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