São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Bem no varejo, mal no atacado

Comércio sobe com a alta da renda do trabalho e "social'; indústria fica para trás devido a impostos, juros e câmbio

AS vendas do comércio cresceram quase em linha com os avanços nos dois principais conjuntos de renda mais "popular", por assim dizer, a renda do trabalho e os rendimentos previdenciários.
As vendas do varejo aumentaram quase 6,2% em 2006, segundo o IBGE informou ontem.
A massa salarial subiu 6,7%. Embora o IBGE calcule a informação com base em apenas cerca de um quarto da população ocupada, os dados para o conjunto dos trabalhadores não tendem a ser tão diferentes, se considerada a pesquisa anual de renda do IBGE, que fornece dados para o total do trabalho.
Um parêntese para o dado politicamente mais relevante da pesquisa: o consumo de comida, bebida e de produtos de supermercado cresceu acima da média, 7,6%. A renda que ainda mais cresce é a dos mais pobres. A massa salarial tem aumentado mais devido ao peso da expansão do emprego do que pela elevação do salário médio.
A estimativa para 2007, sempre muito difícil mesmo em ambiente econômico mais estável, é a de que a massa de salários deve crescer um pouco menos. Em parte, porque o aumento do salário mínimo será bem menor, e assim também menor será o conjunto das rendas previdenciárias federais (INSS), que no entanto giram em torno de um quinto da renda total do trabalho no país.
O volume de crédito para as pessoas físicas, apesar de miseravelmente pequeno, ainda crescia a 30% ao ano no final de 2007. Mas a velocidade de expansão do total de empréstimos para o consumidor embicou para baixo, numa curva fechada, desde setembro de 2005.
Isto posto, o comércio vai ter um ano mais fraco em 2007? A Confederação Nacional do Comércio (CNC) estima que o comércio varejista vá vender 5% mais neste ano.
As pedras no caminho, na visão da CNC, seriam a inadimplência, que não explodiu mas estacionou em patamar mais alto que o de dois anos, e o aumento menor do salário mínimo. Mas os juros serão menores e deve haver mais gente empregada.
Ainda que marginalmente, a expansão do consumo tende a ser economicamente menos desequilibrada, defeituosa ou insustentável, seja lá o nome que se queira dar.
Isto é, um pouco menos dependente da expansão de transferências de renda por meio do Estado, mais relacionada à expansão do emprego e à redução do custo do crédito. E, se o PAC vier a realizar o seu modesto potencial, o conjunto da obra pode ser mais beneficiado pela expansão do investimento.
Estamos progredindo? Não. Tais alterações tendem a ser todas muito marginais. Ainda é enorme o peso dos gastos públicos e, por tabela, dos tributos, necessários para financiar um Estado ineficiente e as grandes transferências de renda por meio de benefícios sociais e do pagamento de juros a famílias ricas.
Tributos e juros são custos; fatores que de resto influenciam a cotação do real, que está forte. Real, tributos e juros altos vêm prejudicando a indústria. O comércio varejista cresceu mais que o dobro da indústria no ano passado, que patinou em parte devido ao real forte. Perderam-se empregos e investimentos porque nosso ainda parco crescimento é muito desequilibrado.


vinit@uol.com.br

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