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VINICIUS TORRES FREIRE
Bem no varejo, mal no atacado
Comércio sobe com a alta da renda do trabalho e "social'; indústria fica para trás devido
a impostos, juros e câmbio
AS vendas do comércio cresceram quase em linha com os
avanços nos dois principais
conjuntos de renda mais "popular",
por assim dizer, a renda do trabalho
e os rendimentos previdenciários.
As vendas do varejo aumentaram
quase 6,2% em 2006, segundo o IBGE informou ontem.
A massa salarial subiu 6,7%. Embora o IBGE calcule a informação
com base em apenas cerca de um
quarto da população ocupada, os dados para o conjunto dos trabalhadores não tendem a ser tão diferentes,
se considerada a pesquisa anual de
renda do IBGE, que fornece dados
para o total do trabalho.
Um parêntese para o dado politicamente mais relevante da pesquisa: o consumo de comida, bebida e
de produtos de supermercado cresceu acima da média, 7,6%. A renda
que ainda mais cresce é a dos mais
pobres. A massa salarial tem aumentado mais devido ao peso da expansão do emprego do que pela elevação do salário médio.
A estimativa para 2007, sempre
muito difícil mesmo em ambiente
econômico mais estável, é a de que a
massa de salários deve crescer um
pouco menos. Em parte, porque o
aumento do salário mínimo será
bem menor, e assim também menor
será o conjunto das rendas previdenciárias federais (INSS), que no
entanto giram em torno de um quinto da renda total do trabalho no país.
O volume de crédito para as pessoas físicas, apesar de miseravelmente pequeno, ainda crescia a 30%
ao ano no final de 2007. Mas a velocidade de expansão do total de empréstimos para o consumidor embicou para baixo, numa curva fechada,
desde setembro de 2005.
Isto posto, o comércio vai ter um
ano mais fraco em 2007? A Confederação Nacional do Comércio
(CNC) estima que o comércio varejista vá vender 5% mais neste ano.
As pedras no caminho, na visão da
CNC, seriam a inadimplência, que
não explodiu mas estacionou em patamar mais alto que o de dois anos, e
o aumento menor do salário mínimo. Mas os juros serão menores e
deve haver mais gente empregada.
Ainda que marginalmente, a expansão do consumo tende a ser economicamente menos desequilibrada, defeituosa ou insustentável, seja
lá o nome que se queira dar.
Isto é, um pouco menos dependente da expansão de transferências
de renda por meio do Estado, mais
relacionada à expansão do emprego
e à redução do custo do crédito. E, se
o PAC vier a realizar o seu modesto
potencial, o conjunto da obra pode
ser mais beneficiado pela expansão
do investimento.
Estamos progredindo? Não. Tais
alterações tendem a ser todas muito
marginais. Ainda é enorme o peso
dos gastos públicos e, por tabela, dos
tributos, necessários para financiar
um Estado ineficiente e as grandes
transferências de renda por meio de
benefícios sociais e do pagamento
de juros a famílias ricas.
Tributos e juros são custos; fatores que de resto influenciam a cotação do real, que está forte. Real, tributos e juros altos vêm prejudicando a indústria. O comércio varejista
cresceu mais que o dobro da indústria no ano passado, que patinou em
parte devido ao real forte. Perderam-se empregos e investimentos
porque nosso ainda parco crescimento é muito desequilibrado.
vinit@uol.com.br
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