São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

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Impacto a consumidor será diluído

Alta na conta de energia ficará perto de 0,2%, segundo o governo, e virá na data de reajuste da distribuidora

Aumento dos custos da Petrobras deve chegar a quem consome gás natural ao término dos contratos vigentes, a médio prazo


Alan Marques/Folha Imagem
Evo Morales (à esq.) e Lula no evento em Brasília que definiu novos termos do contrato sobre gás natural entre Brasil e Bolívia


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO

O consumidor brasileiro vai pagar a conta do acordo do governo com a Bolívia, mas de forma diluída -e não de imediato. Os consumidores de energia elétrica, diretamente, em forma de reajuste extra na tarifa de luz. Os de gás natural, de forma indireta, por conta do aumento dos custos da Petrobras, que acabará chegando aos preços finais do gás no país.
No caso do gás comprado pela Petrobras, o governo sustenta que não haverá repasse. "O aumento não vai ser repassado para o consumidor", disse o ministro Silas Rondeau (Minas e Energia). A tese é a de que a estatal anulará o prejuízo ao vender às petroquímicas os componentes "nobres" do gás.
A Petrobras, porém, reconhece que não pode recuperar esse custo no curto prazo e que, para repor as perdas, terá que investir. Isso será computado nos custos da empresa e fará parte do cálculo do preço do gás vendido no mercado interno.
Ou seja, no médio prazo, ainda que de forma diluída e indireta, chegarão às distribuidoras, depois às indústrias ou termelétricas e aos consumidores.
A razão para que o repasse não ocorra no curto prazo é que existem contratos em vigência entre a Petrobras e as distribuidoras de gás, que, por sua vez, têm acertos semelhantes com consumidores industriais.
No Estado de São Paulo, principal consumidor de gás natural do país, Comgás e Gás Natural, duas das maiores distribuidoras, têm contratos com a Petrobras até 2019 e 2014, respectivamente. E a expectativa é que os contratos continuem a ser respeitados.
É o entendimento de Saturnino Sérgio da Silva, diretor do Departamento de Infra-Estrutura da Fiesp, que diz não esperar repasse às indústrias paulistas que consomem gás natural porque a maior parte tem contratos de longo prazo.
"O impacto ao consumidor será pequeno e diluído. Mesmo se [o reajuste] chegar a novos contratos, será referente a volumes adicionais de gás, não ao volume hoje distribuído, já contratado", explica Zevi Kann, comissário-chefe da CSPE, a agência reguladora dos serviços de energia em São Paulo, responsável pelos reajustes.
Para Antonio Teixeira Mendes, da ABGNV (associação do gás natural veicular), ainda é cedo para dizer se haverá impacto ao consumidor. Ele, porém, diz que a Petrobras tem meios de absorver os novos custos e cita a economia da empresa com a redução das perdas com gás nas plataformas.
No caso da energia elétrica, o repasse é direto. A termelétrica de Cuiabá (MT) teve o gás reajustado em 253% -de US$ 1,19 para US$ 4,20 por milhão de BTU (medida de energia).
O preço da energia gerada pela usina subirá de aproximadamente R$ 110 por MWh (megawatt hora) para R$ 160 por MWh. Como a usina faz parte do sistema interligado de energia (todo o país menos a região Norte), o aumento será rateado por todos os consumidores.
Pelas contas do governo, o aumento extra é considerado pequeno e está estimado em cerca de 0,2%, em média. O custo do gás da termelétrica de Cuiabá sobe a partir de abril e, para o consumidor, chegará na data do reajuste anual de cada distribuidora. (HUMBERTO MEDINA e MARCELO SAKATE)

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