São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

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análise

Brasil busca mais influência na região

RAYMOND COLITT
DA REUTERS, EM BRASÍLIA

O acordo do gás é parte de uma estratégia mais ampla do Brasil para mostrar liderança regional e construir uma esfera de influência na América Latina via diplomacia.
Ele reflete dois objetivos de política externa brasileiros. Um é defender os interesses econômicos das empresas multinacionais emergentes do país, como a Petrobras, e acomodar nacionalistas como Evo Morales numa aliança de nações sul-americanas de inclinações esquerdistas, liderada pelo Brasil.
"A Bolívia serve como caso exemplar ao Brasil. O país precisa controlar um líder radical em sua vizinhança tanto em defesa de seus interesses econômicos quanto para demonstrar sua liderança", disse José Flávio Saraiva, da Universidade de Brasília.
Ao oferecer a Morales uma vitória que ele pode alardear em seu país, o Brasil também pode ter eliminado parte da influência dos petrodólares venezuelanos que o presidente Hugo Chávez vem empregando para estabelecer a influência de seu país sobre a região, em competição com o Brasil.
Ao contrário dos EUA, que estão insatisfeitos com radicais como Morales e Chávez, a diplomacia brasileira vem apostando no diálogo e no envolvimento positivo para moderar suas atitudes.
"A idéia brasileira é estabelecer um eixo de moderação na América do Sul", disse Saraiva.
O Brasil vem obtendo menos sucesso em atenuar o ardor nacionalista de Chávez, mas continua mantendo estreita cooperação com a Venezuela.
O papel do Brasil como intermediário regional para Washington provavelmente ocupará papel central na visita do presidente George W. Bush ao país, em março. Ainda assim, o acordo sobre o gás pode ser só uma solução interina para cisões cada vez mais profundas entre os esquerdistas da região.
Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina compartilham do ceticismo de Lula quanto aos interesses americanos. Mas um surto de nacionalismo econômico pode continuar solapando os esforços de integração.
"A afinidade ideológica entre as esquerdas latino-americanas é limitada", disse Alcides Costa Vaz, especialista em política externa. "A retomada do nacionalismo [econômico] é o maior obstáculo à integração e aos interesses regionais brasileiros", afirmou Vaz.


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