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Corte efetivo de gastos será de R$ 4,5 bi
Apesar de anúncio de bloqueio de despesas de R$ 16,4 bilhões, economia será menor e política fiscal ficou mais frouxa
Superávit previsto para o governo federal cai dos tradicionais 2,45% para
2,35% do PIB; descontado o PPI, será o menor desde 2001
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em um anúncio confuso, o
governo apresentou ontem o já
previsto bloqueio de gastos de
R$ 16,4 bilhões no Orçamento
deste ano, mas o detalhamento
dos números revela uma redução de despesas efetiva de apenas R$ 4,5 bilhões e novo afrouxamento da política fiscal.
Na prática, foram represadas
despesas incluídas pelo Congresso na lei orçamentária, enquanto o Executivo abriu caminho para, posteriormente, fazer o prometido aumento de investimentos públicos com
obras de sua preferência.
Por isso, o contingenciamento -nome técnico do bloqueio
de gastos- é bem menor do que
parece. Em números: as despesas oficialmente classificadas
como não-obrigatórias, que o
Congresso havia elevado de R$
91,2 bilhões para R$ 105,7 bilhões no Executivo, tiveram
sua autorização reduzida, por
decreto presidencial, para R$
89,3 bilhões.
Com essa conta, chega-se ao
valor oficial do contingenciamento, pouco superior aos R$
14,5 bilhões das emendas parlamentares, como são chamadas
as obras e outras despesas incluídas no Orçamento por deputados e senadores.
O governo, porém, inflou as
estimativas para as despesas
obrigatórias, que passaram de
R$ 352 bilhões, na lei aprovada
há menos de dois meses, para
quase R$ 364 bilhões. Para chegar a tal valor, a conta inclui
previsões que os técnicos não
souberam explicar, valores que
de costume não constam da
programação orçamentária do
ano corrente e até investimentos, uma despesa tipicamente
não-obrigatória (ver quadro
nesta página).
Para fazer um contingenciamento real tão inferior ao aparente, foi reduzida a previsão
para o superávit primário -diferença entre receitas e despesas, excluindo gastos com juros.
Já se sabia que o superávit
efetivo seria reduzido em R$
11,3 bilhões, ou 0,5% do Produto Interno Bruto, valor dos investimentos do PPI, o programa cujos gastos são contabilizados com sinal positivo na
apuração do resultado primário. A elevação do PPI, fixado
em 0,2% do PIB no Orçamento,
é a principal medida do pacote
oficial para acelerar o crescimento econômico.
Nos números divulgados ontem, o superávit do governo federal (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central)
cai dos tradicionais 2,45% para
2,35% do PIB. Descontado o
PPI, o superávit efetivo é de
apenas 1,85% do produto, o menor desde 2001. Para compensar, a previsão de superávit das
estatais subiu de 0,7% para
0,8% do PIB.
Confusão
A apresentação heterodoxa
dos dados comprometeu o
anúncio promovido no Ministério do Planejamento. Após
uma exposição do ministro
Paulo Bernardo, um grupo de
técnicos de segundo e terceiro
escalões levou mais de uma hora para decifrar os valores.
Não se chegou sequer a uma
previsão oficial para os investimentos federais neste ano, embora seja esse o eixo do PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento). Dos quadros
distribuídos, constavam dois
valores diferentes -R$ 17,1 bilhões e R$ 19,4 bilhões.
Somando valores dispersos
em outras rubricas, o número
fica entre R$ 24,5 bilhões e R$
26,8 bilhões, condicionados à
aprovação do PAC pelo Congresso. Em 2006, foram R$ 16,5
bilhões.
Tampouco foi possível desdobrar o contingenciamento,
como se faz todos os anos, por
ministério e por tipo de gasto,
uma vez que não foram detalhadas as despesas não-obrigatórias contabilizadas como
obrigatórias.
Nem mesmo a queda do superávit primário é uma aposta
segura. Paulo Bernardo ressalvou que as receitas podem superar as previsões -como tem
acontecido nos últimos anos-
e os investimentos podem não
ser integralmente executados.
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