São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2005

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PESQUISA

Com 22% da população do país, Estado responde por 33% das despesas e do pagamento de impostos, diz estudo com dados de 2002

SP concentra 1/3 do consumo nacional

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Estado de São Paulo, com 22,3% da população brasileira, responde por quase um terço (32,6%) das despesas básicas e supérfluas e com o pagamento de impostos diretos do país. Em todo o Brasil, esses gastos atingiram R$ 62,7 bilhões a cada mês em 2002.
Novos dados sobre a concentração do potencial de consumo nacional e sobre os gastos do brasileiro, assim como exemplos da desigualdade socioeconômica, foram apresentados ontem. Eles fazem parte do banco de dados intitulado ProConsumo, da Fecomercio SP, criado em parceria com a Tendências Consultoria.
Na análise estão gastos em 14 segmentos (alimentação, vestuário, recreação, cultura, entre outros), além de despesas com tributos. Para criar o banco de dados, a Tendências reuniu e cruzou informações do Censo Demográfico de 2000, da pesquisa de Contagem Populacional de 2002, da Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar de 2002 e da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2003.
Da análise de 11 milhões de dados conclui-se, por exemplo, que a família paulistana da classe A (renda superior a 30 salários mínimos ao mês) gasta em festas e cerimônias uma quantia equivalente ao consumo de arroz, feijão e outros cereais em 12 Estados separadamente (como Espírito Santo, Tocantins e Sergipe).
Tem mais: o seleto grupo de brasileiros que ganha por mês acima de 20 salários mínimos (são 10,6 milhões de pessoas) desembolsa por mês R$ 96,4 milhões na compra de jóias e bijuterias. Isso supera o que a classe de baixa renda (salário inferior a dois mínimos) paga em impostos no mês.
Quanto ao consumo de supérfluos, há dados perturbadores. A cidade de São Paulo compra 15% do azeite à venda no país. Apenas a classe A fica com 9,4% do total. Uma lata de azeite (250 mililitros) custa hoje em média R$ 15. Em Salvador (BA), essa mesma classe alta compra 0,5% do produto disponível no mercado. O grupo que está na base da pirâmide na capital baiana (classe E) tem consumo zero do produto.
Os paulistanos também desembolsam R$ 32,9 milhões por mês na compra de perfumes. O valor supera a despesa com todos os 131 produtos incluídos na base do ProConsumo em 5.320 dos 5.560 municípios brasileiros.
Sérias distorções na renda, como fruto da dificuldade de aliar crescimento econômico e distribuição dos ganhos salariais à população, criaram regiões com realidades opostas. "Em 2005, com a expectativa de leve melhora na renda, existe a chance de que haja um estímulo no consumo onde há demanda reprimida. Mas isso é na teoria econômica. Na prática, veremos como eventuais ganhos se distribuirão", diz Claudio Felisoni, coordenador do Provar, instituto de varejo ligado à USP.
No caso do Rio de Janeiro, a análise inclui outras variáveis. A fuga de investimentos industriais nos anos 90, o "risco-violência", que afeta os ganhos com serviços e turismo, e a guerra fiscal atingiram em cheio a região e o bolso do consumidor. A população do Estado do Rio, 14,7 milhões de habitantes em 2002, gasta em compras mensais só cerca de um terço do montante que os 38 milhões de paulistas dispensam.
Numa análise por classe social entre as regiões (Estados do Rio e de SP), verifica-se que as classes paulistas mais abastadas (A e B) têm gastos mensais de R$ 13,9 bilhões em todas as suas despesas e em impostos diretos. A classe de menor renda (E) soma um valor total de apenas R$ 460 mil.
Já no Rio, os ricos têm gastos muito menores (R$ 4,6 bilhões). Olhando para a base da pirâmide, a classe E fluminense também gasta menos que a paulista: R$ 254,8 mil. "É uma situação com poucas chances de mudança", diz Fabio Pina, da Fecomercio.


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