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PESQUISA
Com 22% da população do país, Estado responde por 33% das despesas e do pagamento de impostos, diz estudo com dados de 2002
SP concentra 1/3 do consumo nacional
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O Estado de São Paulo, com
22,3% da população brasileira,
responde por quase um terço
(32,6%) das despesas básicas e supérfluas e com o pagamento de
impostos diretos do país. Em todo
o Brasil, esses gastos atingiram R$
62,7 bilhões a cada mês em 2002.
Novos dados sobre a concentração do potencial de consumo nacional e sobre os gastos do brasileiro, assim como exemplos da
desigualdade socioeconômica, foram apresentados ontem. Eles fazem parte do banco de dados intitulado ProConsumo, da Fecomercio SP, criado em parceria
com a Tendências Consultoria.
Na análise estão gastos em 14
segmentos (alimentação, vestuário, recreação, cultura, entre outros), além de despesas com tributos. Para criar o banco de dados, a
Tendências reuniu e cruzou informações do Censo Demográfico de
2000, da pesquisa de Contagem
Populacional de 2002, da Pesquisa
Nacional por Amostragem Domiciliar de 2002 e da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2003.
Da análise de 11 milhões de dados conclui-se, por exemplo, que
a família paulistana da classe A
(renda superior a 30 salários mínimos ao mês) gasta em festas e
cerimônias uma quantia equivalente ao consumo de arroz, feijão
e outros cereais em 12 Estados separadamente (como Espírito Santo, Tocantins e Sergipe).
Tem mais: o seleto grupo de
brasileiros que ganha por mês acima de 20 salários mínimos (são
10,6 milhões de pessoas) desembolsa por mês R$ 96,4 milhões na
compra de jóias e bijuterias. Isso
supera o que a classe de baixa renda (salário inferior a dois mínimos) paga em impostos no mês.
Quanto ao consumo de supérfluos, há dados perturbadores. A
cidade de São Paulo compra 15%
do azeite à venda no país. Apenas
a classe A fica com 9,4% do total.
Uma lata de azeite (250 mililitros)
custa hoje em média R$ 15. Em
Salvador (BA), essa mesma classe
alta compra 0,5% do produto disponível no mercado. O grupo que
está na base da pirâmide na capital baiana (classe E) tem consumo
zero do produto.
Os paulistanos também desembolsam R$ 32,9 milhões por mês
na compra de perfumes. O valor
supera a despesa com todos os 131
produtos incluídos na base do
ProConsumo em 5.320 dos 5.560
municípios brasileiros.
Sérias distorções na renda, como fruto da dificuldade de aliar
crescimento econômico e distribuição dos ganhos salariais à população, criaram regiões com realidades opostas. "Em 2005, com a
expectativa de leve melhora na
renda, existe a chance de que haja
um estímulo no consumo onde
há demanda reprimida. Mas isso
é na teoria econômica. Na prática,
veremos como eventuais ganhos
se distribuirão", diz Claudio Felisoni, coordenador do Provar, instituto de varejo ligado à USP.
No caso do Rio de Janeiro, a
análise inclui outras variáveis. A
fuga de investimentos industriais
nos anos 90, o "risco-violência",
que afeta os ganhos com serviços
e turismo, e a guerra fiscal atingiram em cheio a região e o bolso do
consumidor. A população do Estado do Rio, 14,7 milhões de habitantes em 2002, gasta em compras
mensais só cerca de um terço do
montante que os 38 milhões de
paulistas dispensam.
Numa análise por classe social
entre as regiões (Estados do Rio e
de SP), verifica-se que as classes
paulistas mais abastadas (A e B)
têm gastos mensais de R$ 13,9 bilhões em todas as suas despesas e
em impostos diretos. A classe de
menor renda (E) soma um valor
total de apenas R$ 460 mil.
Já no Rio, os ricos têm gastos
muito menores (R$ 4,6 bilhões).
Olhando para a base da pirâmide,
a classe E fluminense também
gasta menos que a paulista: R$
254,8 mil. "É uma situação com
poucas chances de mudança", diz
Fabio Pina, da Fecomercio.
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