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LUÍS NASSIF
O custo do desconhecimento
A decisão do Ministério da
Fazenda de não aceitar o
refinanciamento das dívidas fiscais da Varig é um caso típico de
país que queima ativos, empregos e tributos apenas para não
enfrentar a falta de informação
dos críticos.
A Varig tem uma dívida superior a R$ 9 bilhões, dos quais R$ 4
bilhões são tributos, e o restante,
débito com outros fornecedores
-incluindo dívidas trabalhistas.
Em operação, limpa de dívidas,
ela poderá valer de R$ 500 milhões a R$ 800 milhões. Entram
aí as rotas mais rentáveis, a marca, o corpo de funcionários treinados, as relações comerciais.
Parada, ela não vale quase nada.
Terá hangares para vender, um
valor que provavelmente não
chegará a R$ 50 milhões.
A proposta de reestruturação
da empresa -rechaçada pelo
ministério- era simples e obedecia a princípios internacionais
mais que conhecidos de reestruturação. Primeiro, separava a
Varig boa da Varig podre -com
dívidas.
A Varig boa seria levada a leilão, com dois passivos, um com
os fornecedores, outro com o fisco. Todos os funcionários seriam
demitidos, com todos os direitos
devidamente quitados, e uma
parte deles seria contratada pela
nova empresa.
Pelos cálculos feitos, a empresa
necessitaria de R$ 500 milhões
para -na pior das hipóteses-
conseguir decolar. Pelas contas
efetuadas, ela conseguiria gerar
um Ebitda (receita antes dos encargos e dos impostos) de R$ 300
milhões.
A idéia básica era que todos os
credores -públicos e privados-
trocassem suas dívidas pelo valor
de face por um título corrigido
pelo IGP, sem juros. De acordo
com a taxa de desconto utilizada
(os juros acima do IGP), poderia
significar um deságio de 70%,
que seria o desconto máximo.
Qualquer parcela do leilão que
excedesse os R$ 500 milhões
-estimava-se que o valor poderia chegar a R$ 800 milhões- seria utilizada para antecipar pagamento de dívidas, o que poderia reduzir o deságio inicial para
algo entre 50% e 60%. Depois, de
acordo com o desempenho da
empresa, se poderia acelerar as
amortizações. Só que, para as
contas fecharem, o prazo dos títulos teria que ser de 35 anos.
No final do processo, haveria
credores recuperando pelo menos parte do que perderam, a
empresa voando, crescendo, parte substancial dos empregos preservados e o fisco recebendo não
apenas a dívida passada como os
tributos futuros.
Tudo isso foi para um lixo devido a uma praga nacional, que
consiste em punir empresas pelos
erros que seus controladores cometeram. Em qualquer lugar racional do planeta, destituem-se
os controladores, que são processados e condenados de acordo
com suas responsabilidade, mas
se mantêm as empresas. Porque
o grande valor de empresas que
disputam mercado são ativos intangíveis -o valor da marca, o
fato de a empresa estar em operação, ter um corpo constituído
de funcionários, pilotos treinados, manutenção.
É evidente que o Ministério da
Fazenda, com seus técnicos competentes, sabia que o melhor para o país, para o fisco, para os
funcionários da Varig e para as
divisas de que o país necessita seria manter a Varig em operação
-mudando, obviamente, o controle. Por conta do medo de serem mal interpretados, rasgam
dinheiro público e empregos.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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