São Paulo, quarta-feira, 16 de março de 2005

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BRONCA DO FMI

Organismo reage a ataques do presidente Néstor Kirchner a empresas estrangeiras no país

Rato exige "regras claras" da Argentina

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

O FMI (Fundo Monetário Internacional) reagiu ontem aos ataques que o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, dirige há uma semana contra empresas multinacionais em seu país.
Rodrigo Rato, diretor do organismo, afirmou que exigirá da Argentina "regras de investimento claras e respeitosas com o funcionamento da iniciativa privada", na negociação de "um possível e futuro programa".
A Argentina tenta refinanciar os vencimentos de seu acordo de US$ 14 bilhões (R$ 38,5 bilhões) com o FMI, suspenso desde agosto passado para aguardar a saída da moratória do país com os credores privados, que se estendia desde dezembro de 2001.
A advertência de Rato sobre a insegurança para investimentos na Argentina reflete uma preocupação que domina o mercado vizinho desde a quinta passada, quando Kirchner convocou um boicote popular contra a petroleira anglo-holandesa Shell, por haver aumentado os preços da gasolina e do diesel.
O presidente desqualificou a empresa e afirmou que a Argentina tem interesse em receber investimentos estrangeiros, mas não "os piores do mundo". Os postos da Shell passaram a ser ocupados diariamente por manifestantes. A empresa diz que suas vendas caíram cerca de 30%. A Federação de Empresários de Combustíveis, porém, estima perda de 70% para a Shell.
Kirchner manteve as críticas às empresas de energia anteontem, dizendo que elas não previram devidamente os investimentos para responder ao aumento do consumo interno e dos compromissos de exportação.
Embora o presidente argentino tenha afirmado que não iria permitir "uma escalada inflacionária" quando lançou a ofensiva contra a Shell, o governo tentou ontem esvaziar a preocupação com o retorno da inflação.
"Falamos tanto de uma inflação que não existe, que a única coisa que estamos fazendo é gerar expectativa naqueles que não deveriam estar expectantes por um assunto que, hoje, não é um problema grave", disse ontem o chefe de gabinete de Kirchner, Alberto Fernández.
Fernández falou à imprensa um dia depois de o ministro Lavagna haver afirmado que a inflação de 2005 ficará entre 8% e 10,5%. Em 2004, o índice na Argentina foi de 6,1%. O teto previsto no orçamento de 2005 é 10,5%, que Roberto Lavagna, ministro da Economia, ratificou anteontem.
A projeção de inflação anual divulgada pelo Banco Central, no entanto, era de 7,5%, antes das altas nos índices de janeiro, fevereiro (acumulado de 2,5%) e março, estimado em 1%.
Kirchner vem assegurando sua popularidade interna com o respaldo dos indicadores econômicos positivos dos últimos anos. Porém, torna-se cada vez mais corriqueira entre analistas, políticos da oposição e na imprensa argentina a análise de que a atitude desafiadora do presidente ao empresariado afastará do país os investimentos necessários à manutenção do crescimento.


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