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BRONCA DO FMI
Organismo reage a ataques do presidente Néstor Kirchner a empresas estrangeiras no país
Rato exige "regras claras" da Argentina
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
O FMI (Fundo Monetário Internacional) reagiu ontem aos
ataques que o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, dirige
há uma semana contra empresas multinacionais em seu país.
Rodrigo Rato, diretor do organismo, afirmou que exigirá da
Argentina "regras de investimento claras e respeitosas com o
funcionamento da iniciativa privada", na negociação de "um
possível e futuro programa".
A Argentina tenta refinanciar
os vencimentos de seu acordo de
US$ 14 bilhões (R$ 38,5 bilhões)
com o FMI, suspenso desde
agosto passado para aguardar a
saída da moratória do país com
os credores privados, que se estendia desde dezembro de 2001.
A advertência de Rato sobre a
insegurança para investimentos
na Argentina reflete uma preocupação que domina o mercado
vizinho desde a quinta passada,
quando Kirchner convocou um
boicote popular contra a petroleira anglo-holandesa Shell, por
haver aumentado os preços da
gasolina e do diesel.
O presidente desqualificou a
empresa e afirmou que a Argentina tem interesse em receber investimentos estrangeiros, mas
não "os piores do mundo". Os
postos da Shell passaram a ser
ocupados diariamente por manifestantes. A empresa diz que
suas vendas caíram cerca de
30%. A Federação de Empresários de Combustíveis, porém, estima perda de 70% para a Shell.
Kirchner manteve as críticas às
empresas de energia anteontem,
dizendo que elas não previram
devidamente os investimentos
para responder ao aumento do
consumo interno e dos compromissos de exportação.
Embora o presidente argentino tenha afirmado que não iria
permitir "uma escalada inflacionária" quando lançou a ofensiva
contra a Shell, o governo tentou
ontem esvaziar a preocupação
com o retorno da inflação.
"Falamos tanto de uma inflação que não existe, que a única
coisa que estamos fazendo é gerar expectativa naqueles que não
deveriam estar expectantes por
um assunto que, hoje, não é um
problema grave", disse ontem o
chefe de gabinete de Kirchner,
Alberto Fernández.
Fernández falou à imprensa
um dia depois de o ministro Lavagna haver afirmado que a inflação de 2005 ficará entre 8% e
10,5%. Em 2004, o índice na Argentina foi de 6,1%. O teto previsto no orçamento de 2005 é
10,5%, que Roberto Lavagna,
ministro da Economia, ratificou
anteontem.
A projeção de inflação anual
divulgada pelo Banco Central,
no entanto, era de 7,5%, antes
das altas nos índices de janeiro,
fevereiro (acumulado de 2,5%) e
março, estimado em 1%.
Kirchner vem assegurando
sua popularidade interna com o
respaldo dos indicadores econômicos positivos dos últimos
anos. Porém, torna-se cada vez
mais corriqueira entre analistas,
políticos da oposição e na imprensa argentina a análise de
que a atitude desafiadora do presidente ao empresariado afastará do país os investimentos necessários à manutenção do crescimento.
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