São Paulo, sexta-feira, 16 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

análise

Calote destravou a economia, mas teve custos

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PIB (Produto Interno Bruto) da Argentina cresceu mais de 8% pelo quarto ano consecutivo, e é inevitável que os brasileiros perguntem por que o Brasil também não chega lá.
É difícil comparar os dois países. Antes de mais nada, porque a Argentina, em 2003, primeiro ano de crescimento realmente rigoroso, saía da maior crise de sua história -uma das maiores crises de todos os tempos, excluídas grandes guerras e catástrofes naturais.
Apenas entre 1999 e 2002, a economia argentina encolhera 15%. Assim, 2003 e 2004 foram anos em que os argentinos apenas recuperaram o terreno perdido no período de crise.
Até 2005, o que os analistas do setor privado, ou a maioria deles, diziam era que os argentinos estavam apenas usando a capacidade ociosa deixada pela crise e que, tão logo ela fosse completamente esgotada, o crescimento desapareceria por falta de investimento. Mas dois anos depois e alguns aumentos graúdos de investimentos provaram que eles estavam errados.
O que destravou a Argentina? O país tinha um câmbio supervalorizado, uma dívida impagável e a recessão reduzia a arrecadação, alimentando um ciclo vicioso de endividamento. O calote da dívida e a desvalorização da moeda quebraram bancos, geraram uma recessão sem precedentes, levaram à pobreza metade da população.
Mas também abriram caminho para baratear os produtos argentinos, as exportações cresceram, a renegociação diminuiu a dívida e o país voltou a crescer. O governo ainda adota políticas consideradas hostis pelos investidores, e muitos analistas ainda prevêem problemas no futuro. Mas o crescimento se mantém vigoroso.
O grande erro seria concluir daí que o calote da dívida seja algum tipo de solução mágica. A Argentina não tinha opções quando o fez e só deu o passo do calote quando o país entrava em colapso e as pessoas batiam panelas nas ruas. A decisão foi um salto no escuro, e o tombo foi dos grandes.


Texto Anterior: Argentina cresce quase o triplo do Brasil
Próximo Texto: Ativos dos fundos de pensão chegam a 18% do PIB
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.