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análise
Calote destravou a economia, mas teve custos
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O PIB (Produto Interno
Bruto) da Argentina cresceu
mais de 8% pelo quarto ano
consecutivo, e é inevitável
que os brasileiros perguntem
por que o Brasil também não
chega lá.
É difícil comparar os dois
países. Antes de mais nada,
porque a Argentina, em
2003, primeiro ano de crescimento realmente rigoroso,
saía da maior crise de sua
história -uma das maiores
crises de todos os tempos,
excluídas grandes guerras e
catástrofes naturais.
Apenas entre 1999 e 2002,
a economia argentina encolhera 15%. Assim, 2003 e
2004 foram anos em que os
argentinos apenas recuperaram o terreno perdido no período de crise.
Até 2005, o que os analistas do setor privado, ou a
maioria deles, diziam era que
os argentinos estavam apenas usando a capacidade
ociosa deixada pela crise e
que, tão logo ela fosse completamente esgotada, o crescimento desapareceria por
falta de investimento. Mas
dois anos depois e alguns aumentos graúdos de investimentos provaram que eles
estavam errados.
O que destravou a Argentina? O país tinha um câmbio
supervalorizado, uma dívida
impagável e a recessão reduzia a arrecadação, alimentando um ciclo vicioso de endividamento. O calote da dívida e a desvalorização da
moeda quebraram bancos,
geraram uma recessão sem
precedentes, levaram à pobreza metade da população.
Mas também abriram caminho para baratear os produtos argentinos, as exportações cresceram, a renegociação diminuiu a dívida e o país
voltou a crescer. O governo
ainda adota políticas consideradas hostis pelos investidores, e muitos analistas ainda prevêem problemas no
futuro. Mas o crescimento se
mantém vigoroso.
O grande erro seria concluir daí que o calote da dívida seja algum tipo de solução
mágica. A Argentina não tinha opções quando o fez e só
deu o passo do calote quando
o país entrava em colapso e
as pessoas batiam panelas
nas ruas. A decisão foi um
salto no escuro, e o tombo foi
dos grandes.
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