São Paulo, terça-feira, 16 de abril de 2002

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Volta de Chávez é "má notícia" para Wall Street

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A comunidade financeira internacional representada em Wall Street encarou negativamente a volta ao poder do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
"Para os investidores, o retorno é má notícia, não tenha dúvida", disse à Folha o colunista do "Miami Herald" Andres Oppenheimer, especializado em relações internacionais das Américas. Segundo o jornalista, o mercado quer a estabilidade, e o líder venezuelano "representa tudo, menos a estabilidade".
É a opinião também de Nuno Câmara, economista para América Latina do banco Dresdner Kleinwort Wasserstein (DKW) em Nova York.
"Sua volta é negativa por vários fatores", disse o analista à Folha. "O principal deles é perceber que o presidente tinha mais apoio do que o mercado pensava e do que sugeria a imprensa local. Isso e mais toda a sua política econômica afugentam o capital estrangeiro ainda mais do que antes."
Além disso, seu retorno deve significar uma volta à política praticada anteriormente em relação ao petróleo, ou seja, manter os preços altos e em conformidade com a política de cotas da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
O cartel controla dois terços do petróleo negociado no mundo. "A Opep está respirando profundamente aliviada", disse Phil Flynn, analista da Alaron Trading Corporation de Chicago. "Para continuar controlando os preços do petróleo, eles precisam da Venezuela." Até quinta-feira, o alinhamento com a entidade vinha se dando pela restrição de produção por parte da Venezuela.
No breve fim de semana do "governo de transição", o empresário Pedro Carmona havia apresentado um programa para a petrolífera estatal que contemplava a suspensão da venda de óleo para Cuba, o afastamento da Opep e uma aproximação maior aos EUA. Analistas apostavam até numa desregulamentação do setor no país que culminaria com a privatização da empresa.
O peso da Venezuela e a preocupação decorrente de Wall Street vêm do fato de o país ser o terceiro maior exportador de petróleo e derivados para os Estados Unidos e o quarto maior exportador mundial, com uma produção de cerca de 2,5 milhões de barris por dia. Responde sozinho por 7% do consumo total americano.
"O mercado está um pouco paranóico porque vê a Venezuela como um país-chave", disse Leo Drollas, economista-chefe do Centro de Estudos para Energia Global, em Londres. Com ele concorda Paul Horshnell, do J.P.Morgan: "Hugo Chávez está de volta, e isso influencia diretamente o mercado do petróleo".
Judith Evans, presidente da JE Analytica, uma empresa especializada em economia latino-americana baseada em Nova York, vai mais longe. "O problema é que o aspecto psicológico do presidente sempre foi o elemento surpresa deste jogo de pôquer que é a economia da Venezuela", afirmou a analista.


Com agências internacionais

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