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Cotação barata mexe com dia-a-dia de empresas
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Na vida real, os efeitos do tropeço do dólar -que voltou a cair
ontem- começam a ser mais visíveis. Segundo a área de liberação
de cargas e mercadorias da Receita Federal, em Manaus (AM), os
fabricantes de eletroeletrônicos
aceleraram os pedidos de desembaraço de produtos na região.
Normalmente, em grande parte
dos contratos assinados nesse setor, as empresas pagam ao importador quando recebem os componentes, segundo a cotação do dia.
Portanto, quando o dólar fica
"barato", as companhias pagam
menos pela mercadoria importada. Foi por isso que os eletroeletrônicos em geral (celulares, TVs,
DVDs) dispararam de preço no
ano passado, quando o dólar ficou "caro" e ocorreu uma valorização de 53% da moeda norte-americana.
O movimento maior de "desembaraço" de produtos foi percebido em Manaus após o departamento finalizar um balanço
preliminar do dia, informou a gerência local da Receita à Folha.
O que se discute no setor é a
possibilidade de aproveitar a
oportunidade e acelerar a chegada de mercadoria comprada fora.
Com isso, é possível formar um
estoque de insumo mais barato
agora, de olho no tombo do dólar.
"Eu não aceito fazer o jogo do
estoque especulativo. Pode ser
que tenha gente interessada, mas
eu não", disse Afonso Hennel,
presidente da Semp Toshiba, ao
ser questionado sobre o assunto.
"Há setores que estão gostando
bastante da queda do dólar e outros que não estão gostando nadinha", afirmou ontem Fernando
Exel, presidente da consultoria
Economática.
Na lista daqueles menos satisfeitos estão empresas do setor de mineração, papel e celulose, química
e siderurgia e metalurgia.
Barato
Altamente exportadoras, essas
empresas "incharam" seus resultados em 2002 vendendo para fora. Isso porque, na época, a valorização do dólar tornou o produto
nacional mais barato no exterior.
Entre os setores que perderam
receita em 2002 e agora comemoram, ainda que discretamente, a
valorização do real estão o eletrônico, informática e energia.
Companhias de energia elétrica,
por exemplo, são altamente endividadas em dólar. No ano passado, 13 empresas elétricas somaram dívidas de R$ 58,6 bilhões, alta de 12,5% sobre 2001. Como parte dos contratos de empréstimos
(entre as empresas no Brasil e
bancos) tem como base o dólar, a
recente queda ajuda as empresas
a fechar as contas.
Isso, ressaltam os economistas,
se a dívida das companhias tivesse de ser paga nos períodos em
que a moeda americana se desvaloriza. Mas os contratos para pagamento do empréstimo se baseiam em médias mensais.
"No papel, se fizermos as contas hoje, o valor final da dívida das
companhias cai, pois o dólar caiu hoje [ontem]. Mas, na prática, não funciona assim", diz Exel.
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