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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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Cotação barata mexe com dia-a-dia de empresas

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Na vida real, os efeitos do tropeço do dólar -que voltou a cair ontem- começam a ser mais visíveis. Segundo a área de liberação de cargas e mercadorias da Receita Federal, em Manaus (AM), os fabricantes de eletroeletrônicos aceleraram os pedidos de desembaraço de produtos na região.
Normalmente, em grande parte dos contratos assinados nesse setor, as empresas pagam ao importador quando recebem os componentes, segundo a cotação do dia.
Portanto, quando o dólar fica "barato", as companhias pagam menos pela mercadoria importada. Foi por isso que os eletroeletrônicos em geral (celulares, TVs, DVDs) dispararam de preço no ano passado, quando o dólar ficou "caro" e ocorreu uma valorização de 53% da moeda norte-americana.
O movimento maior de "desembaraço" de produtos foi percebido em Manaus após o departamento finalizar um balanço preliminar do dia, informou a gerência local da Receita à Folha.
O que se discute no setor é a possibilidade de aproveitar a oportunidade e acelerar a chegada de mercadoria comprada fora. Com isso, é possível formar um estoque de insumo mais barato agora, de olho no tombo do dólar.
"Eu não aceito fazer o jogo do estoque especulativo. Pode ser que tenha gente interessada, mas eu não", disse Afonso Hennel, presidente da Semp Toshiba, ao ser questionado sobre o assunto.
"Há setores que estão gostando bastante da queda do dólar e outros que não estão gostando nadinha", afirmou ontem Fernando Exel, presidente da consultoria Economática.
Na lista daqueles menos satisfeitos estão empresas do setor de mineração, papel e celulose, química e siderurgia e metalurgia.

Barato
Altamente exportadoras, essas empresas "incharam" seus resultados em 2002 vendendo para fora. Isso porque, na época, a valorização do dólar tornou o produto nacional mais barato no exterior.
Entre os setores que perderam receita em 2002 e agora comemoram, ainda que discretamente, a valorização do real estão o eletrônico, informática e energia.
Companhias de energia elétrica, por exemplo, são altamente endividadas em dólar. No ano passado, 13 empresas elétricas somaram dívidas de R$ 58,6 bilhões, alta de 12,5% sobre 2001. Como parte dos contratos de empréstimos (entre as empresas no Brasil e bancos) tem como base o dólar, a recente queda ajuda as empresas a fechar as contas.
Isso, ressaltam os economistas, se a dívida das companhias tivesse de ser paga nos períodos em que a moeda americana se desvaloriza. Mas os contratos para pagamento do empréstimo se baseiam em médias mensais.
"No papel, se fizermos as contas hoje, o valor final da dívida das companhias cai, pois o dólar caiu hoje [ontem]. Mas, na prática, não funciona assim", diz Exel.


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