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São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2003

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Produtor de soja ganha menos com queda do dólar

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Um setor da economia olha com apreensão a queda do dólar nestes dias: a agricultura. Os mais preocupados nesse setor são os produtores de soja.
Por ironia, foi esse setor que deu sustentação ao saldo comercial brasileiro no ano passado e que deve ser o grande salvador deste ano, gerando US$ 8 bilhões. Mas acaba de ser uma vítima da queda da moeda norte-americana.
Todo ano, durante o plantio, ou mesmo antes dele, os produtores vendem parte de sua safra para cooperativas, esmagadoras de soja, multinacionais ou outras empresas do setor. Essas vendas são feitas, em geral, em dólares para pagamento no final de abril.
No ano passado, estima-se que 35% da safra tenha sido vendida nessa modalidade. Ou seja, cerca de 18 milhões de toneladas -a produção nacional deve atingir 51 milhões de toneladas neste ano.
Os produtores esperavam o dólar próximo de R$ 3,60 para o final deste mês, o que lhes garantiria R$ 36 por saca, já que os contratos foram feitos, em média, a US$ 10 por saca. A queda do dólar para um patamar próximo de R$ 3,10 no final do mês pode significar redução de R$ 5 por saca.
Essa queda cambial no momento em que os produtores estão para receber as vendas feitas no ano passado vai provocar redução de receitas de pelo menos R$ 1,5 bilhão para eles. A R$ 36 por saca, uma tonelada de soja valeria R$ 600. Com a saca valendo R$ 31, esse valor recua para R$ 517.
O maior problema, reclamam os produtores, é que o plantio foi feito exatamente no período do pico do dólar no último trimestre do ano passado. Os insumos têm uma relação direta com o dólar e, portanto, os custos foram elevados. Plantaram com o dólar em alta e vão vender parte da produção com o dólar em queda.

Ganho será menor
Apesar desse cenário adverso, os produtores de soja não vão perder dinheiro. Vão ganhar menos. Isso porque a demanda externa continua aquecida e a Bolsa de Chicago -local onde é determinado o preço do produto- está registrando preços recordes para este período do ano.
Ontem, o contrato de maio fechou a US$ 6,105 por bushel (27,2 quilos), com alta de 0,5% em relação aos valores de segunda-feira.
Mesmo com a queda do dólar, os produtores de soja vão ter lucro de 15% a 30% quando comparados os custos e as receitas referentes à safra 2002/3. Lucram mais os que obtiverem produtividade maior.
Assim como os produtores de soja poderão ter perda de receita com o recuo do dólar neste final de mês, os demais setores exportadores do agronegócio também perderão se a queda da moeda norte-americana for prolongada.
Os produtos brasileiros, com o aumento do valor do real, perdem competitividade no mercado externo. Poderá haver, no entanto, maior oferta interna de produto, e consequente redução dos preços.


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