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Produtor de soja ganha menos com queda do dólar
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Um setor da economia olha
com apreensão a queda do dólar
nestes dias: a agricultura. Os mais
preocupados nesse setor são os
produtores de soja.
Por ironia, foi esse setor que deu
sustentação ao saldo comercial
brasileiro no ano passado e que
deve ser o grande salvador deste
ano, gerando US$ 8 bilhões. Mas
acaba de ser uma vítima da queda
da moeda norte-americana.
Todo ano, durante o plantio, ou
mesmo antes dele, os produtores
vendem parte de sua safra para
cooperativas, esmagadoras de soja, multinacionais ou outras empresas do setor. Essas vendas são
feitas, em geral, em dólares para
pagamento no final de abril.
No ano passado, estima-se que
35% da safra tenha sido vendida
nessa modalidade. Ou seja, cerca
de 18 milhões de toneladas -a
produção nacional deve atingir 51
milhões de toneladas neste ano.
Os produtores esperavam o dólar próximo de R$ 3,60 para o final deste mês, o que lhes garantiria R$ 36 por saca, já que os contratos foram feitos, em média, a
US$ 10 por saca. A queda do dólar
para um patamar próximo de R$
3,10 no final do mês pode significar redução de R$ 5 por saca.
Essa queda cambial no momento em que os produtores estão para receber as vendas feitas no ano
passado vai provocar redução de
receitas de pelo menos R$ 1,5 bilhão para eles. A R$ 36 por saca,
uma tonelada de soja valeria R$
600. Com a saca valendo R$ 31, esse valor recua para R$ 517.
O maior problema, reclamam
os produtores, é que o plantio foi
feito exatamente no período do
pico do dólar no último trimestre
do ano passado. Os insumos têm
uma relação direta com o dólar e,
portanto, os custos foram elevados. Plantaram com o dólar em
alta e vão vender parte da produção com o dólar em queda.
Ganho será menor
Apesar desse cenário adverso,
os produtores de soja não vão
perder dinheiro. Vão ganhar menos. Isso porque a demanda externa continua aquecida e a Bolsa
de Chicago -local onde é determinado o preço do produto- está registrando preços recordes para este período do ano.
Ontem, o contrato de maio fechou a US$ 6,105 por bushel (27,2
quilos), com alta de 0,5% em relação aos valores de segunda-feira.
Mesmo com a queda do dólar,
os produtores de soja vão ter lucro de 15% a 30% quando comparados os custos e as receitas referentes à safra 2002/3. Lucram
mais os que obtiverem produtividade maior.
Assim como os produtores de
soja poderão ter perda de receita
com o recuo do dólar neste final
de mês, os demais setores exportadores do agronegócio também
perderão se a queda da moeda
norte-americana for prolongada.
Os produtos brasileiros, com o
aumento do valor do real, perdem
competitividade no mercado externo. Poderá haver, no entanto,
maior oferta interna de produto, e
consequente redução dos preços.
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