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Debate sobre juros anula medida cambial
Enquanto BC e Fazenda divergem, mercado incorpora previsão de alta na Selic ao exigir ganhos maiores em título público prefixado
Aumento no retorno aos investidores trouxe de volta atrativo perdido após a taxação com IOF, adotada pelo governo em março
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O veredicto do Banco Central
sobre o rumo dos juros só sairá
no final do dia de hoje, mas o
debate das últimas semanas na
equipe econômica sobre uma
possível alta na taxa Selic já foi
suficiente para causar estragos
ao próprio governo.
Enquanto o ministro Guido
Mantega (Fazenda) e o presidente do BC, Henrique Meirelles, desentendiam-se a respeito do assunto, o mercado incorporou uma alta nos preços que
anulou um dos principais efeitos pretendidos com o pacote
cambial, anunciado em março.
Ao cobrar 1,5% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) do investidor estrangeiro que vem para o país comprar
títulos públicos, o governo queria encarecer a operação, que
havia ficado ainda mais rentável após o fim da CPMF.
A idéia era dificultar a vida
daqueles que tomam emprestado dinheiro barato lá fora e
aplicam no Brasil para ganhar
com o diferencial de juros do
país e, com isso, fazem o real se
valorizar diante do dólar, prejudicando os exportadores.
No entanto, com a ameaça
cada vez mais forte de uma elevação dos juros pelo Copom
(Comitê de Política Monetária), o mercado financeiro passou a exigir antecipadamente
ganhos maiores nas negociações com títulos prefixados.
O resultado foi que a rentabilidade de um dos papéis mais
procurados pelos estrangeiros,
com vencimento em 2017, subiu de 12,5% ao ano, antes do
pacote cambial de março, para
13,44% ao ano.
Esse aumento trouxe de volta o atrativo perdido após a taxação do IOF. O imposto é cobrado uma única vez, na hora
em que o investidor ingressa no
país. Se consideramos que ele
fica por aqui um prazo médio
superior a três anos, seria possível diluir esse custo em 0,5%
ao ano. A alta verificada na rentabilidade anual é praticamente três vezes esse valor.
Assim, a decisão de vir ou não
para o país volta a ser muito
mais uma questão pessoal de
estar disposto a correr o risco
Brasil para obter ganhos elevados com os juros altos do que
um desestímulo por parte de
uma política de governo.
Segundo o economista Roberto Padovani, do banco
WestLB, há uma certa aversão
ao risco hoje que tem afetado o
fluxo desses investidores para o
Brasil, mas eles deverão retornar. "Há um excesso de capital
no mundo em busca de gordas
rentabilidades". Nesse caso, a
taxa de câmbio voltará a cair, e
a conta ficará com o Tesouro,
que já está pagando mais caro
para vender seus papéis. Para
ele, a situação é fruto das políticas desencontradas da equipe
econômica. Enquanto o BC mira apenas na inflação contando
com o juros como principal instrumento, a Fazenda está preocupada com o efeito da apreciação cambial nas exportações.
O BC, na opinião do senador
Aloizio Mercadante (PT-SP),
ficou refém das ameaças que
fez de subir os juros e agora corre risco de perder credibilidade
se não o fizer. "Por isso, a melhor resposta do Copom hoje às
pressões para elevar os juros
seria cravar um viés de alta."
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