São Paulo, quarta-feira, 16 de abril de 2008

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Debate sobre juros anula medida cambial

Enquanto BC e Fazenda divergem, mercado incorpora previsão de alta na Selic ao exigir ganhos maiores em título público prefixado

Aumento no retorno aos investidores trouxe de volta atrativo perdido após a taxação com IOF, adotada pelo governo em março


SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O veredicto do Banco Central sobre o rumo dos juros só sairá no final do dia de hoje, mas o debate das últimas semanas na equipe econômica sobre uma possível alta na taxa Selic já foi suficiente para causar estragos ao próprio governo.
Enquanto o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o presidente do BC, Henrique Meirelles, desentendiam-se a respeito do assunto, o mercado incorporou uma alta nos preços que anulou um dos principais efeitos pretendidos com o pacote cambial, anunciado em março.
Ao cobrar 1,5% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) do investidor estrangeiro que vem para o país comprar títulos públicos, o governo queria encarecer a operação, que havia ficado ainda mais rentável após o fim da CPMF.
A idéia era dificultar a vida daqueles que tomam emprestado dinheiro barato lá fora e aplicam no Brasil para ganhar com o diferencial de juros do país e, com isso, fazem o real se valorizar diante do dólar, prejudicando os exportadores.
No entanto, com a ameaça cada vez mais forte de uma elevação dos juros pelo Copom (Comitê de Política Monetária), o mercado financeiro passou a exigir antecipadamente ganhos maiores nas negociações com títulos prefixados.
O resultado foi que a rentabilidade de um dos papéis mais procurados pelos estrangeiros, com vencimento em 2017, subiu de 12,5% ao ano, antes do pacote cambial de março, para 13,44% ao ano.
Esse aumento trouxe de volta o atrativo perdido após a taxação do IOF. O imposto é cobrado uma única vez, na hora em que o investidor ingressa no país. Se consideramos que ele fica por aqui um prazo médio superior a três anos, seria possível diluir esse custo em 0,5% ao ano. A alta verificada na rentabilidade anual é praticamente três vezes esse valor.
Assim, a decisão de vir ou não para o país volta a ser muito mais uma questão pessoal de estar disposto a correr o risco Brasil para obter ganhos elevados com os juros altos do que um desestímulo por parte de uma política de governo.
Segundo o economista Roberto Padovani, do banco WestLB, há uma certa aversão ao risco hoje que tem afetado o fluxo desses investidores para o Brasil, mas eles deverão retornar. "Há um excesso de capital no mundo em busca de gordas rentabilidades". Nesse caso, a taxa de câmbio voltará a cair, e a conta ficará com o Tesouro, que já está pagando mais caro para vender seus papéis. Para ele, a situação é fruto das políticas desencontradas da equipe econômica. Enquanto o BC mira apenas na inflação contando com o juros como principal instrumento, a Fazenda está preocupada com o efeito da apreciação cambial nas exportações.
O BC, na opinião do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), ficou refém das ameaças que fez de subir os juros e agora corre risco de perder credibilidade se não o fizer. "Por isso, a melhor resposta do Copom hoje às pressões para elevar os juros seria cravar um viés de alta."


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