DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo criará um novo departamento no Itamaraty para ficar responsável pelas negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e com a União Européia, simbolizando que trata os dois assuntos com igual importância. A decisão esvazia parte das atribuições do chefe da Subsecretaria Geral de Assuntos de Integração, Econômicos e de Comércio Exterior, embaixador Clodoaldo Hugueney Filho.
O novo departamento será subordinado à Subsecretaria Geral para Assuntos da América do Sul, que está em processo de implementação e será chefiada pelo embaixador Luiz Felipe Macedo Soares.
Segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Ricardo Neiva Tavares, a nova estrutura pretende garantir uma maior coordenação do Brasil com os seus sócios do Mercosul nas duas frentes de negociação.
O Itamaraty aposta que, com a vitória de Néstor Kirchner na Argentina, o diálogo com seu principal parceiro no Mercosul será facilitado, como já vinha ocorrendo desde a posse do presidente Eduardo Duhalde.
O cargo de principal negociador brasileiro na Alca e na União Européia será do embaixador Carlos Alberto Simas Magalhães, que já exerce a função e assumirá o novo Departamento de Negociações Comerciais Internacionais.
Hugueney teve de deixar a posição de principal negociador quando assumiu, no final do ano passado, o cargo de co-presidente da Alca. Ele será, no entanto, afastado dessa função.
O ministro Celso Amorim procura no momento um nome para substituir Hugueney na co-presidência da Alca. O embaixador Álvaro Alencar chegou a ser cogitado para o cargo, mas, devido às suas atuais atribuições, decidiu-se que não seria possível que acumulasse mais essa posição.

Divergências
Hugueney perdeu espaço, entre outras razões, pelas suas divergências com o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, um dos embaixadores mais contrários à Alca. Hugueney, que, segundo Amorim, continua no cargo, tratará principalmente das negociações na OMC (Organização Mundial do Comércio). Ele assumiu sua subsecretaria ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso.
O atual governo tem enfatizado um ponto que não fazia parte da agenda do anterior: quer uma Alca sem regras que limitem o espaço para implementar as políticas industrial e de desenvolvimento. Tenta também na OMC mudar as atuais normas que impedem esses tipos de ação.
Guimarães ganhou notoriedade em 2001, depois de ter sido demitido pelo governo anterior do cargo de diretor do Ipri (Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais) após publicar um estudo no qual sugeria que o Brasil abandonasse as negociações da Alca, numa posição divergente da do Itamaraty na época.


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