|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
16 de junho de 2007
JOÃO SAYAD
Brasília, 16 de junho de 2007.
Começou hoje o seminário
"Dez Anos Depois", uma das
festividades programadas para
o aniversário das reformas
constitucionais de 1998, reunindo antigos políticos e membros
do governo brasileiro do período de 1995 a 2002, o qual os
historiadores convencionaram
chamar de "era tucana".
O seminário está se realizando nas dependências do Cebrap, centro de pesquisas fundado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, hoje
sediado na Universidade de
Brasília.
O ex-presidente, sempre
bem-humorado, veio diretamente de Paris, onde está morando, para a abertura do seminário, que reuniu também intelectuais e lideranças do Partido
da Frente Socialista Liberal, o
maior partido da América Latina, segundo declarações do presidente Luís Eduardo Magalhães.
A primeira palestra tratou do
tema Reforma da Previdência
Social, órgão extinto em 2002. O
expositor mostrou, por meio de
dados e tabelas, que, com o resultado da reforma de 98, o Estado brasileiro não gasta mais
nenhum tostão com o pagamento de aposentadorias.
Todos os inativos estão sendo
pagos ou por fundos privados
de previdência ou pelos recursos
decorrentes da venda de estatais e outros ativos que pertenciam à União.
A exposição foi um elogio rasgado à reforma empreendida
em 98, concluindo que hoje os
fundos de pensão administram
recursos de US$ 500 bilhões. A
previdência privatizada desonerou o setor público das despesas com inativos.
Entretanto, com o envelhecimento da população e o lento
crescimento do emprego, acabou pagando aposentadorias
menores, embora esteja se esforçando para encontrar novas
fontes de rentabilidade. Grande
parte desses recursos acabou se
destinando a investimentos no
exterior face às perspectivas
mais atraentes de retorno e rentabilidade.
Os fundos de pensão brasileiros acabam de comprar dos japoneses o Rockfeller Center.
Aguardam também a criação
do euro na Europa para investir
na Comunidade Econômica Européia e em "venture capital"
no Sri Lanka.
A segunda palestra analisou a
reforma administrativa. O professor Bresser Pereira, ex-ministro da Reforma Administrativa,
lançou o livro "Reforma do Estado e o Socialismo Liberal".
Lembrou que hoje o Estado
brasileiro gasta apenas 50% das
receitas de impostos com pagamento de pessoal, apesar da redução generalizada dos impostos federais, estaduais e municipais decorrente do esforço de
combate à recessão de 1999.
Infelizmente, o governo brasileiro não conseguiu atrair talentos para administrar investimentos e despesas correntes na
área social -que continua sendo o ponto fraco das administrações públicas-, pois os salários e a imagem do setor público
continuam sendo pouco atraentes para as novas gerações.
Entre as obras públicas notáveis que se tornaram viáveis depois da reforma administrativa,
foi destacada a finalização do
anel viário de São Paulo, de 180
km de extensão, que permitiu o
retorno da circulação de carros
em São Paulo depois do grande
congestionamento de 98, que
parou São Paulo, Campinas,
São José dos Campos e até o Rio
de Janeiro.
Como foi noticiado ontem na
Folha (15/6/2007), os 40 quilômetros de vias suspensas do
anel viário foram invadidos pelos sem-teto da Grande São
Paulo, do Grande Rio e do Vale
do Paraíba. Os contingentes policiais dos dois Estados não foram suficientes para conter a
invasão.
O ponto culminante do seminário foi a avaliação do desemprego macroeconômico do país
depois do Plano Real. A inflação do período ficou, em média,
abaixo de 3% ao ano e a taxa
de crescimento foi de apenas
2% ao ano no período.
O lento crescimento foi atribuído ao pequeno tamanho do
mercado interno depois dos
cortes de gastos públicos e ao
fiasco do desempenho das exportações.
O balanço de conta corrente,
depois de muitos anos de preocupação, quando tivemos déficits de até US$ 35 bilhões, passou a apresentar grandes superávits depois da recessão de
1999.
Hoje o país tem a taxa de formação de poupança da ordem
de 45% do Produto Interno
Bruto e grandes superávits em
conta corrente. As exportações
cresceram pouco, mas as importações caíram bastante com a
recessão de 1999.
O grosso da poupança nacional é realizado pelos brasileiros
que emigraram a partir do início do século para Miami e Califórnia, nos Estados Unidos,
Chile e Colômbia, na América
Latina, e Japão, Austrália, Taiwan e Cingapura, no Oriente.
O seminário foi transmitido
em tempo real por telões para
as comunidades de brasileiros
no mundo inteiro.
João Sayad, 51, economista, professor da
Faculdade de Economia e Administração da
USP e ex-ministro do Planejamento (governo
José Sarney), escreve às segundas-feiras nesta
coluna. E-mail: jsayad@ibm.net
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|