São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

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Para mercado, o aperto fiscal deve ser maior

DA REPORTAGEM LOCAL

O aperto fiscal anunciado na semana passada pode ter mostrado a preocupação do governo com a dívida pública, mas ainda não será capaz de evitar seu crescimento. Isso explica, em parte, a tensão que ainda prevalece no mercado financeiro e que levou dólar e risco-país a subirem novamente na sexta-feira passada.
Estimativas de economistas colhidas pelo Banco Central mostram que, no último dia 7, o cenário esperado para este ano era de: PIB (Produto Interno Bruto) em queda, próximo a 2%; juros reais médios de 11,87% em 2002; taxa de câmbio média de US$ 2,53.
Nesse contexto, o superávit primário (indicador que contabiliza receitas menos despesas do governo, sem incluir gastos com juros) necessário para frear a expansão continuada da dívida pública é superior a 4% do PIB (Produto Interno Bruto). A conta foi feita pelo BBV Banco.
O número está além, portanto, do superávit de 3,75% que o governo passou a perseguir para este ano, de acordo com anúncio feito na quinta-feira passada. Antes, a meta era de 3,5% do PIB.
Não por acaso, o FMI (Fundo Monetário Internacional) queria que o governo aumentasse a meta para, pelo menos, 4%.
Segundo analistas, no entanto, a capacidade de o governo brasileiro conseguir um superávit superior a 3,75% é muito limitada. Afinal, os custos políticos dessa medida-que poderia implicar em gastos menores para áreas como saúde e educação-seriam muito altos. Isso valerá também para o próximo governo.
Essa dificuldade em conter o crescimento da dívida pública põe mais fogo no caldeirão de paranóias do mercado financeiro.
O cenário pode piorar ainda mais se o câmbio continuar pressionado durante muito tempo e ultrapassar a média de US$ 2,53 esperada para 2002.
Segundo estimativas do BBV, com as demais previsões para PIB e juros reais estáveis, mas o câmbio médio em US$ 2,60, o aperto fiscal necessário para conter o crescimento da dívida pública seria, por exemplo, de 4,9%.
Mas, segundo economistas, a preocupação do mercado financeiro com a dívida pública é acentuada pelas incertezas eleitorais.
"A dívida ganha o contorno de um grande problema porque o mercado questiona o compromisso de um próximo governo com o seu pagamento", diz Fernando Barbosa, economista do BBV Banco. (ÉRICA FRAGA)



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