São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

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DEPOIS DO CALMANTE

Estrategista do JP Morgan, que define o índice, diz que realidade do Brasil é melhor que os 1.315 pontos

Mercado exagera, diz "homem risco-país"


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

"O risco-país não reflete a realidade da economia brasileira", diz o analista Graham Stock. A opinião não é inédita e dela compartilham outros economistas. A diferença é que Stock é o estrategista-chefe de mercado para a América Latina do mesmo JP Morgan que define o risco-país.
A declaração, feita à Folha, vem no final de uma semana em que o risco-país brasileiro fechou em 1.315 pontos, o maior patamar desde março de 1999. É o quarto maior do mundo, atrás apenas da Argentina (6.366 pontos), Nigéria (1.469 pontos) e Equador (1.331).
O risco-país mede, em centésimos de pontos percentuais, a diferença entre os juros pagos pelos títulos da dívida de um país em comparação com os do Tesouro dos EUA, de risco zero. Na prática, é um termômetro da confiança do investidor externo no país.
"Acreditamos que a realidade [brasileira" é mais favorável do que esta, que os fundamentos são melhores e se fortaleceram nas últimas semanas", disse Stock. Leia trechos da entrevista:
 

Folha - Segundo o JP Morgan, o Brasil tem hoje o quarto maior risco-país do mundo. O sr. acha que isso realmente reflete a realidade da economia brasileira?
Graham Stock -
Não. Acreditamos que a realidade é mais favorável do que esta, acreditamos que os fundamentos macroeconômicos são melhores e se fortaleceram nas últimas semanas. Acreditamos que as medidas econômicas tomadas anteontem são um passo na direção certa e ajudarão a acalmar o mercado e que o resultado eleitoral será favorável para que a reforma no Brasil continue acontecendo.

Folha - Por que então o aumento repentino do risco?
Stock -
A principal razão foi o deslocamento dos mercados locais, causado inicialmente pelas mudanças nos fundos. Isso fez aumentar a preocupação com a renegociação da dívida interna. Mas acima de tudo isso está a preocupação com a dinâmica da dívida brasileira.

Folha - Então não é verdade que o crescimento de Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas de intenção de voto seja o maior problema da economia brasileira neste momento aos olhos do mercado externo?
Stock -
Não. Principalmente porque nos últimos dias o risco da vitória de Lula já não parece mais tão real. Todas as pesquisas que temos visto apontam que a diferença entre ele e José Serra está diminuindo, portanto é complicado concluir que a crise atual vem daí. A causa principal foi a falta de confiança no mercado interno. Assim, o grande desafio para as autoridades nos próximos dias será restaurar a confiança do mercado local.

Folha - O sr. acha que as medidas anunciadas na quinta-feira colaboram para isso?
Stock -
São um passo na direção certa, pois apontam que o governo está mesmo interessado em atingir uma disciplina fiscal. Achei acertada principalmente a decisão de utilizar mais recursos do FMI para enfatizar para os mercados externos que a posição do Brasil é razoavelmente forte. Acredito, portanto, que são passos positivos, mas, para garantir que terão o efeito desejado, será preciso ver mais leilões bem-sucedidos da dívida interna do que vimos nos últimos dias.

Folha - Por falar nisso, os analistas nova-iorquinos têm sofrido muita pressão por suas previsões, nem sempre isentas ou acertadas...
Stock -
Se você não se incomodar, prefiro não comentar.



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