São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DEPOIS DO CALMANTE
Em quase oito anos, país tomou US$ 17 bi emprestados do Fundo; só US$ 12,8 bi foram devolvidos
Anos FHC rendem ao FMI US$ 1 bi de juros

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil pagou US$ 1 bilhão pela ajuda recebida do FMI ao longo do mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Esse foi o total de juros pagos ao Fundo Monetário Internacional pelos empréstimos a que o governo precisou recorrer nos últimos anos para enfrentar a desconfiança dos investidores.
Nos quase oito anos do governo FHC, o Brasil tomou cerca de US$ 17 bilhões emprestados do FMI. O número não inclui o novo saque de US$ 10 bilhões, anunciado na última quarta-feira, que deve ser efetuado nos próximos dias.
Desse total, aproximadamente US$ 12,8 bilhões já foram devolvidos. Além disso, o Brasil já havia pago, até o mês passado, US$ 1 bilhão em juros. Segundo o FMI, o Brasil ainda precisa pagar US$ 380 milhões em juros nos próximos cinco anos. Essa estimativa deve ser revista para cima depois de efetivado o empréstimo de US$ 10 bilhões.
O atual governo recorreu ao FMI pela primeira vez no final de 1998, ainda sob os efeitos da crise russa. Depois que a Rússia deu um calote em sua dívida, o mercado passou a desconfiar dos países emergentes. No Brasil, o câmbio ainda era fixo e o país passou a sofrer um ataque especulativo que culminaria com a desvalorização do real, em janeiro de 1999.
Em dezembro de 1998, FMI, Banco Mundial, BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e bancos centrais de vários países desenvolvidos se uniram para oferecer ao Brasil uma linha de crédito de US$ 41,5 bilhões.
A parte do FMI nesse bolo correspondia a US$ 17,5 bilhões, sendo que US$ 12,8 bilhões foram efetivamente sacados pelo Brasil. Os juros variavam de 4% a 7%, dependendo da linha de crédito oferecida pelo Fundo. Em alguns casos, o pagamento só começa a ser feito três anos após o saque.
O acordo de 1998 terminaria em 2001, mas foi estendido até setembro deste ano. A prorrogação deu ao Brasil direito a uma nova linha de crédito no valor de US$ 15,7 bilhões, incluindo uma pequena parte do empréstimo anterior que não chegou a ser sacada. Desse total, o país já sacou quase tudo.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Amaury Bier, disse que existe a possibilidade de o Brasil pegar mais recursos do FMI, mas que, como "estamos no final do governo e isso envolveria uma extensão do acordo ou um novo acordo, o ministro Pedro Malan [Fazenda" já deixou claro que não vê com simpatia a idéia de que esse governo negocie algo que vá afetar o próximo", que assume em janeiro de 2003.
Para ele, a vantagem de recorrer aos empréstimos do FMI está justamente nos juros cobrados, que são mais baixos do que os praticados no mercado internacional. Em geral, o governo brasileiro paga juros de 10% ao ano nos empréstimos obtidos no mercado.
O dinheiro dos juros pagos pelo Brasil é usado pelo FMI nos seus programas de assistência a países em dificuldades. Teoricamente, a utilização desses recursos é decidida por meio de votação entre todos os membros do Fundo.


Texto Anterior: Temor é credor querer se livrar de papéis logo
Próximo Texto: Artigo - Martin Wolf: Ajuste da bolha dos anos 90 pode mal ter começado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.