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CAMPO DOS SONHOS
Impulsionado por soja e algodão, PIB da cidade deve crescer 7% neste ano; no país, previsão é de 1,6%
Agronegócio enriquece Rio Verde, Goiás
CÍNTIA CARDOSO
ENVIADA ESPECIAL A RIO VERDE (GO)
A pujança do crescimento do
agronegócio brasileiro adquire
contornos ainda mais expressivos
quando o seu impacto é medido
nas cidades que dependem diretamente dos "agrodólares".
Localizada no sudoeste de
Goiás, Rio Verde (a 234 km de
Goiânia) mostra o quanto a renda
da agricultura pode se alastrar
não apenas para os grandes proprietários, mas também para o
restante da população.
Impulsionada pelos negócios da
soja e do algodão, a cidade tem
um PIB (Produto Interno Bruto)
estimado de R$ 790 milhões que
deve crescer 7% neste ano. O minguado PIB total do Brasil deve
crescer no máximo 1,6%.
Na esteira desse crescimento,
um dos sinais externos mais notórios da prosperidade de Rio Verde
é a circulação de carros importados. Graças a isso, a revendedora
da Citroën, que chegou à cidade
em 2001, alcançou o primeiro lugar no ranking nacional de vendas (baseado na relação entre número de carros vendidos e tamanho do mercado) da montadora.
Hoje, o faturamento médio da
unidade é de R$ 600 mil, considerado um desempenho surpreendente para uma cidade com população de 140 mil habitantes. Em
2002, foi vendido, em média, um
carro de luxo -na faixa de R$ 100
mil- por mês. "Neste ano, as
vendas devem crescer 40%, devido, principalmente, ao lançamento do novo modelo C3 (aproximadamente R$ 30 mil)", diz Anderson Inácio, gerente da loja.
O boom dos preços da soja no
mercado internacional no ano
passado só veio a dar mais um
empurrão nos negócios da cidade, que estavam em expansão
desde a instalação de uma unidade da Perdigão, em 2000.
"Na época da colheita de soja é
que registramos os picos de venda. Alguns produtores pagam direto com a produção [com cheques de venda antecipada emitidos pelas beneficiadoras de soja
da região]", diz Inácio.
Embora não divulgue números,
a revendedora da Mitsubishi, a
poucos metros da concorrente
francesa, também comemora o
desempenho. Tiago Zancaner Gil,
gerente da loja, afirma que o modelo L200, de R$ 62 mil, é o campeão de vendas.
Grife
O consumo de bens importados
e de roupas de grife dos grandes
centros urbanos, como Fórum,
Zoomp e Triton, é sustentado
com avidez da nova classe média
da região. Já os mais abastados
voam em jatos próprios ou fretados para fazer compras em Goiânia ou mesmo em São Paulo.
Wagner Cabral, professor universitário e promotor de Justiça,
ilustra o perfil da classe média de
Rio Verde. Ele e a mulher, a psicóloga Valéria Cabral, também são
adeptos de carros importados:
"Trocamos de carro todo ano".
O caso de Cabral não é exceção.
Segundo o gerente da Citroën, há
clientes que têm mais de cinco
veículos importados na garagem.
"Aqui ainda não tem muitos lugares para gastar dinheiro, só tem
um cinema, não tem shopping. O
que as pessoas daqui gostam é de
comprar carro importado", afirma Merce Silva, moradora da cidade.
Um outro bom termômetro que
mede o apetite para o consumo
em Rio Verde é o volume de arrecadação do ICMS (Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços) na cidade. No ano passado,
foram arrecadados R$ 21,4 milhões. A previsão de arrecadação
deste ano é de R$ 80 milhões.
As principais empresas da região, ADM, Cargill e Comigo
(maior cooperativa do Centro-Oeste), mantêm firme o ritmo de
investimentos na região. A Perdigão, por exemplo, planeja investir
mais de R$ 200 milhões até 2007
na expansão do parque industrial
no município.
O dinheiro movimentado pela
agricultura trouxe mais de 2.000
empresas para Rio Verde nos últimos dois anos e dois estabelecimentos de ensino superior.
Mas a massa crescente de novos
moradores -15 mil nos últimos
dois anos, segundo estimativas do
secretário de Indústria, Comércio
e Turismo, Avelar Macedo- tem
inflado o custo de vida na cidade.
Migrantes
Os "novos" rio-verdenses que
migram para a cidade, vêm, na
sua maioria, de Santa Catarina e
do Rio Grande do Sul. Boa parte
deles atraído pelos empregos da
Perdigão. "Precisamos importar
mão-de-obra para preencher os
cargos de gerência", explica Nelson Hacklauer, diretor de Desenvolvimento de Negócios.
A prefeitura estima que desde a
instalação da Perdigão, em 2000, a
demanda por imóveis aumentou
20%. Em comparação com Goiânia, por exemplo, o valor de imóveis está bem superior. Em Rio
Verde, é difícil encontrar um
apartamento de dois quartos
-num bairro de classe média-
à venda por menos de R$ 100 mil.
"O preço das casas tem subido
demais. O ritmo de novas construções não acompanha o mercado. Hoje sai mais caro comprar
um apartamento usado que um
novo, na planta", diz Inácio.
A inflação dos preços dos imóveis, porém, não trouxe ainda os
efeitos negativos da urbanização
acelerada. Nas principais ruas da
cidade, aparentemente não há
mendigos. Nos bairros de população de baixa renda, as casas são
simples, mas de tijolo. Porém os
moradores relatam que já perceberam aumento no número de
pedintes. A maioria, dizem, é
egressa de outras cidades.
Se é difícil coibir o afluxo de pessoas sem emprego para a cidade, a
prefeitura afirma que pretende
qualificar a mão-de-obra nativa.
A prefeitura diz investir 30% da
arrecadação no ensino fundamental, além de conceder bolsas
para aprimoramento profissional
de professores universitários.
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