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São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2003

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OPINIÃO ECONÔMICA

Amada terra do Brasil

BENJAMIN STEINBRUCH

Na semana da Pátria, por decreto, o presidente Lula determinou que os estabelecimentos de ensino do país devem hastear solenemente a bandeira nacional pelo menos uma vez por semana.
Segundo explicações do Ministério da Educação, publicadas pela Folha, não foi uma determinação obrigatória. Tratou-se apenas de uma sugestão, que pode ou não ser seguida pelas escolas públicas e privadas. Mesmo assim, Lula recebeu críticas pelo decreto.
É justo que os críticos tenham medo do ufanismo, uma atitude imprópria, de quem se vangloria de maneira exagerada das qualidades nacionais. Mas não é certo que, por medo do ufanismo, procure-se impedir o combate ao complexo de inferioridade e à baixa auto-estima que caracterizam o comportamento dos brasileiros nas últimas décadas.
Nada há de errado em recomendar aos estudantes brasileiros que hasteiem a bandeira nacional, cantem o hino, sejam patriotas e cultivem um nacionalismo sadio. O erro de quem critica esse comportamento está em confundir nacionalismo com ufanismo -esse, sim, intolerável.
Na economia, o cultivo do sentimento nacional serve a múltiplos objetivos. Por mais que tenha avançado a onda de globalização, o aparato institucional dos Estados nacionais está preservado. Autonomia se mede hoje, em grande parte, pelo volume de reservas em moeda forte e pelos resultados dos balanços de pagamentos. A China mantém-se autônoma não só pela sua tradição milenar mas também porque exibe reservas de US$ 356 bilhões. A Rússia, a despeito do desmoronamento do socialismo e de sua moratória recente, recuperou a autonomia porque tem um saldo de US$ 36 bilhões em conta corrente e reservas de US$ 64 bilhões.
Então, o nacionalismo pode fazer muito pela autonomia dos países. Pode, por exemplo, abrir os olhos da sociedade para o fato de que se deve incentivar a criação e a expansão de empresas competitivas internacionalmente, que exportem e recolham divisas para o país.
O nacionalismo serve também para que o país tenha iniciativa e coragem para defender seus interesses nos fóruns internacionais, como ocorreu na semana passada na reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio), em Cancún. Grande produtor agrícola, o Brasil poderia ser muito mais autônomo se os países ricos não praticassem um arrogante protecionismo, que atola os produtores locais com subsídios bilionários. Essa política impede o país de aumentar suas exportações, obter dólares e acumular reservas em moeda forte.
Sem nenhum nacionalismo, também não haverá investimentos pesados na educação, para promover aquilo que os economistas chamam de desenvolvimento endógeno. A longo prazo -isso é indiscutível-, a formação educacional de um povo por meio da criação de escolas de nível mundial é o principal fator para a promoção do crescimento econômico.
Nada disso é possível se o país continuar a cultivar complexos de inferioridade, que nos levam até a criticar uma recomendação de que as escolas hasteiem solenemente a bandeira nacional. Não há mal nenhum -muito pelo contrário- em ensinar a crianças e jovens os versos de Olavo Bilac no Hino à Bandeira Nacional: "Recebe o afeto que se encerra/ Em nosso peito juvenil/Querido símbolo da terra/Da amada terra do Brasil".


Benjamin Steinbruch, 50, empresário, é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.

E-mail - bvictoria@psi.com.br


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