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OPINIÃO ECONÔMICA
Amada terra do Brasil
BENJAMIN STEINBRUCH
Na semana da Pátria, por
decreto, o presidente Lula
determinou que os estabelecimentos de ensino do país devem
hastear solenemente a bandeira
nacional pelo menos uma vez por
semana.
Segundo explicações do Ministério da Educação, publicadas pela Folha, não foi uma determinação obrigatória. Tratou-se apenas
de uma sugestão, que pode ou
não ser seguida pelas escolas públicas e privadas. Mesmo assim,
Lula recebeu críticas pelo decreto.
É justo que os críticos tenham
medo do ufanismo, uma atitude
imprópria, de quem se vangloria
de maneira exagerada das qualidades nacionais. Mas não é certo
que, por medo do ufanismo, procure-se impedir o combate ao
complexo de inferioridade e à
baixa auto-estima que caracterizam o comportamento dos brasileiros nas últimas décadas.
Nada há de errado em recomendar aos estudantes brasileiros que hasteiem a bandeira nacional, cantem o hino, sejam patriotas e cultivem um nacionalismo sadio. O erro de quem critica
esse comportamento está em confundir nacionalismo com ufanismo -esse, sim, intolerável.
Na economia, o cultivo do sentimento nacional serve a múltiplos
objetivos. Por mais que tenha
avançado a onda de globalização, o aparato institucional dos
Estados nacionais está preservado. Autonomia se mede hoje, em
grande parte, pelo volume de reservas em moeda forte e pelos resultados dos balanços de pagamentos. A China mantém-se autônoma não só pela sua tradição
milenar mas também porque exibe reservas de US$ 356 bilhões. A
Rússia, a despeito do desmoronamento do socialismo e de sua moratória recente, recuperou a autonomia porque tem um saldo de
US$ 36 bilhões em conta corrente
e reservas de US$ 64 bilhões.
Então, o nacionalismo pode fazer muito pela autonomia dos
países. Pode, por exemplo, abrir
os olhos da sociedade para o fato
de que se deve incentivar a criação e a expansão de empresas
competitivas internacionalmente, que exportem e recolham divisas para o país.
O nacionalismo serve também
para que o país tenha iniciativa e
coragem para defender seus interesses nos fóruns internacionais,
como ocorreu na semana passada
na reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio), em
Cancún. Grande produtor agrícola, o Brasil poderia ser muito
mais autônomo se os países ricos
não praticassem um arrogante
protecionismo, que atola os produtores locais com subsídios bilionários. Essa política impede o
país de aumentar suas exportações, obter dólares e acumular reservas em moeda forte.
Sem nenhum nacionalismo,
também não haverá investimentos pesados na educação, para
promover aquilo que os economistas chamam de desenvolvimento endógeno. A longo prazo
-isso é indiscutível-, a formação educacional de um povo por
meio da criação de escolas de nível mundial é o principal fator
para a promoção do crescimento
econômico.
Nada disso é possível se o país
continuar a cultivar complexos
de inferioridade, que nos levam
até a criticar uma recomendação
de que as escolas hasteiem solenemente a bandeira nacional. Não
há mal nenhum -muito pelo
contrário- em ensinar a crianças e jovens os versos de Olavo Bilac no Hino à Bandeira Nacional:
"Recebe o afeto que se encerra/
Em nosso peito juvenil/Querido
símbolo da terra/Da amada terra
do Brasil".
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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