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São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2003

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Para Lafer, sua gestão iniciou "luta"

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer reagiu ontem às críticas que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva fez à sua gestão no Itamaraty. Segundo ele, a flexibilização que os EUA e a União Européia mostraram em Cancún quanto às negociações para a liberação de importação de produtos agrícolas é resultado do trabalho realizado no governo de Fernando Henrique Cardoso.
"É razoável que se respeite o preceito do Direito Romano que afirma ser preciso dar a cada um o que é seu. Foi no governo Fernando Henrique Cardoso, quando eu era chanceler, que o Brasil passou a defender a abertura do comércio de produtos agrícolas", afirmou Lafer.
O ex-ministro disse que sua gestão no governo FHC também foi marcada pela quebra de patentes de remédios nos casos de grandes necessidades sociais.
"Quebramos os direitos de propriedade dos remédios para Aids, por exemplo. A partir daí é que vieram os genéricos", afirmou.
Lafer disse que a grande vitória do governo Lula em Cancún foi o fortalecimento do G21 (grupo de países em desenvolvimento que inclui o Brasil, a China, a Índia e a Nigéria) nas negociações com os EUA e a União Européia.
Marco Aurélio Garcia, chefe da assessoria especial de Lula, que se encontrou com Lafer em um seminário sobre comércio exterior, não escondia sua euforia com o poder que o Brasil e o G21 conquistaram em Cancún.
"O Brasil liderou o G21 e deu um alerta aos Estados Unidos e à União Européia de que acabou o tempo do "sim, senhor" nas relações internacionais", disse Garcia.
Ele afirmou que o Brasil não ficou apenas em uma posição defensiva em Cancún, mas também adotou uma postura propositiva.
Garcia lamentou, no entanto, que não tenha sido possível chegar a um entendimento. "Isso revela um certo enfraquecimento da OMC, o que não é desejável. Sem ela, é a barbárie."
Para Regis Arslanian, diretor do departamento de negociações internacionais do Ministério das Relações Exteriores, o importante agora "é garantir que a retomada das negociações na OMC ocorra a partir do nível a que se chegou em Cancún {com avanços obtidos pelo G21], no que diz respeito à abertura a produtos agrícolas".
Para a portuguesa Maria João Rodrigues, presidente do conselho das ciências sociais da Comissão Européia, o mundo somente terá um ciclo de crescimento econômico quando a União Européia eliminar restrições a importações de produtos agrícolas. "Essa é minha opinião pessoal. Sei que vai contra o que muita gente da União Européia defende", disse Rodrigues.


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