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Após 13 anos, trabalho infantil aumenta
Em 2005, 11,8% da população de 5 a 17 anos estava ocupada, ante 11,4% no ano anterior; faixa até 14 anos puxa elevação
Segundo IBGE, crise na agricultura explica fenômeno, pois famílias
usam mão-de-obra de crianças para a subsistência
DA SUCURSAL DO RIO
De 2004 para 2005, 202 mil
crianças de 5 a 14 anos passaram a trabalhar no Brasil. Nesse período, elas tomaram parte
do contingente de 2 milhões de
brasileiros que, nessa faixa etária, têm que conciliar estudo e
trabalho ou abandonaram a escola para complementar a renda da família. São, segundo o
IBGE, em sua maioria filhos de
agricultores que foram afetados pela crise no setor e passaram a trabalhar em atividades
não-remuneradas ou para o
próprio consumo.
Foi o aumento do trabalho
nessa faixa etária abaixo de 14
anos que levou o percentual de
jovens e crianças trabalhando a
crescer pela primeira vez desde
1992. Considerando toda a população de 5 a 17 anos, 11,8%
dela estava ocupada em 2005,
percentual 0,4 ponto maior do
que o verificado no ano anterior. Em 1992, esse percentual
chegava a 19,6%.
Olhando apenas para a faixa
etária de 5 a 9 anos, o IBGE
constatou que 1,6% dessas
crianças trabalhavam. A imensa maioria delas (91,3%) estava
em atividades não remuneradas ou de agricultura de subsistência. Na faixa de 10 a 14, uma
em cada dez (10,3%) crianças
trabalhava, também, em sua
maioria (71,2%), em agricultura
de subsistência ou atividades
sem remuneração. De 15 a 17, o
percentual de trabalhadores
aumenta para 30,3%, mas a
maioria (67%) desses trabalhadores jovens já aparece em atividades remuneradas.
Os técnicos do IBGE classificaram esse aumento no trabalho infantil como significativo,
mas explicam que ele está diretamente ligado à crise no setor
agrícola. "A maioria dos trabalhadores nessa faixa até 14 anos
está em atividades agrícolas.
No momento em que esse setor
enfrenta problemas, muitas famílias passam a usar mais mão-de-obra infantil para aumentar
sua produção para o próprio
consumo", explica Vandeli
Guerra, do IBGE.
Pedro Américo de Oliveira,
coordenador nacional do Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil
da OIT (Organização Internacional do Trabalho), diz que o
aumento do trabalho infantil é
preocupante: "O Brasil virou
referência no combate ao trabalho infantil ao conseguir reduzir, desde 1992, o percentual
de crianças trabalhando, mesmo em situações em que houve
piora das condições econômicas. Como explicar que agora,
quando a renda melhora, o trabalho infantil aumente?".
Bolsa-Família e Peti
Para ele, é preciso discutir as
estratégias dos programas Bolsa-Família e Peti (Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil). Ele chama a atenção para o fato de o Bolsa-Família poder gerar um rendimento
maior para a família do que o
Peti. O Peti, no entanto, tem
um enfoque mais específico no
combate ao trabalho infantil.
"Como os programas não podem ser complementados, uma
família com crianças em idade
escolar na área rural vai preferir receber R$ 95 do Bolsa-Família a R$ 75 do Peti. O Bolsa-Família, no entanto, não tem
exigência de que, no contraturno escolar, a criança esteja em
atividades extracurriculares,
ou seja, longe do trabalho, como faz o Peti", diz Oliveira.
Outro ponto que ele levanta e
que dificulta a fiscalização dessa forma de trabalho é que quase todo o trabalho infantil até
14 anos acontece em atividades
informais ou dentro da família,
o que dificulta a fiscalização pelos órgãos públicos. "Não são
setores fáceis de fiscalizar."
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