São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Volta à África é decisão política, diz historiador

DA SUCURSAL DO RIO

A volta das empresas brasileiras à África e o aumento do intercâmbio comercial com o continente são resultado de uma decisão política, na avaliação do historiador e diplomata Alberto da Costa e Silva.
Para Costa e Silva, o país está retomando as iniciativas tomadas na década de 70, quando o embaixador Mario Gibson Barboza liderou missão de aproximação com a África que passou por países como Costa do Marfim, Togo, Benin, Zaire [atual República Democrática do Congo], Gabão, Camarões, Nigéria e Senegal. "Fui embaixador na Nigéria e, na época, até caderno escolar era feito com papel brasileiro."
Segundo o historiador, o Brasil voltou a se aproximar da África nos últimos cinco anos. "A África não é só um mercado estratégico. Ela é um parceiro importante para o Brasil e funciona como nossa fronteira leste. Problemas que ocorrem lá repercutem aqui. Quando havia guerra civil em Angola, para onde vinham os angolanos?", questiona.
O embaixador da Nigéria no Brasil, Kayode Garrick, destaca a importância do aumento da atração de investimentos de países como China, Índia, Malásia e até mesmo do Brasil para o continente africano. "O mundo não está apenas redescobrindo a África, mas começando a reconhecê-la como um parceiro financeiro, onde muito crescimento econômico terá lugar", diz.
O maior acesso do capital internacional à África é resultado de um momento importante de consolidação institucional, na avaliação do embaixador Roberto Jaguaribe, subsecretário-geral político do Ministério de Relações Exteriores. A aproximação do Brasil com o continente pode ser medida pela maior representação de embaixadas. "Ampliamos para 30 e provavelmente teremos 31 embaixadas, o que faz do Brasil um dos países mais representados na África."

Investimentos
Em artigo publicado no "Washington Post", Princeton Lyman, do Conselho de Investimento Estrangeiro, afirma que os EUA têm outras razões além das questões humanitárias para prestar mais atenção na África. Segundo ele, o continente é alvo de investimentos da China, da Índia, da Malásia, da Coréia do Sul, do Brasil e de outros países de crescimento acelerado. O diplomata destaca que a África já responde por 15% das importações de petróleo dos EUA, quase o mesmo patamar que as do Oriente Médio.
Para José Alves Donizeth, professor de ciência política da UnB, especialista em estudos africanos, o continente não está vivendo um momento virtuoso, apesar do acelerado ritmo de crescimento verificado em alguns países. "O que há são matérias-primas baratas e disponíveis. Essa procura maior é natural do sistema capitalista, não é um despertar para a justiça social da África."

Texto Anterior: Falta de infra-estrutura abre espaço a construtoras do país
Próximo Texto: Prateleiras africanas incluem de comida a livros brasileiros
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.