São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bresser critica equipe de FHC e vê moratória

DO PAINEL S.A.

Em artigo de 35 páginas, com duras críticas à equipe econômica do governo, apresentado na segunda-feira num seminário fechado no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, 68, afirma que "existe uma possibilidade concreta de os credores obrigarem o país ao "default" (moratória da dívida)".
Segundo ele, se os credores externos não continuarem a renovar os créditos, o Brasil terá de ser obrigado a suspender o pagamento da dívida. "Espero que os credores externos tomem juízo e voltem a renovar os créditos, senão o Brasil será obrigado a fazer o "default'".
Bresser Pereira diz que o Brasil já tem de começar a pensar num plano B para defender a economia interna. "É fundamental que o governo comece a pensar seriamente numa estratégia para reduzir o prejuízo do país, no caso da moratória."
A decisão do Banco Central de aumentar os juros já foi no sentido de tentar segurar o câmbio para proteger as empresas. "Se o câmbio for para a lua, quebram as empresas", diz.
Bresser Pereira espera, no entanto, que o Brasil não seja obrigado a seguir esse caminho, já que a economia está se recuperando. "O saldo comercial do país neste ano já está acima de US$ 9 bilhões."
Bresser Pereira diz que "a atual crise do balanço de pagamentos está relacionada com as eleições que se avizinham, com a expectativa de vitória da oposição, mas não há dúvida de que ela reflete uma política gravemente equivocada por parte da equipe econômica chefiada pelo ministro Pedro Malan".
De acordo com Bresser Pereira, "nos oito anos a equipe econômica e as elites que ela representa erraram ao adotarem ou apoiarem uma política de altos juros, que impede o investimento enquanto aprofunda o endividamento público, e de câmbio baixo, que produz a felicidade no curto prazo à custa da crise cambial anunciada".
No artigo, Bresser Pereira critica indiretamente também o Departamento de Economia da PUC do Rio pela política econômica do governo. Em nota de rodapé, ele diz que todos os economistas em postos-chaves no governo são originários ou fazem parte do corpo docente da PUC do Rio.
Bresser Pereira diz que o governo FHC pode ser considerado bem-sucedido nos planos social e ético, mas frustrante em termos de desempenho da economia. Ele atribui esse "desastre econômico" a três fatores: uma agenda econômica equivocada, ao Consenso de Washington (a cartilha neoliberal da globalização) e à alienação da elite brasileira.
Para ele, essas três razões explicam também o fato de ser tão difícil eleger o candidato do governo à Presidência.
Bresser Pereira foi ministro da Ciência e Tecnologia e da Administração, no governo FHC, e da Fazenda, no governo Sarney.
(GUILHERME BARROS)

Texto Anterior: FHC foi informado de que a taxa de juro poderia subir
Próximo Texto: Bancos ganham R$ 480 mi com medidas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.