São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 2002

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ÚLTIMOS CARTUCHOS

Ganho é mensal, mas, se juro básico e compulsório se mantiverem, lucro pode chegar a R$ 5,78 bi por ano

Bancos ganham R$ 480 mi com medidas

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os bancos vão ganhar aproximadamente R$ 480 milhões por mês com algumas das medidas tomadas pelo Banco Central para tentar conter a alta do dólar. Se o aumento do recolhimento compulsório e dos juros básicos da economia anunciado nos últimos dias se mantiver por muito tempo, os ganhos podem chegar a R$ 5,78 bilhões por ano.
Na sexta-feira passada, um dia depois de o dólar ultrapassar a barreira dos R$ 4, o BC anunciou uma série de medidas que tinham por objetivo reduzir a margem dos bancos para atuar no mercado de câmbio. Uma delas foi o aumento da alíquota do recolhimento compulsório.
O compulsório é o dinheiro que os bancos são obrigados a recolher no BC. No caso das contas correntes, por exemplo, a alíquota passou de 48% para 53%. Isso significa que, a cada R$ 100 depositados pelos clientes, os bancos precisarão manter R$ 53 no BC.
O mesmo ocorreu com a alíquota do compulsório sobre caderneta de poupança, que passou de 25% para 30%, e sobre depósitos a prazo (como os Certificados de Depósito Bancário e aplicações em debêntures), que foi elevada de 18% para 23%. Nas contas do BC, os aumentos no compulsório devem retirar R$ 14,2 bilhões das mãos dos bancos.
Em geral, o BC remunera o dinheiro recolhido da seguinte maneira: o compulsório que incide sobre as cadernetas é corrigido pela mesma taxa oferecida aos poupadores: 0,5% ao mês mais a variação da TR (Taxa Referencial), o equivalente a aproximadamente 8% ao ano. O compulsório sobre depósitos em conta corrente não é corrigido, e o que incide sobre depósitos a prazo acompanha a variação dos juros básicos da economia.
Os R$ 14,2 bilhões adicionais que começam a ser cobrado dos bancos hoje, porém, serão remunerados sempre pela taxa Selic, superior às taxas que corrigem o compulsório sobre depósitos em conta corrente e poupança. Por causa dessa diferença, as instituições financeiras ganharão R$ 127 milhões a cada mês, o que equivale a R$ 1,5 bilhão por ano.
Os bancos também ganham com o aumento da taxa Selic, que anteontem passou de 18% para 21% ao ano. A decisão foi tomada em reunião extraordinária do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), realizada uma semana antes da reunião mensal, marcada para os próximos dias 22 e 23.
A idéia é incentivar os investidores a colocar seu dinheiro em aplicações de renda fixa, que passam a ser mais rentáveis, em vez de comprar dólares. O lado negativo é o encarecimento do crédito, que colabora para o desaquecimento da economia.
A taxa Selic remunera grande parte dos títulos públicos em circulação no mercado. Segundo dados do Tesouro Nacional, os bancos possuíam R$ 141,8 bilhões em papéis pós-fixados, que são corrigidos pelos juros básicos.
Com o aumento de três pontos percentuais da taxa Selic, o ganho mensal das instituições financeiras com esse tipo de aplicação sobe R$ 354 milhões, podendo chegar a R$ 4,3 bilhões em um ano.
No final das contas, os bancos ganharão cerca de R$ 480 milhões por mês com as duas medidas, enquanto elas estiverem em vigor. Se as regras se mantiverem por mais um ano, o lucro chegará a R$ 5,78 bilhões.
Isso não significa que os bancos efetivamente apresentarão esses lucros em seus balanços, pois o resultado financeiro das instituições depende de várias outras operações.


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