São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 2002

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Dívida deve ter impacto de R$ 10 bi

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O aumento dos juros decidido anteontem pelo Banco Central pode ter um impacto de até R$ 10 bilhões na dívida pública. Esse será o tamanho do aumento no endividamento do governo caso a taxa Selic, que passou de 18% para 21% ao ano, não seja alterada pelo prazo de um ano.
Segundo dados fechados pelo Tesouro Nacional, estavam em circulação no mês de agosto aproximadamente R$ 340 bilhões em títulos da dívida pública brasileira que são corrigidos pela taxa Selic. Isso equivale a quase metade dos R$ 784 bilhões da dívida líquida do setor público (União, Estados, municípios e estatais) também em agosto, o mais recente dado oficial disponível.
O aumento dos juros afeta diretamente essa parcela da dívida. Mantida por um ano, a elevação de três pontos percentuais na taxa Selic provocaria um aumento de R$ 10 bilhões no endividamento do governo.
Esse efeito pode ser compensado caso o aumento dos juros consiga frear a alta do dólar, que, neste ano, é o principal responsável pela explosão da dívida pública. Entre janeiro e agosto, o endividamento cresceu R$ 123 bilhões, dos quais R$ 89 bilhões correspondem ao impacto do dólar nas contas do governo.

Copom
Manter a taxa de câmbio sob controle foi um dos objetivos do BC ao decidir pela elevação da taxa Selic. O aumento dos juros foi decidido na última segunda-feira, em uma reunião extraordinária do Copom (Comitê de Política Monetária do BC). Na sexta-feira passada, o BC já havia anunciado um conjunto de medidas que pretendiam limitar a atuação dos bancos no mercado de câmbio.
Na manhã de segunda-feira o dólar abriu em alta, e o BC convocou a reunião extraordinária do Copom onde se decidiu pela elevação dos juros. Em tese, juros altos estimulam os investimentos em aplicações de renda fixa, colaborando para reduzir a procura por dólares.

Atração de capital
Além disso, juros elevados podem ainda servir para atrair investidores estrangeiros que procurem essas aplicações de renda fixa, que se tornam mais rentáveis. Foi o que aconteceu, por exemplo, em 1998, quando a desconfiança trazida pela crise russa fez o BC elevar os juros para mais de 40% ao ano, numa tentativa de atrair capital externo para o país.
Naquela ocasião, porém, o Brasil ainda adotava o sistema de câmbio controlado, em que a cotação do dólar era mantida próxima de R$ 1 pelo governo. Os dólares atraídos com os juros elevados, na época, eram principalmente capital de curto prazo, de caráter especulativo.
Depois, em 1999, o governo promoveu a desvalorização cambial e adotou o câmbio flutuante.


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