São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 2002

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ÚLTIMOS CARTUCHOS

Alta dos juros reduz a expectativa do desempenho econômico do país para este ano e o próximo

Ipea já diminui previsão do PIB para 2003

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O cenário de crescimento econômico em 2003 se tornou mais sombrio de anteontem para ontem, depois da elevação dos juros pelo Banco Central para 21% ao ano. Ontem, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) reviu sua projeção de expansão do PIB (Produto Interno Bruto) de 2,2% para 1,8%. A estimativa para 2002 caiu de 1,5% para 1,3%.
Consultorias e bancos também já começam a refazer seus cálculos e irão rever suas expectativas de crescimento.
Notícia de revisão de crescimento econômico para baixo é sempre ruim. Pior ainda quando as estimativas anteriores já não eram das melhores, como tem sido o caso do Brasil.
A nota divulgada ontem pelo Ipea, por exemplo, com a revisão da expectativa de crescimento em 2002, representa a quarta correção para baixo desde abril passado. Naquele mês, a estimativa do órgão era de uma expansão de 2% para o PIB neste ano.
No "Boletim de Conjuntura" do instituto divulgado em agosto passado, veio uma nova revisão para 1,7%. Poucos dias depois, quando o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o crescimento do PIB no primeiro semestre de 2002 havia sido de apenas 0,14% (a previsão do Ipea era de 0,6%), foi feita uma nova revisão do crescimento, para 1,5%.
A mesma trajetória decadente de revisões tem sido feita para o PIB em 2003. A estimativa do Ipea chegou a ser de 3,2% em julho passado. Bancos e consultorias também estão seguindo os passos do Ipea e mudando novamente seus cenários econômicos.
O BBV Banco, por exemplo, esperava uma expansão do PIB entre 1,5% e 2% em 2003. Ainda não mudou o cenário. Mas, segundo Luis Afonso Lima, economista da instituição, a nova previsão estará mais próxima de 1,5%. "Tudo vai depender do tempo de permanência dessa nova taxa de juros de 21%. Se durar mais do que um mês, certamente sofreremos os efeitos de uma retração econômica", afirma Lima.
A consultoria Tendências também mudará seu cenário econômico para 2003. "Ainda não fizemos uma revisão, mas será para baixo", diz Juan Pedro Jensen, economista da Tendências.
Até agora, a Tendências trabalhava com dois cenários: 1,5% de crescimento econômico em caso de vitória do candidato da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e cerca de 2,5% se vencesse José Serra (PSDB). A diferença é explicada principalmente, segundo o analista, por conta da crise de confiança que enfrenta o país e que tende a durar mais caso a oposição vença as eleições.
Jensen lembra que, além do efeito de contração da atividade produtiva provocado pela alta de juros, o crescimento econômico em 2003 poderá ser afetado também pela baixa confiança do consumidor brasileiro.
"Com a crise, a confiança do consumidor brasileiro anda em baixa. Isso pode atuar como mais um freio sobre o crescimento", afirma o economista.
Os economistas acreditam que, por enquanto, as revisões de crescimento para o ano que vem não serão expressivas. Isso porque os juros projetados para o futuro- que servem como referência para as previsões pois têm efeito sobre o nível de atividade- já estavam muito altos.
"As estimativas para o PIB no último trimestre deste ano e no primeiro de 2003 já não eram boas porque os juros futuros vinham em trajetória de alta. Por isso, as revisões não devem ser tão expressivas", diz Marcelo Cypriano, economista do BankBoston. Segundo Cypriano, independentemente da taxa de juros, é muito difícil fazer previsões para o PIB a partir do segundo trimestre de 2003, porque seu desempenho dependerá da política econômica adotada pelo próximo governo.


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