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ÚLTIMOS CARTUCHOS
Alta dos juros reduz a expectativa do desempenho econômico do país para este ano e o próximo
Ipea já diminui previsão do PIB para 2003
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O cenário de crescimento econômico em 2003 se tornou mais
sombrio de anteontem para ontem, depois da elevação dos juros
pelo Banco Central para 21% ao
ano. Ontem, o Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada)
reviu sua projeção de expansão
do PIB (Produto Interno Bruto)
de 2,2% para 1,8%. A estimativa
para 2002 caiu de 1,5% para 1,3%.
Consultorias e bancos também
já começam a refazer seus cálculos e irão rever suas expectativas
de crescimento.
Notícia de revisão de crescimento econômico para baixo é
sempre ruim. Pior ainda quando
as estimativas anteriores já não
eram das melhores, como tem sido o caso do Brasil.
A nota divulgada ontem pelo
Ipea, por exemplo, com a revisão
da expectativa de crescimento em
2002, representa a quarta correção para baixo desde abril passado. Naquele mês, a estimativa do
órgão era de uma expansão de 2%
para o PIB neste ano.
No "Boletim de Conjuntura" do
instituto divulgado em agosto
passado, veio uma nova revisão
para 1,7%. Poucos dias depois,
quando o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o crescimento do PIB
no primeiro semestre de 2002 havia sido de apenas 0,14% (a previsão do Ipea era de 0,6%), foi feita
uma nova revisão do crescimento, para 1,5%.
A mesma trajetória decadente
de revisões tem sido feita para o
PIB em 2003. A estimativa do Ipea
chegou a ser de 3,2% em julho
passado. Bancos e consultorias
também estão seguindo os passos
do Ipea e mudando novamente
seus cenários econômicos.
O BBV Banco, por exemplo, esperava uma expansão do PIB entre 1,5% e 2% em 2003. Ainda não
mudou o cenário. Mas, segundo
Luis Afonso Lima, economista da
instituição, a nova previsão estará
mais próxima de 1,5%. "Tudo vai
depender do tempo de permanência dessa nova taxa de juros de
21%. Se durar mais do que um
mês, certamente sofreremos os
efeitos de uma retração econômica", afirma Lima.
A consultoria Tendências também mudará seu cenário econômico para 2003. "Ainda não fizemos uma revisão, mas será para
baixo", diz Juan Pedro Jensen,
economista da Tendências.
Até agora, a Tendências trabalhava com dois cenários: 1,5% de
crescimento econômico em caso
de vitória do candidato da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), e cerca de 2,5% se vencesse
José Serra (PSDB). A diferença é
explicada principalmente, segundo o analista, por conta da crise de
confiança que enfrenta o país e
que tende a durar mais caso a
oposição vença as eleições.
Jensen lembra que, além do
efeito de contração da atividade
produtiva provocado pela alta de
juros, o crescimento econômico
em 2003 poderá ser afetado também pela baixa confiança do consumidor brasileiro.
"Com a crise, a confiança do
consumidor brasileiro anda em
baixa. Isso pode atuar como mais
um freio sobre o crescimento",
afirma o economista.
Os economistas acreditam que,
por enquanto, as revisões de crescimento para o ano que vem não
serão expressivas. Isso porque os
juros projetados para o futuro-
que servem como referência para
as previsões pois têm efeito sobre
o nível de atividade- já estavam
muito altos.
"As estimativas para o PIB no
último trimestre deste ano e no
primeiro de 2003 já não eram
boas porque os juros futuros vinham em trajetória de alta. Por isso, as revisões não devem ser tão
expressivas", diz Marcelo Cypriano, economista do BankBoston.
Segundo Cypriano, independentemente da taxa de juros, é muito
difícil fazer previsões para o PIB a
partir do segundo trimestre de
2003, porque seu desempenho
dependerá da política econômica
adotada pelo próximo governo.
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