|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A (i)lógica pendular do país
A expressão "jogar fora o
bebê com a água de banho" é a que melhor define os
movimentos pendulares da política econômica brasileira. Para
que não se repitam na próxima
transição do poder, é fundamental que se separe claramente o que foi erro e o que foi acerto no governo Fernando Henrique Cardoso.
Nos últimos 30 anos, a discussão sobre o país foi dominada
por grupos acadêmicos de diversas linhas de pensamento
-tendo em comum o fato de jamais saírem da vã economia-
e de usar as idéias como ferramenta de influência política, e
não para a solução de problemas.
Nos últimos anos renasceram
métodos muito mais objetivos e
pragmáticos de trabalhar a realidade do país e das empresas.
Consistem em definir, primeiro,
o objetivo final -no caso do
país, a busca do bem-estar da
população. Depois, os meios
-crescimento econômico, geração de emprego, políticas sociais
eficazes. Finalmente, ir analisando cada medida sob essa ótica. Com isso, desideologiza-se o
debate, vai-se buscar o melhor,
independentemente das escolas
de pensamento econômico, porque o eixo a ser seguido é o objetivo final, antecipadamente definido.
O período anterior a 1990
-que vai do segundo governo
Vargas ao governo Geisel- deixou vantagens e desvantagens
para o país. A vantagem foi ter
permitido a industrialização
brasileira, contra todos os discursos dos livre-cambistas. Criaram-se grandes estatais, que foram importantes para o salto
inicial de industrialização e de
serviços públicos, e surgiram os
primeiros grupos econômicos
nacionais modernos.
As desvantagens foram que,
depois de ter cumprido seu papel, o modelo estatal foi superado pelos novos tempos -mostrando-se ineficaz em ambiente
democrático e de profundas
transformações tecnológicas-
e o excessivo protecionismo às
indústrias inibiu sua competitividade. Tudo isso agravado pelos interesses políticos dos governantes, que utilizavam ferramentas de política industrial como instrumento de barganha
política ou financeira.
O governo Fernando Henrique Cardoso tinha duas propostas para corrigir os erros do período anterior. Uma, mais pragmática -assumida pelo grupo
paulista de Motta, Serra, Clóvis,
os irmãos Mendonça de Barros-, que consistia em monitorar a abertura econômica de
maneira a implantar a competição, sem matar a indústria local
(o objetivo não era a abertura
em si, mas ela como indutora de
maior competitividade e internacionalização dos nossos produtos); a criação de ambiente
macroeconômico favorável,
com instrumentos de crédito e
modernização institucional; o
avanço conceitual importante
de pensar a economia em termos de cadeias produtivas, em
contraposição ao fortalecimento individual ou setorial de empresas. Em suma, não jogar a
criança com a água.
Prevaleceu o pensamento do
segundo grupo, os Fritsch, Bacha, Malan, Lara Rezende e
Franco, mencionados na entrevista do presidente. Sua análise
-aceita por Fernando Henrique- era que haveria oferta infinita e ilimitada de capital no
mundo. Portanto bastaria abrir
a economia, produzir déficits
comerciais a fim de permitir espaço para a entrada do capital
estrangeiro, que, por si, promoveria a modernização da economia. Um erro capital!
Agora voltemos ao terceiro
tempo do jogo. Há um questionamento amplo sobre os erros
do governo Fernando Henrique
Cardoso e tenta-se colocar todas
as decisões do período no balaio
do tal "modelo neoliberal". Ora,
a criação de agências reguladoras, a privatização de grandes
empresas estatais, a profissionalização das que permaneceram
públicas, o modelo embrionário
de planejamento, com o Plano
Plurianual, nada têm a ver com
o arcabouço ideológico que levou à quebra do país. São medidas de modernização, de melhoria da competitividade, de fortalecimento da economia que
independem de escolas econômicas.
O que se tem a fazer é corrigir
os erros cometidos, mas sem repetir o mesmo erro que se critica
agora: o de jogar fora a criança
com a água do banho.
E-mail -
LNassif@uol.com.br
Texto Anterior: Eventos: Feiras se segmentam para crescer Próximo Texto: Mercado financeiro: Bolsa inicia mês com fluxo externo positivo Índice
|