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São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2003

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REAÇÃO

Levantamento da FGV feito em outubro mostra que 45% das indústrias planejam elevar investimentos; há um ano, eram 33%

Empresas pretendem investir mais em 2004

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os empresários brasileiros estão dispostos a investir mais em 2004. A recuperação de alguns setores da economia desde julho, especialmente por conta das exportações, deu novo gás às indústrias, que estão mais animadas para investir em capital fixo, como novas máquinas e novas fábricas.
É o que constata a FGV (Fundação Getúlio Vargas) em levantamento feito em outubro com 1.341 indústrias de transformação -45% delas informaram que pretendem aumentar os investimentos em 2004. Há um ano, 33% diziam que iriam investir mais em 2003 do que em 2002.
Já 36% delas disseram que desejam investir em 2004 o mesmo valor deste ano (44% em 2003) e 19% planejam reduzir o valor (23% em 2003). Resumo: 81% das indústrias pretendem manter ou aumentar investimentos em 2004. Em outubro de 2002 esse percentual (para 2003) era de 77%.
A intenção de investir mais no ano que vem é guiada principalmente pelo resultado das exportações, apesar de a reação de alguns setores no mercado interno também ter tido influência positiva nas projeções de investimentos.

Ambiente favorável
"Já existe um ambiente mais favorável para os investimentos no país", afirma Aloisio Campelo Jr, coordenador do Núcleo de Bancos de Dados Especiais da FGV. "Estamos num momento em que a expectativa do consumidor e do empresário é fundamental para dar a virada do investimento", afirma Francisco Pessoa Faria, economista da LCA Consultores.
O setor de bens intermediários, no qual estão as indústrias de papel, celulose e química, é o que mais tem intenção de elevar os investimentos no ano que vem -66% das empresas informaram que querem investir mais. No levantamento de 2002, 23% tinham esse desejo para 2003.
A mudança mais favorável ao investimento desse setor é baseada em dois fatores: boa parte da produção é exportada e boa parte da capacidade produtiva das fábricas está ocupada.
"Operamos há três anos a todo o vapor por causa das exportações. Vamos investir mais em 2004 porque esperamos a recuperação do mercado internacional", afirma Osmar Zogbi, presidente da Bracelpa (reúne as indústrias de papel e celulose).
O setor já anunciou investimentos de US$ 14 bilhões de 2003 a 2012 em novas fábricas e na modernização de equipamentos para dobrar a exportação de celulose e elevar em 50% a de papel.

Exportações têm peso
O setor de bens de capital, que compreende as fábricas de máquinas, caminhões, ônibus, tratores e aeronaves, também tem boas perspectivas de investimentos no ano que vem -60% delas pretendem investir mais. Em outubro de 2002, 40% delas tinham essa pretensão para este ano. Esse dado, no entender dos economistas da FGV, indica que os empresários prevêem também um mercado interno mais aquecido em 2004.
O aumento de 6,9% na produção industrial de junho a setembro deste ano, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), já contribuiu, na análise de economistas, para melhorar as perspectivas de investimentos das indústrias. As exportações, no entanto, continuam tendo o maior peso na decisão de investir dos empresários.
Quem depende mais do mercado interno já tem perspectivas mais pessimistas. O setor de bens de consumo, no qual estão as indústrias têxteis, a eletroeletrônica e a de alimentos, reduziu, na média, a expectativa de investimentos para 2004. Segundo a consulta da FGV, 33% das empresas desse setor pretendem elevar investimentos em 2004. Em 2002, 49% tinham tal intenção para este ano.
Esse setor não tem planos de investir porque ainda trabalha com ociosidade. Segundo a FGV, em outubro o uso da capacidade instalada das fábricas de bens de consumo era de 77,3%, maior do que a de um ano atrás (76,6%), mas ainda baixa para justificar a ampliação dos investimentos.
A indústria do vestuário trabalha com ociosidade média de 35%. "Só vamos falar em investimentos quando ocuparmos toda a capacidade produtiva", diz Roberto Chadad, presidente da Abravest, a associação do setor.

Produção no limite
Um dado que chama a atenção no levantamento da FGV é que a indústria de televisores, rádios e toca-fitas, que depende do mercado interno, está mais animada para investir -69% das empresas pretendem investir mais em 2004. Em 2002, 18% delas tinham essa intenção para 2003.
A Philco informa que, como as indústrias do setor reduziram significativamente a produção, o que pode acontecer é uma empresa aumentar a produção de uma linha de produto ou ainda adquirir equipamentos mais modernos, isto é, não há intenção de fazer investimentos maciços no setor. Motivo: as fábricas de TVs, que já chegaram a vender cerca de 8 milhões de aparelhos por ano, devem comercializar no máximo 5 milhões de unidades neste ano.
A melhora na disposição de investir dos empresários também foi constatada pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) numa consulta feita na sexta-feira com 20 grupos industriais -12 informaram que pretendem investir mais em 2004 do que neste ano.
As empresas são basicamente dos setores de siderurgia, papel e celulose, petroquímica, cimento e calçados. Dos 20 grupos, 16 informaram que os projetos ainda não deslancharam em virtude da retomada de alguns setores da economia ter ocorrido somente a partir de julho deste ano.
A intenção de investir está mais ligada ao fato de alguns setores estarem com capacidade de produção no limite do que à expectativa de expansão econômica, segundo Ricardo Carneiro, diretor do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp. "Os investimentos podem voltar, mas de forma ainda limitada."


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