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HORA DO AJUSTE
Alta real de 9,3% no salário (que vai a R$ 300) e alívio no imposto obrigarão governo a reduzir despesas
Lula eleva mínimo, reajusta IR e corta gasto
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo anunciou ontem que
o salário mínimo passará de R$
260 para R$ 300 em maio do próximo ano. O reajuste representa
um aumento de 9,3% acima da inflação, segundo projeções do Ministério do Trabalho. Em maio
deste ano, o piso salarial foi reajustado em 1,2% em termos reais.
O reajuste do mínimo foi divulgado no mesmo dia do anúncio
da correção do Imposto de Renda, após negociações com as centrais sindicais, que se disseram
frustradas com o resultado final.
As medidas gerarão perda de receita e aumento de despesas do
governo que devem ser compensados com novos cortes de gastos.
No ano passado, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva concedeu um aumento real de 1,85%.
Durante a campanha, o candidato
petista prometeu dobrar o valor
do mínimo em termos reais. Contando o reajuste proposto para
2005, os aumentos acima da inflação somam apenas 12,66%.
Nos cofres do governo federal, o
aumento anunciado gerará uma
elevação de gastos de R$ 8 bilhões
em 2005. A maior parte recairá
sobre as contas da Previdência
Social, que fechará este ano com
déficit acima de R$ 30 bilhões.
O Orçamento enviado ao Congresso já previa um gasto de R$
5,530 bilhões com o novo mínimo, caso ele fosse elevado para
cerca de R$ 283,00, o que era previsto inicialmente. Agora, com R$
300, o governo terá um gasto extra
de R$ 2,470 bilhões.
Além das aposentadorias, pensões e outros benefícios previdenciários, o mínimo serve como base para o seguro-desemprego e
outros benefícios assistenciais.
Para acomodar o impacto no
Orçamento de 2005 do aumento
do mínimo e da correção da tabela do Imposto de Renda, o governo lançará mão de um aumento
de arrecadação acima do esperado calculado pela Comissão Mista
de Orçamento do Congresso.
Também será preciso reduzir a
previsão de gastos para 2005.
De acordo com o presidente da
comissão, Paulo Bernardo (PT-PR), haverá redução de 5% nos
gastos com custeio da máquina
pública, além de um corte de 15%
nos investimentos acima de R$ 3
milhões. O senador Romero Jucá
(PMDB-RO), relator da comissão,
estima que poderão ser necessários novos cortes.
A decisão sobre o novo mínimo
foi anunciada pelo presidente em
reunião com 40 líderes sindicais e
seis ministros. Nos próximos
dias, o governo enviará um projeto de lei ao Congresso Nacional
propondo o reajuste de R$ 40.
O projeto também prevê a criação de uma comissão para discutir uma política gradual de recuperação do valor do mínimo nos
próximos anos. O grupo será formado por representantes do governo, do empresariado, dos trabalhadores e dos aposentados.
Segundo o ministro Ricardo
Berzoini (Trabalho), nenhuma
categoria vem obtendo reajustes
de 9% acima da inflação. "[O aumento] representa um passo importante com responsabilidade
orçamentária, sem nenhum tipo
de mágica orçamentária", disse.
O governo vinha estudando outras possibilidades além de reajustar o mínimo em R$ 300. Uma
proposta era aumentá-lo para R$
290 em janeiro.
Nas últimas semanas, enquanto
as centrais sindicais pressionavam o governo para elevar o mínimo para R$ 320, vários prefeitos
estiveram em Brasília para alertar
o governo sobre os riscos de um
aumento muito elevado. Muitos
municípios, de acordo com relato
dos prefeitos, poderiam quebrar.
O deputado Bernardo disse que
o governo fechou um acordo na
votação da reforma tributária que
permitirá aumento na receita das
prefeituras. Pelo acordo, a parcela
dos municípios no bolo das receitas federais irá aumentar em um
ponto percentual. "Isso dará um
fôlego extra para as prefeituras".
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