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HORA DO AJUSTE
Aumento do mínimo pode reduzir pobreza e gerar desemprego
Alta tem impacto negativo e positivo
DA REPORTAGEM LOCAL
O aumento do salário mínimo
tem impactos positivos e negativos. Ele ajuda a reduzir a pobreza
e, dependendo do caso, a desigualdade de renda. Por outro lado, aumenta a probabilidade de
uma parte dos trabalhadores com
carteira de trabalho assinada migrarem para o setor informal. E há
o impacto fiscal, com aumento
dos gastos da Previdência Social.
Os trabalhadores do setor informal são os mais beneficiados pelos aumentos do mínimo. Quase
metade dos trabalhadores informais ganha até um salário mínimo. Uma outra parte importante
ganha múltiplos do mínimo, ou
seja, tem algum tipo de contrato,
ainda que informal, indexando os
salários ao valor do mínimo -esse é o caso, muitas vezes, das empregadas domésticas.
No caso de quem tem carteira
de trabalho assinada, os ganhos
de renda não são tão significativos. Na verdade, apenas 12% dos
cerca de 23,7 milhões de trabalhadores que tinham carteira assinada em 2003 ganhavam até um salário mínimo. Uma parte dos trabalhadores formais que ganha
pouco mais de um salário pode
ser beneficiada. Outra parte, no
entanto, pode acabar perdendo o
emprego ou tendo que abrir mão
da carteira assinada caso a empresa em que trabalhe avalie que o
novo salário é alto demais. O problema é que não há estimativas
seguras sobre qual desses dois
efeitos predomina.
Francisco Ramires, professor
do Ibmec, lembra que poucas empresas pagam salário mínimo no
setor formal. A exceção é a construção civil, "onde o aumento tem
um impacto grande". "[As altas
do mínimo] tem potencial de elevar a base da pirâmide de salários,
mas como há impacto nos custos
dos empregadores, também há
impactos negativos".
"Existe um impacto importante
do mínimo no setor informal",
diz José Pastore, economista da
USP. Mas ele lembra que os aumentos do mínimo também pioram a qualidade do emprego, justamente por conta do aumento da
informalidade.
Quem não perde o emprego,
claro, acaba ganhando renda adicional, tanto no setor formal
quanto informal e, em ano de
crescimento econômico, salário
mínimo maior pode significar redução da desigualdade no mercado de trabalho e na distribuição
de renda. O economista Marcelo
Neri, da FGV, por exemplo, estima que a cada 10% de aumento
real do mínimo, ou seja, já descontados os efeitos da inflação do
período, a proporção de pobres
na população brasileira cai aproximadamente 1,2%.
Nem toda a queda da pobreza,
no entanto, é explicada pelo aumento na renda de quem está trabalhando. Na verdade, a maior
parte dela ocorre por conta dos
gastos da Previdência, que paga
benefícios equivalentes a um salário mínimo a cerca de 14 milhões
de aposentados. Todos são beneficiados pelo aumento do salário
mínimo.
O outro lado da moeda é o aumento dos gastos da Previdência.
Na prática, aumentos maiores do
mínimo são sempre barrados por
conta do impacto negativo que
eles exercem sobre as contas públicas. Uma das propostas analisadas pelo governo é desvincular
as aposentadorias do salário mínimo. "O que é uma discussão desumana. Livra as contas públicas,
é verdade. Mas e o aposentado?",
questiona Pastore.
O economista avalia que a proposta relevante para enfrentar o
problema é a discussão da reforma da legislação trabalhista que,
na avaliação dele, é a origem da
grande informalidade no Brasil.
José Mauricio Soares, economista do Dieese, concorda. Ele
avalia que é preciso realmente
criar formas de aumentar a contribuição à Previdência, reduzindo a informalidade. Conter o mínimo para não ter impactos nas
contas públicas, diz ele, pode funcionar por enquanto. "Mas no limite, todos os trabalhadores, formais ou informais, vão acabar
"caindo" na Previdência. E a situação será insustentável", diz.
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