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Brasileiro quer alívio ainda no atual acordo
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva trabalha arduamente para
que a flexibilização do cálculo do
superávit primário em negociação com o FMI já tenha efeito sobre o atual acordo do Brasil com o
Fundo Monetário Internacional.
A Folha apurou que o presidente pediu ao ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho, que acelerasse as negociações com o Fundo. O presidente Lula deseja conseguir ainda neste ano mais espaço para gastos em infra-estrutura,
especialmente nas áreas de energia, habitação e transportes.
Ou seja, ficaria mantida a meta
de superávit primário (economia
que demonstra a capacidade de
pagar a dívida pública) de 4,25%
do PIB (Produto Interno Bruto),
como deseja o ministro Palocci.
Mas, ao mesmo tempo, Lula obteria uma concessão de peso do
FMI, dando uma resposta às críticas crescentes à sua política econômica de rigor fiscal e monetário
que vem adotando.
"Cheque especial"
A orientação de Lula a Palocci
para acelerar as negociações com
o FMI é uma mudança da posição
brasileira. O próprio ministro da
Fazenda já havia dito que a eventual alteração das regras do cálculo do superávit valeria somente
para o futuro. O atual acordo com
o FMI acaba neste ano, mas o governo não descarta renová-lo
-ainda que em termos mais
brandos para contar com o chamado "cheque especial" do Fundo a fim de se proteger de eventuais choques externos.
Agora, na visita que faz a partir
de hoje à Inglaterra, Palocci tentará obter apoio do governo britânico para que em abril, na reunião
anual da direção do FMI, seja feita
a alteração do cálculo do superávit e o anúncio de que o Brasil poderia adotar a nova regra no atual
acordo.
Atualmente, apenas os investimentos da Petrobras e R$ 2,9 bilhões de gastos em saneamento
estão excluídos do cálculo do superávit primário do país. Os investimentos das demais estatais,
por exemplo, são contabilizados
como despesa e afetam o cálculo
do superávit.
Se for alterada a regra, será menor o esforço para que seja feito o
superávit primário -receitas
menos despesas, exceto os gastos
com juros.
Negociação antiga
Desde o final de 2002, época da
transição do governo Fernando
Henrique Cardoso para o governo Lula, há uma tentativa do Brasil de flexibilizar as regras para o
cálculo do superávit primário.
Lula, porém, preferiu investir
primeiro numa política de conquista de credibilidade para pedir
ao FMI uma concessão. No final
do ano passado, quando houve
renovação de um acordo com o
Fundo, o governo brasileiro encarregou o secretário do Tesouro,
Joaquim Levy, de iniciar uma negociação para valer. No ano passado, o FMI sinalizou que aceitaria excluir a Eletrobras do cálculo
do superávit.
É essa negociação, com mais liberdade para gastos em habitação
e saneamento, inclusive para Estados brasileiros, que Lula resolveu acelerar. Por isso, ele desencadeou recentemente uma articulação direta com presidentes das
maiores economias do planeta.
Lula telefonou para o presidente
do EUA, George W. Bush, e para
presidentes e premiês europeus
em busca de apoio.
O argumento apresentado por
Lula é que o Brasil já mostrou ser
confiável perante os organismos e
investidores internacionais, ao
manter uma política econômica
austera para um país com tantas
demandas sociais.
Nesse momento, diz um ministro de Lula, é a hora de cobrar
uma contrapartida. Essa cobrança foi discutida pelo presidente
brasileiro com o colega argentino,
Nestor Kirchner, anteontem, durante jantar no Rio de Janeiro. Lula avalia que a posição dura que a
Argentina tem adotado com o
Fundo lhe ajuda a pressionar por
um alívio econômico.
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