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FMI cobra aumento do rigor fiscal
na Argentina, que refuta elevação
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
A diretora-gerente interina do
FMI (Fundo Monetário Internacional), Anne Krueger, afirmou
que o diretório do organismo não
aprovará por unanimidade a segunda revisão do acordo com a
Argentina e cobrou do país um
aumento na atual meta de 3% para o superávit fiscal primário
(economia para pagamento de juros), acordada com o Fundo.
"Um par de países já disse que
vai se abster", disse em entrevista
ao diário "Clarín". "Existe o sentimento de que chegou a hora de
enfrentar os problemas e que isso
fará com que a recuperação econômica tenha continuidade. Essa
preocupação é minha também."
A votação está prevista para o final deste mês.
Krueger rebateu a posição do
governo de que um aumento do
superávit primário colocaria em
risco o crescimento econômico
do país por impor um ajuste
maior. "Um incremento do superávit ajudará o crescimento."
As afirmações de Krueger dão
uma idéia da briga que vem pela
frente entre a Argentina e o FMI.
Entre junho e setembro, os dois
começarão a negociar as metas
fiscais para 2005 e 2006. Para o
FMI, os 3% de superávit são um
piso; para o governo argentino,
são um teto.
"Por enquanto, o crescimento
econômico argentino é um rebote
do ponto mais baixo da crise.
Ninguém sabe quanto mais pode
continuar sem que os problemas
estruturais sejam encarados",
afirmou, cobrando que o governo
apresse as negociações para reestruturar a dívida em moratória
desde dezembro de 2001. "No futuro próximo [os argentinos] vão
precisar de acesso aos mercados
internacionais."
Krueger disse ainda que a
"chantagem" feita pelo presidente
argentino, Néstor Kirchner, ao
ameaçar não pagar a dívida de
US$ 3,1 bilhões que vencia na semana passada, causou "muitos
danos" à Argentina. "Nosso diretório reagiu muito mal a isso."
Kirchner
Em entrevista a jornalistas argentinos ontem, o presidente da
Argentina, Néstor Kirchner, afirmou, segundo o jornal "Clarín",
que é preciso ter "capacidade
transgressora" para negociar com
o FMI: "Não podemos ficar condenados por toda a vida às situações sociais que temos hoje. Para
mudar é preciso ter capacidade
transgressora, para que deixem
de nos iludir com fantasmas".
Sobre a entrevista na qual a diretora-gerente interina do FMI,
Anne Krueger, pediu o aumento
do superávit primário argentino,
Kirchner disse: "Eu sou um homem democrático, ela pode pensar o que quiser".
De acordo com o jornal "La Nación", o chefe-de-gabinete de
Kirchner, Alberto Fernández, que
também participou da cúpula do
Rio, descartou a possibilidade de
aumento do superávit primário,
cuja taxa atual é de 3%. "É o piso e
o teto do governo", disse.
Para jornalistas brasileiros,
Kirchner disse não esperar que o
FMI tenha "sensibilidade" para
aceitar mudanças nos parâmetros
de relacionamento entre países
do Mercosul e organismos internacionais.
Brasil e Argentina defendem
que a contrapartida de empréstimos financiados por instituições
multilaterais de crédito, como o
Banco Mundial e o BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento), não seja contabilizada
como despesa no cálculo do superávit primário exigido pelo fundo.
No encontro, ficou decidido
que os dois países vão elaborar
uma proposta formal sobre as
mudanças que pretendem acrescentar ao FMI. O documento ficará pronto em 60 dias.
Colaborou a Sucursal do Rio
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