São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2004

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FMI cobra aumento do rigor fiscal na Argentina, que refuta elevação

CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

A diretora-gerente interina do FMI (Fundo Monetário Internacional), Anne Krueger, afirmou que o diretório do organismo não aprovará por unanimidade a segunda revisão do acordo com a Argentina e cobrou do país um aumento na atual meta de 3% para o superávit fiscal primário (economia para pagamento de juros), acordada com o Fundo.
"Um par de países já disse que vai se abster", disse em entrevista ao diário "Clarín". "Existe o sentimento de que chegou a hora de enfrentar os problemas e que isso fará com que a recuperação econômica tenha continuidade. Essa preocupação é minha também." A votação está prevista para o final deste mês.
Krueger rebateu a posição do governo de que um aumento do superávit primário colocaria em risco o crescimento econômico do país por impor um ajuste maior. "Um incremento do superávit ajudará o crescimento."
As afirmações de Krueger dão uma idéia da briga que vem pela frente entre a Argentina e o FMI. Entre junho e setembro, os dois começarão a negociar as metas fiscais para 2005 e 2006. Para o FMI, os 3% de superávit são um piso; para o governo argentino, são um teto.
"Por enquanto, o crescimento econômico argentino é um rebote do ponto mais baixo da crise. Ninguém sabe quanto mais pode continuar sem que os problemas estruturais sejam encarados", afirmou, cobrando que o governo apresse as negociações para reestruturar a dívida em moratória desde dezembro de 2001. "No futuro próximo [os argentinos] vão precisar de acesso aos mercados internacionais."
Krueger disse ainda que a "chantagem" feita pelo presidente argentino, Néstor Kirchner, ao ameaçar não pagar a dívida de US$ 3,1 bilhões que vencia na semana passada, causou "muitos danos" à Argentina. "Nosso diretório reagiu muito mal a isso."

Kirchner
Em entrevista a jornalistas argentinos ontem, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, afirmou, segundo o jornal "Clarín", que é preciso ter "capacidade transgressora" para negociar com o FMI: "Não podemos ficar condenados por toda a vida às situações sociais que temos hoje. Para mudar é preciso ter capacidade transgressora, para que deixem de nos iludir com fantasmas".
Sobre a entrevista na qual a diretora-gerente interina do FMI, Anne Krueger, pediu o aumento do superávit primário argentino, Kirchner disse: "Eu sou um homem democrático, ela pode pensar o que quiser".
De acordo com o jornal "La Nación", o chefe-de-gabinete de Kirchner, Alberto Fernández, que também participou da cúpula do Rio, descartou a possibilidade de aumento do superávit primário, cuja taxa atual é de 3%. "É o piso e o teto do governo", disse.
Para jornalistas brasileiros, Kirchner disse não esperar que o FMI tenha "sensibilidade" para aceitar mudanças nos parâmetros de relacionamento entre países do Mercosul e organismos internacionais.
Brasil e Argentina defendem que a contrapartida de empréstimos financiados por instituições multilaterais de crédito, como o Banco Mundial e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), não seja contabilizada como despesa no cálculo do superávit primário exigido pelo fundo.
No encontro, ficou decidido que os dois países vão elaborar uma proposta formal sobre as mudanças que pretendem acrescentar ao FMI. O documento ficará pronto em 60 dias.


Colaborou a Sucursal do Rio


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