São Paulo, sexta-feira, 17 de maio de 2002

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COMÉRCIO

Inadimplência e queda nas vendas comprometeu margem das companhias; fornecedores pagam parte da conta

Varejo faz promoções, mas perde lucro

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os balanços financeiros das redes varejistas trouxeram a má notícia. Na tentativa de elevar suas vendas, algumas redes ampliaram promoções e deram descontos generosos. O resultado da estratégia: o faturamento até caiu menos do que o esperado, mas as margens de lucro foram engolidas.
O desempenho do varejo só não foi pior porque quem também pagou parte da conta foram os fornecedores. Para evitar um tombo maior na rentabilidade, redes varejistas negociaram preços com os fabricantes para obter descontos logo no início do ano.
Agora, a proeza já foi contabilizada nas contas das lojas e dos fabricantes. A margem (bruta) do Ponto Frio, uma das maiores cadeias varejistas do país, ficou em 17,5% no acumulado do primeiro trimestre. No mesmo período do ano passado, a taxa estava em 18,8%. A margem líquida -livre de impostos e depreciações- caiu de 2,5% para 1,8%, segundo levantamento da Economática.
A margem de uma empresa corresponde à porcentagem de lucro obtida em relação ao faturamento. Se a margem cai, então a empresa deve ter faturado menos e lucrado menos. Ou pode até ter faturado (vendido) mais, mas obteve um lucro menor com a venda realizada.
"A estratégia adotada pelo comércio, de estimular as vendas por meio de promoções e descontos evitou maiores quedas no faturamento, contudo teve impacto nas margens", informa o balanço publicado pela rede Ponto Frio.
Levantamento da Economática mostra ainda que a margem líquida da Lojas Riachuelo também teve queda. Passou de 8,1% no começo do ano passado para 6,5% no último trimestre. A empresa diz que a rentabilidade foi atingida no ano passado porque o calote cresceu. "Nós tivemos uma retração na margem em 2001, com o aumento de nossa inadimplência de 3,5% para 4,5%", afirma Flávio Rocha, diretor da empresa. "Já controlamos isso em 2002 e estamos bem", diz.
Quem está perdendo mais rentabilidade são as redes que vendem eletrônicos, de acordo com analistas do setor. A venda desabou e não há espaço para reajustes. Por outro lado, os supermercados conseguem manter a margem estável desde o ano passado.
Isso porque, para não arcarem sozinhos com os custos da venda -em tempos de demanda retraída-, os supermercados pressionaram os fornecedores em busca de descontos. Se a rede amplia o desconto, ela pode vender mais e aumentar sua margem de lucro.
O Carrefour, por exemplo, obteve descontos de 20% a 50% na promoção de abril, após ter negociado com fornecedores cortes de 10% a 30% nos preços dos itens. O Extra obteve, em média, descontos de 10% no mesmo período. E os preços caíram até 50% nas lojas. "Em alguns casos, são os fornecedores que estão mantendo o custo do produto em promoção", diz Marcos Gouvêa, um dos principais analistas do setor no país.



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