São Paulo, domingo, 17 de maio de 1998

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MEDICAMENTOS
Laboratórios investem na pesquisa de substâncias que combatem doenças na programação genética
Remédio do futuro chega em dois anos

da Reportagem Local

O remédio do futuro deve chegar às farmácias dentro de dois anos. Uma nova geração de medicamentos, baseada em estudos de genética, está em fase de testes. Alguns deles miram o fim de doenças até hoje incuráveis, como o mal de Alzheimer e a fibrose cística, que ataca os pulmões.
O avanço consiste no ataque às doenças em seu núcleo original, a programação genética do paciente. Cientistas imaginam que podem usar substâncias para limitar a ação dos genes responsáveis pelas doenças. Isso é possível graças ao projeto Genoma Humano, que está fazendo um raio X dos genes.
Os métodos tradicionais também estão melhorando com a tecnologia.Um bom químico testa 200 compostos por semana para escolher a substância com potencial de virar remédio. Minirrobôs fazem os testes em um número dez vezes maior de compostos no mesmo período. De cada 10 mil compostos só um vira produto.
Os cientistas até montam combinações de substâncias em computadores e depois tentam reproduzi-las em laboratório para testar sua eficácia no ataque a doenças. Alguns laboratórios chegam à sofisticação de usar estações espaciais da Nasa para transformar algumas moléculas em cristais, o que seria impossível na Terra.
"Investir em tecnologia é imposição de mercado", diz Paulo Braga, diretor-médico da Glaxo Wellcome, no Brasil. Isso só foi possível porque laboratórios abriram capital na década de 70 e levantaram dinheiro para pesquisa. Cerca de 95% dos novos remédios saem de laboratórios privados e o restante vêm de universidades.
"Esse crescimento tem estimulado o desenvolvimento de produtos", diz Valdair Pinto, diretor-médico da Pfizer.
A Pfizer, por exemplo, deve colocar à venda, nos próximos dois anos, pelo menos mais quatro produtos: um antibiótico, um para tratamento da esquizofrenia e outros dois para as áreas de cardiologia e reumatologia.
Já o laboratório Eli Lilly confia no lançamento do Evista, um remédio que previne a osteoporose. É um mercado e tanto. Cerca de 120 milhões de mulheres no mundo sofrem do problema.
No Brasil, também está sendo testado um antidepressivo ainda sem nome. O MK-966, da Merck Sharp & Dome, pretende bater o Prozac ao limitar a ocorrência de efeitos colaterais.
O Brasil é uma das prioridades dessa indústria, por ser o sexto mercado mundial. Vários laboratórios estão instalando fábricas no país. Muitos descobriram que podem produzir aqui com custo baixo e exportar.
Exportação em alta

No ano passado, pela primeira vez em muitos anos, o Brasil começou a ganhar dinheiro com a exportação de remédios.
Em 97, o país faturou US$ 100 milhões com exportação. De acordo com José Eduardo Bandeira de Melo, presidente da Abifarma (Associação Brasileira dos Fabricantes da Indústria Farmacêutica), a previsão é aumentar esse faturamento em até 60% neste ano.
O crescimento também está impulsionando os investimentos em novas fábricas. Em 97, foram investidos US$ 2,4 bilhões. Mais US$ 800 milhões devem ser investidos até o final de 97. (RG e CP)


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