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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Crise asiática torna-se questão de segurança
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
Nas últimas duas semanas a crise
asiática entrou numa terceira fase.
Com os testes nucleares na Índia e
a onda de violência na Indonésia,
a dimensão estratégica e militar
vem para primeiro plano.
Índia e Indonésia têm relações
problemáticas com a potência
emergente da região: a China.
Emergente, mas também afetada
pela crise financeira. Os chineses
vinham mantendo uma posição de
frieza e até soberba com relação
aos problemas financeiros da região. Mas a fragilidade chinesa
também começou a se tornar evidente. As exportações da China já
começaram a perder dinamismo.
Entre janeiro e abril, as suas vendas externas cresceram 11,6% . No
mesmo período do ano passado,
as exportações cresciam a 26,9%.
Como se não bastasse, há duas
semanas veio a público um estudo
preocupante elaborado por Yi
Gang, economista-chefe do banco
central chinês (em co-autoria com
um acadêmico, Song Ligang).
Segundo a versão publicada pelo
"Australia Financial Review"
(http://www.afr.com.au), o técnico do BC chinês admite que o seu
governo tem "razões muito boas
para se preocupar", entre as quais
listou "o perigo real de uma deflação com efeitos negativos sobre o
processo de reformas". O texto foi
apresentado em seminário na
Universidade Nacional da Austrália no início de maio.
Gang e Ligang concluem: "Há
um amplo consenso de que atrasos significativos ao processo de
reforma aumentam os riscos de
um colapso financeiro generalizado". Eles confirmam as estimativas que apontam para o comprometimento de 20% a 30% do sistema bancário chinês com empréstimos problemáticos. Na Tailândia,
antes da crise, a proporção equivalente era de 15%. E até agora nenhuma autoridade chinesa admitiu esse nível de risco financeiro.
Os economistas chineses mencionam um efeito de "pressão dupla". Internamente, o governo
puxou o freio para evitar o aquecimento e conter a inflação. Externamente, a crise asiática reduziu o
mercado para exportações.
Como a crise externa não será
superada no curto ou mesmo no
médio prazo, a única alternativa
seria relaxar a política de juros e
estimular a economia doméstica.
Entretanto, reduzir juros, no
mundo das finanças globalizadas,
significa deixar a taxa de câmbio
ao relento. E uma desvalorização
cambial levaria a uma nova rodada de desvalorizações na Ásia,
aprofundando a crise. Os economistas chineses chegaram até a
prognosticar uma forte pressão
contra o câmbio no final do ano.
O Japão seria a única fonte alternativa de dinamismo para as economias da região. Pesquisas recentes, entretanto, começam a revelar a extensão do estrago causado pela crise na Indonésia e na
Tailândia sobre as multinacionais
japonesas. As notícias de fechamento de fábricas naqueles países
começam a se multiplicar.
O teste nuclear indiano não é
apenas uma questão militar. Japão
e China, as duas potências regionais, estão fragilizadas. A Indonésia, outra potência emergente, está
paralisada e talvez às vésperas de
uma ruptura política crucial.
Mas uma Índia nacionalista
nunca esteve nos planos das potências ocidentais para o futuro da
"Ásia-Pacífico". A questão econômica, portanto, projeta agora
sombras crescentes no tabuleiro
da segurança regional.
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