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OPINIÃO ECONÔMICA
A nova realidade energética
LAMARTINE NAVARRO JR.
O atual quadro econômico, que
finalmente se apresenta estável e
consistente por sua fundamentação na realidade cambial e no livre
mercado, provocou grande modificação no contexto dos combustíveis líquidos.
Essa modificação afeta profundamente a área energética; muito
especialmente o planejamento de
investimentos em curso no setor
de petróleo e a orientação desejável da política de preços de combustíveis. É estranho que a ANP, o
Ministério da Fazenda, o Ministério do Desenvolvimento, o Ministério das Minas e Energia e outros
órgãos responsáveis até agora não
se tenham pronunciado convenientemente sobre assunto de tal
relevância para a economia nacional.
A correção do valor do real com
relação ao dólar e a estabilização
do preço internacional do petróleo em torno de US$ 20/ barril, valor compatível com seus atuais níveis de depleção, tornaram a viabilidade do álcool carburante, em
termos empresariais, muito mais
próxima à da gasolina.
Nas usinas mais eficientes, com
baixo índice de endividamento, o
custo médio direto do álcool anidro (exclusive impostos, depreciações e despesas financeiras) é
de R$ 0,32/litro, o que resulta em
US$ 28/barril, valor praticamente
idêntico ao atual custo CIF da gasolina importada.
Verifica-se, portanto, que, além
da viabilidade macroeconômica
resultante dos efeitos positivos do
álcool no que toca à geração de
empregos, à poupança de divisas
e aos benefícios ecológicos, que
até hoje justificaram a manutenção do Proálcool, a nova realidade
confere competitividade definitiva, em termos estritamente empresariais, ao combustível renovável.
Concomitantemente, por força
do acordo firmado com o FMI, a
política interna vigente quanto
aos preços dos derivados de petróleo determina que eles acompanhem o preço internacional, o
que resulta em um preço-bomba
atual para a gasolina de R$
1,3285/litro.
Lembrando que a gasolina recebe 24% de álcool anidro em mistura e que o preço irreal hoje pago
ao produtor é de R$ 0,32/ litro, incluindo custos de transporte, impostos e margens de distribuição
e revenda, conclui-se que o álcool
anidro está subsidiando a gasolina em R$ 0,16/ litro, o que representa US$ 14/ barril.
No caso do álcool hidratado, a
posição atual é muito mais grave e
distorcida, porque, com a intempestiva liberação do preço ao produtor (sem se guardar a isonomia
com a gasolina, que permanece
controlada), as distribuidoras,
agindo de forma cartelizada, impuseram preços aos produtores
inferiores aos custos diretos de
produção. O absurdo da situação
é retratado pela simples análise da
estrutura de preços, que indica
margem de resultado para distribuição e revenda de R$ 0,15 por litro e preço ao produtor, para cobertura de todos os custos de produção, de R$ 0,24 por litro.
Por essa razão, o álcool hidratado, que deveria ser comercializado nas bombas por 75% do preço
da gasolina (ou seja, R$ 1/ litro),
está sendo ofertado na cidade de
São Paulo pelo valor médio de R$
0,45/litro, o que fatalmente resultará, no médio prazo, em desequilíbrio do mercado de veículos e
combustíveis.
O setor sucroalcooleiro, formado por 350 unidades produtoras
distribuídas em todo o território
nacional, empregando mais de 1
milhão de trabalhadores, descapitalizado e financeiramente inviabilizado por dois anos de comercialização gravosa, tem sido grave
e injustamente punido.
Paralelamente, o BNDES pretende disponibilizar US$ 2 bilhões
por ano para financiar pesquisa e
equipamento de prospecção de
petróleo, e a ANP se regozija ao
leiloar nossos parcos campos de
petróleo para exploração pelas
multinacionais.
Enquanto os produtores de álcool se debatem com o preço livre
e a falta de uma regulamentação
adequada de distribuição da sua
produção sazonal, o contrato de
exploração de petróleo garante o
preço mínimo internacional para
as empresas produtoras e cotas de
comercialização consoante os volumes reais produzidos.
Tudo isso quando o bom senso
e o próprio mercado indicam que
o estabelecimento de um preço
mínimo e remunerador ao produtor viabilizaria o setor sucroalcooleiro -inclusive recuperando
o preço internacional do açúcar,
que se encontra no patamar mais
baixo dos últimos 15 anos- e
ainda permitira margens normais
de distribuição e revenda, com
ampla gama de arrecadação para
o Tesouro Nacional. Sugiro que
essa nova realidade seja mais bem
discutida pela sociedade.
Lamartine Navarro Jr., 67, engenheiro, é
presidente da Cepaal (Coligação das Entidades de Produtores de Açúcar e de Álcool). Foi
membro da Comissão Nacional de Energia
(governos Figueiredo e Sarney).
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