|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUíS NASSIF
Um símbolo da modernidade
Governador de São Paulo,
Franco Montoro não foi apenas
das vozes mais relevantes da
abertura, mas a esperança
abortada de que seria possível a
travessia democrática sem desequilibrar as contas públicas
-como ocorreu em todos os demais processos de redemocratização, da Proclamação da República ao período pós-Estado
Novo.
Montoro não tinha o brilho de
fogo-fátuo de intelectuais que,
como adolescentes, sonham em
mudar o mundo, mas não dão
passos em nenhuma direção.
Nem agia como políticos vaidosos, que julgam que o supremo
exercício da autoridade é ter a
palavra final sobre cada ato de
governo, ou disputar o mérito
com cada auxiliar.
Montoro tinha a sabedoria
dos grandes empreendedores.
Sabia como formar uma equipe,
casando a capacidade de pensar com a de agir. Ao contrário
de FHC, sabia que há um lugar
para o coordenador, um para o
formulador e outro para o executivo -o membro da equipe
incumbido de realizar o que foi
idealizado.
No seu governo, o gerenciamento foi conduzido pelo então
secretário do Planejamento, José Serra. Em nenhum momento
se duvidou de que o governador, de fato e de direito, era o
próprio Montoro.
Vinha-se de um final de ditadura, quando toda a racionalidade do regime militar tinha
ido por água abaixo. Para manter o poder, as contas públicas
haviam sido arrebentadas, tanto no plano federal quanto no
estadual.
Em pleno processo de redemocratização, com a velha ordem
política se esboroando, com
uma geração de políticos populistas surgindo, e sem novos pactos de procedimento político,
Montoro foi um exemplo de responsabilidade política. Ajudou
a revelar uma brilhante equipe
de auxiliares, que até hoje enriquece o serviço público. E trouxe para a incipiente democracia
brasileira valores públicos fundamentais, como o respeito ao
equilíbrio orçamentário, a ojeriza a práticas populistas.
Sem manobrar a retórica da
modernização, sem grandes
vôos retóricos, com sua bandeira de descentralização e de hortas comunitárias, conseguiu entender os novos valores da modernização, e os valores públicos eternos, muito mais amplamente do que presumíveis arautos dos novos tempos.
Montoro nunca se apequenou.
Reforma
No plano estritamente operacional, o novo ministério é um
pouco melhor do que o anterior. Na Casa Civil, Pedro Parente conhece melhor os procedimentos administrativos, políticos e operacionais do que Clóvis Carvalho.
Apesar das inúmeras críticas
que vem sofrendo, Clóvis é pessoa aberta a novos instrumentos gerenciais. Coube a ele o
mérito de abrir espaço, dentro
do governo -juntamente com
Parente-, para programas de
qualidade e para a revolução
ocorrida no Orçamento, sob a
batuta de José Silveira. Sua ida
para o Ministério do Desenvolvimento interrompe um trabalho de construção que vinha
sendo empreendido nos últimos
meses. E seguramente ele não é
o bate-bumbo que a bandeira
desenvolvimentista deveria ter.
A saída de Celso Lafer e de
Luiz Carlos Bresser Pereira é a
prova máxima de que é preferível ter FHC como adversário do
que como amigo.
A transferência de Andrea
Calabi para o Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não faz
sentido. Calabi é especialista
em análise setorial e tem visão
institucional apurada. Depois
da grande revolução gerencial
do Banco do Brasil, levada a
efeito por Paulo César Ximenes,
Calabi vinha procedendo a um
"upgrade" importante, procurando redefinir o papel institucional do banco dentro da nova
ordem econômica. Ou seja, o
desafio BB era muito maior do
que o desafio BNDES.
De qualquer modo, foram
mudanças tópicas, cosméticas,
que matam a esperança de que
se pudesse produzir um fato político capaz de reverter o profundo processo de corrosão política do governo.
As verbas estaduais eram distribuídas sem solenidade, sem a
característica comum aos governantes de tratar toda doação de dinheiro público como se
fosse um presente pessoal.
E-mail: lnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Criação & Consumo: Edson Giusti Jr. - Marketing esportivo e patrocínios Próximo Texto: Duhalde é ambíguo sobre a paridade Índice
|