São Paulo, Sábado, 17 de Julho de 1999
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MERCOSUL
Candidato do partido de Menem faz referência a FHC, que havia negado a desvalorização do real
Duhalde é ambíguo sobre a paridade

ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires

O candidato à Presidência argentina pelo partido oficialista (PJ), Eduardo Duhalde, respondeu com ambiguidade, ontem, se a paridade peso-dólar será mantida, caso ganhe as eleições do dia 24 de outubro.
Quando jornalistas brasileiros perguntaram se uma desvalorização do peso seria possível, Duhalde respondeu: "Não". Fez uma pausa e, com um sorriso irônico, completou: "Eu perguntei a FHC, há sete meses sobre isso, e ao vice-presidente e ao ministro da Economia, quando estive no Brasil. Eles me disseram o mesmo que digo a vocês: não". Continuou rindo.
Duhalde se referia ao encontro que teve com o presidente Fernando Henrique Cardoso, antes da queda do real. Nesses diálogos, o presidente brasileiro negou a possibilidade de desvalorizar a moeda nacional. No dia 13 de janeiro, no entanto, as regras cambiais brasileiras foram modificadas e o real acabou sofrendo uma maxidesvalorização.
É bom frisar, porém, que desatar o nó cambial no Brasil era mais fácil do que na Argentina, que adota o regime do "currency board". Desde 1991, o valor do peso está congelado em um dólar.
Duhalde é o primeiro político argentino, com chances de chegar ao poder, a aventar a possibilidade do fim da conversibilidade, após as eleições.
O correligionário do presidente Carlos Menem está em segundo lugar na corrida presidencial, com 31,7% das intenções de voto. O candidato da coalizão de oposição, Fernando de la Rúa, lidera, com 42%.
Na entrevista que concedeu aos correspondentes brasileiros, após uma conferência à imprensa internacional, Duhalde mencionou mais de uma vez a possibilidade de sair da paridade peso-dólar.
Segundo ele, a conversibilidade acabará quando o Mercosul adotar uma moeda regional. "Nesse momento, teremos que fazer uma adequação e não vamos poder estar relacionados com outras moedas, a não ser com a dos nossos sócios", disse ele.
Na opinião do candidato, a moeda comum poderá ser adotada ainda num eventual mandato seu. "O que pensamos que vai ocorrer daqui a dez anos acontece em três", disse ele, referindo-se ao prazo para o surgimento de uma união monetária no bloco.
Quando as economias brasileira e argentina se estabilizarem, será criada a moeda comum, disse ele.
Em maio, o próprio pai da conversibilidade e atual candidato à presidência, o ex-ministro Domingo Cavallo, também havia falado em abandonar a paridade, mas num prazo de dez anos. Segundo ele, isso só seria possível quando o peso estivesse mais forte do que o dólar.
Analistas apostam que Cavallo deverá participar de um eventual governo Duhalde. Cavallo, com 4,3% das intenções de voto, é considerado a pessoa indicada para tirar o país da conversibilidade.
Na Argentina, os principais formadores de opinião relacionam o fim da conversibilidade com a volta da inflação.
Nas últimas semanas, Duhalde fez declarações dúbias sobre a dívida externa, provocando reação negativa nos mercados.


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