São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2007

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Na Argentina, dólar atinge a maior cotação da era Kirchner

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

O Merval, principal índice da Bolsa de Buenos Aires, caiu ontem 4,7%, depois de chegar a perder 9% durante o dia, registrando uma perda acumulada de 15,9% no mês de agosto e 12,3% no ano. O dólar subiu dois centavos e voltou a atingir 3,20 pesos, o valor mais alto do governo de Néstor Kirchner. O risco-país disparou 10,23% e chegou a 517 pontos, enquanto os títulos públicos da dívida caíram até 10%. Apesar do cenário desolador, o governo negou que a crise financeira vá afetar a economia real.
Alimentado pelo único número positivo do dia, o anúncio de que a economia argentina atingiu em junho um crescimento de 8,3% na comparação interanual, o ministro Miguel Peirano (Economia), que ontem completou um mês no cargo, disse: "Não existe o mínimo risco de que a crise financeira afete a Argentina. Podem ficar absolutamente tranqüilos. Temos um superávit fiscal muito consolidado e a atividade econômica é suficientemente sólida, com uma taxa de crescimento de 8,3%".
Analistas concordam com o ministro que a Argentina está mais bem preparada para enfrentar uma crise -tem um superávit fiscal primário acumulado de 14,3 bilhões de pesos no ano e reservas monetárias de US$ 44 bilhões no Banco Central. Além disso, o país, exportador de grãos por excelência, aproveita os preços elevados do trigo e da soja no mercado internacional e deve ter uma safra recorde neste ano.
Há preocupação, porém, com o incremento dos gastos públicos. Nos últimos dias, o governo anunciou revisão na tabela do Imposto de Renda e aumento a aposentados, que juntos representarão gastos de 3,4 bilhões de pesos.
A crise energética é outro fator que gera incerteza nos investidores. Só nesta semana o governo começou a reduzir restrições no consumo de eletricidade, que vinham desde o fim de maio, para as indústrias.
O superávit na balança comercial também vem caindo sistematicamente no ano -até junho, foi de US$ 5,1 bilhões, 22% a menos do que no primeiro semestre de 2006.
Além disso, a suspeita de manipulação do índice oficial de inflação, que seria até a metade do real, ao qual é atada a maioria dos títulos da dívida, gera um fator extra de volatilidade no mercado argentino.
"A imagem do mercado local teve uma mudança profunda a partir de fevereiro, quando começaram a manipular o Indec [instituto que mede a inflação]. Os investidores começaram a analisar melhor e se deram conta de que o mercado era pouco atrativo para investir. Para ser menos vulnerável às crises internacionais, seria necessário normalizar o Indec", diz o economista Aldo Abram.


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