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Na Argentina, dólar atinge a maior cotação da era Kirchner
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
O Merval, principal índice da
Bolsa de Buenos Aires, caiu ontem 4,7%, depois de chegar a
perder 9% durante o dia, registrando uma perda acumulada
de 15,9% no mês de agosto e
12,3% no ano. O dólar subiu
dois centavos e voltou a atingir
3,20 pesos, o valor mais alto do
governo de Néstor Kirchner. O
risco-país disparou 10,23% e
chegou a 517 pontos, enquanto
os títulos públicos da dívida
caíram até 10%. Apesar do cenário desolador, o governo negou que a crise financeira vá
afetar a economia real.
Alimentado pelo único número positivo do dia, o anúncio
de que a economia argentina
atingiu em junho um crescimento de 8,3% na comparação
interanual, o ministro Miguel
Peirano (Economia), que ontem completou um mês no cargo, disse: "Não existe o mínimo
risco de que a crise financeira
afete a Argentina. Podem ficar
absolutamente tranqüilos. Temos um superávit fiscal muito
consolidado e a atividade econômica é suficientemente sólida, com uma taxa de crescimento de 8,3%".
Analistas concordam com o
ministro que a Argentina está
mais bem preparada para enfrentar uma crise -tem um superávit fiscal primário acumulado de 14,3 bilhões de pesos no
ano e reservas monetárias de
US$ 44 bilhões no Banco Central. Além disso, o país, exportador de grãos por excelência,
aproveita os preços elevados do
trigo e da soja no mercado internacional e deve ter uma safra recorde neste ano.
Há preocupação, porém, com
o incremento dos gastos públicos. Nos últimos dias, o governo anunciou revisão na tabela
do Imposto de Renda e aumento a aposentados, que juntos representarão gastos de 3,4 bilhões de pesos.
A crise energética é outro fator que gera incerteza nos investidores. Só nesta semana o
governo começou a reduzir restrições no consumo de eletricidade, que vinham desde o fim
de maio, para as indústrias.
O superávit na balança comercial também vem caindo
sistematicamente no ano -até
junho, foi de US$ 5,1 bilhões,
22% a menos do que no primeiro semestre de 2006.
Além disso, a suspeita de manipulação do índice oficial de
inflação, que seria até a metade
do real, ao qual é atada a maioria dos títulos da dívida, gera
um fator extra de volatilidade
no mercado argentino.
"A imagem do mercado local
teve uma mudança profunda a
partir de fevereiro, quando começaram a manipular o Indec
[instituto que mede a inflação].
Os investidores começaram a
analisar melhor e se deram
conta de que o mercado era
pouco atrativo para investir.
Para ser menos vulnerável às
crises internacionais, seria necessário normalizar o Indec",
diz o economista Aldo Abram.
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