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LUÍS NASSIF
O dia do economista
Sexta-feira passada foi dia do
economista. O Conselho Regional de Economia premiou, com
justiça, o presidente do Banco
Central, Armínio Fraga. Lançado ontem em São Paulo, o livro "Conversa com Economistas Brasileiros 2" -de Guido
Mantega e José Marcio Rego-
é outro bom motivo para se refletir sobre a situação atual do
pensamento econômico brasileiro, particularmente da orquestração da unanimidade
-prática que levou ao prolongamento da política cambial
anterior, praticamente quebrando o país e comprometendo seu futuro.
A primeira lição relevante é a
insuficiência da análise econômica, quando não consegue
avançar além de visões parciais da realidade -como a
mera análise dos agregados
monetários ou das contas fiscais.
É comum economistas usarem como álibi para o fracasso
de planos econômicos a demora do Congresso em aprovar reformas ou a demora da economia em ganhar competitividade. Ora, essa demora é um dado da realidade, que tem obrigatoriamente que ser levado
em consideração na implementação de qualquer plano.
Se o economista não previu a
demora do Congresso, do governo ou da economia, significa que seu conhecimento sobre
o ambiente econômico e político era insuficiente. Foi incompetente no diagnóstico e levou
ao fracasso da implementação.
É o mesmo que um médico
receitar determinado remédio
para um paciente, e alegar que
os resultados foram nocivos
porque o paciente estava subnutrido. Médico competente
tem que saber qual o remédio
adequado para organismos
subnutridos.
O segundo ponto relevante é
parar com essa mania de tratar a macroeconomia como
ciência exata. Muitos analistas
que agora apontam os erros da
política cambial anterior cansaram de desqualificar os críticos, especialmente os não iniciados, porque apontavam
realidades identificadas pelo
simples bom senso. Pareciam
dizer: "Você não está vendo isso que você está vendo porque
a teoria diz que isso que você
está vendo não existe... Seu ignorante!"
Foi esse autismo que levou ao
supra-sumo da genialidade
dos "novos economistas" -como ironizava o deputado Delfim Netto-, para quem, se um
indicador está piorando todo
mês, a tendência é melhorar.
Fica provado que, quando um
indicador está piorando, a tendência é piorar, se não se mudar as condições. Uma breve lição, aprendida ao custo de algumas centenas de bilhões de
dólares ao país.
Aposta alta
O terceiro ponto é que, por
não ser ciência exata, não se
pode fazer apostas como as
que foram feitas -que arrebentaram com as contas públicas e criaram uma situação de
pré-insolvência da dívida pública-, em cima de promessas
vagas de resultado.
É fundamental que os deputados que estão apreciando o
anteprojeto da Lei de Responsabilidade Fiscal, aliás, coloquem itens precisos, proibindo
esse poder absoluto das autoridades econômicas de fazer endividamentos para sustentar
apostas de tal naipe.
O quarto ponto é a necessidade de avaliar as contas públicas como um todo. Economista que divulga sistematicamente dados sobre o déficit da
Previdência, como proporção
das despesas correntes, e não
considera a conta de juros, é
tendencioso, não faz ciência,
nem análise, nem consultoria:
faz política.
O quinto ponto é que as verdades absolutas dos economistas variam de acordo com a
ocasião. Já teve início um profundo processo de reavaliação
das "virtudes" dos juros altos.
Durante 15 anos, esse país foi
esmagado pelo peso de políticas monetárias corrosivas, irresponsáveis, que criaram
uma geração de rentistas, sob
o manto sagrado da ciência. Se
não aumentar os juros, a inflação explode. E toca a aumentar os juros, e toca a inflação a
explodir.
Agora vai-se chegando, com
15 anos de atraso, às mesmas
conclusões de pessoas como
Dércio Garcia Munhoz -que,
pela coragem de expô-las, era
alvo de chacota geral da classe:
a de que políticas permanentes
de juros altos têm apenas o objetivo de dar grossos lucros aos
agentes que vivem de juros altos.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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