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OPINIÃO ECONÔMICA
Uma janela a ser aproveitada
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
O mundo global está nadando em dinheiro. Por essa razão, os juros, nas maiores economias do planeta, são os mais baixos em muitas décadas. A principal causa dessa situação anômala
é a recessão que tomou conta dos
países mais importantes, principalmente os Estados Unidos, depois que a bolha especulativa nos
mercados de ações estourou, na
passagem do século.
A brutal perda de riqueza que
se seguiu ao colapso da Nasdaq
provocou uma ruptura traumática no processo econômico do
mundo desenvolvido. Em razão
do arranjo institucional mais eficiente que temos hoje e das lições
daqueles anos terríveis, escapamos de uma crise semelhante à
que ocorreu em 1929.
A política econômica dos governos, nas principais nações do
mundo desenvolvido, não buscou, como foi feito no início dos
anos 30 do século passado, o reequilíbrio dos orçamentos públicos
por meio do aumento de impostos
e da redução de despesas. Os governantes e seus assessores econômicos lembraram-se, certamente,
das extraordinárias lições deixadas pelo grande lorde Keynes.
Os dirigentes dos bancos centrais, também conhecedores das
lições passadas, expandiram de
forma agressiva a liquidez dos sistemas bancários nacionais, deixando de lado o chamado bom
senso monetário. O líder desse
processo foi o notável Alan
Greenspan, presidente do Federal
Reserve. Entendendo, mais cedo
do que outros colegas, os perigos
de uma depressão econômica nos
Estados Unidos, ele declarou publicamente que estava liderando
uma guerra santa para trazer de
volta a inflação à economia de
seu país!
Essa sua ousada batalha foi
também motivada pelas lições da
desastrosa política econômica japonesa nos anos que se seguiram
à ruptura da bolha do mercado
de ações e do setor imobiliário. Os
japoneses pagam, até hoje, pelos
erros cometidos então.
Os juros baixos e a abundância
de crédito estimularam os gastos
dos consumidores -que são os
responsáveis por quase 80% do
PIB dos Estados Unidos. O consumo privado vem crescendo a mais
de 7% ao ano em 2003. Com esse
vigor nos gastos de consumo, a
atividade econômica deu um
grande salto à frente, e o PIB cresceu a uma taxa de mais de 6% ao
ano no trimestre que se encerrou
em setembro.
Outro estímulo à retomada do
crescimento econômico no mundo desenvolvido veio da nova estrela econômica do século 21: a
China. O desenvolvimento do capitalismo no país de Mao Tse-tung, nas últimas décadas, tem sido extraordinário. Mas somente
agora, neste início de milênio, a
dimensão dos negócios na China
passou a ter relevância na economia global. Os números chineses
como PIB, exportação, importação, investimentos estrangeiros e
reservas externas atingiram um
montante expressivo, mesmo
quando comparados a economias
avançadas como a dos Estados
Unidos, a da União Européia e a
do Japão.
Em 2003, o crescimento da economia chinesa já representa, em
valores absolutos, mais de 15% do
aumento do PIB mundial. Portanto suas elevadas taxas de expansão são combustível adicional
para a recuperação econômica do
mundo. Países como o Japão
-que tem mais de 45% de suas
exportações de máquinas e equipamentos industriais destinadas
a seu vizinho- e mesmo o Brasil
estão vendo crescer suas exportações em razão do chamado efeito
chinês.
Mas o grande motor para evitar
um colapso econômico mais sério
tem sido a farta liquidez internacional. Juros baixíssimos e a esperança de que o risco de uma recessão mundial já seja coisa do passado estão permitindo que países
tidos como de maior risco político
aproveitem para aumentar suas
reservas externas em moeda forte.
O México tem hoje US$ 50 bilhões; a Índia, US$ 70 bilhões; a
Malásia, US$ 35 bilhões, e a Tailândia, quase US$ 40 bilhões.
O Brasil não seguiu esse caminho, ao preferir usar a taxa de
câmbio para acelerar o combate à
inflação herdada das eleições do
ano passado. Mesmo assim, ainda temos tempo para realizar um
programa de aumento significativo de nossas reservas. Para tanto,
nossas autoridades econômicas
precisam desviar sua atenção das
miragens financeiras criadas pelos mercados para concentrar
suas forças em um programa de
compra de dólares por meio da
emissão de dívida interna indexada à moeda americana.
E não cair no verdadeiro conto
do vigário que seria resgatar, antecipadamente, suas operações de
"swap" da Selic pela correção
cambial, realizadas há alguns
meses com o sistema financeiro.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 60,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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