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Mulheres sustentam famílias mais pobres
GABRIEL J. DE CARVALHO
da Redação
No município de São Paulo, as
mulheres já são maioria entre os
chefes de família com renda muito baixa, ou seja, até R$ 200 mensais. A constatação é da Fipe, fundação da USP, com base em sua
mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada em 1998 e 1999.
Nessa faixa de renda, observada
em geral nas favelas ou cortiços,
55,13% dos domicílios são sustentados por mulheres. Mesmo entre
R$ 200 e R$ 500, isso ocorre em
45,07% das casas, o que surpreendeu os economistas da Fipe.
Já nas camadas de renda mais
alta, de R$ 4.000 ou mais, 82,92%
dos chefes de família são homens.
O efeito da educação
Outra constatação da mais recente pesquisa da Fipe sobre orçamentos familiares em São Paulo é
que níveis educacionais mais elevados nem sempre garantem
maior renda.
Em domicílios nos quais a renda mensal varia de R$ 200 a R$
500, cerca de 1% das famílias são
sustentadas por quem tem curso
superior.
Na faixa de R$ 500 a R$ 1.000,
essa relação chega a 2,58%, enquanto no contingente de renda
mais elevada (R$ 4.000 ou mais),
como era previsível, atinge
49,17%.
A distribuição dos domicílios
paulistanos por faixa de renda familiar indica que a maioria (cerca
de 58%) se situa entre R$ 200 e R$
1.500 mensais.
Outras surpresas
A pesquisa da Fipe também
chegou a outras conclusões surpreendentes.
1) Famílias com renda até R$
200 por mês gastam 117,1% dela
com despesas familiares de consumo, o que pode ser explicado
pelo fato de favelados, por exemplo, complementarem o sustento
com esmolas que os filhos pedem
nas ruas.
2) Nas demais faixas, sobra renda depois das despesas familiares,
mas o excedente não é necessariamente poupado em caderneta etc.
A diferença é destinada, por
exemplo, à reforma do domicílio
ou, no caso de renda mais elevada, à casa de praia.
3) Gastos com habitação são
preponderantes (de 25,8% a
35,2%) em todas as faixas de renda. É bom lembrar, entretanto,
que esse item exclui prestação da
casa própria (considerada investimento, e não consumo) e inclui
água, luz etc., além do aluguel.
4) Despesas com alimentação
caíram nos últimos anos, em termos relativos, porém ainda chegam a 38,7% entre famílias que
ganham até R$ 200 e a 30,3% nas
faixas de R$ 200 a R$ 500.
5) A maior participação das despesas com transporte é observada
entre famílias com renda mais
elevada (a partir de R$ 1.000 por
mês), fato explicado pela manutenção de veículo próprio.
6) Despesas pessoais têm participação parecida em todas as faixas de renda, já que, mesmo entre
famílias bem pobres, o fumo e as
bebidas têm peso razoável, explicam técnicos da Fipe.
7) A relação entre gastos com
saúde e renda familiar varia de
4,9% (R$ 200 a R$ 500) a 9,2% (R$
4.000 ou mais). Esse último percentual é praticamente o mesmo
em todas as faixas a partir de R$
2.000.
8) Vestuário pesa de 4,2% a 6%,
com pequenas variações entre as
faixas de renda.
Educação
9) A maior disparidade em relação ao nível de renda ocorre
quando são observados os gastos
com educação. A participação na
renda é nula, ou quase nula, nas
camadas mais pobres, que educam seus filhos na rede pública de
ensino, mas alcança 11,3% entre
famílias que recebem R$ 4.000 ou
mais por mês. É quase o que se
gasta em média, nessa última faixa, com alimentação (13,3%).
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