São Paulo, Quarta-feira, 17 de Novembro de 1999
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Mulheres sustentam famílias mais pobres

GABRIEL J. DE CARVALHO
da Redação

No município de São Paulo, as mulheres já são maioria entre os chefes de família com renda muito baixa, ou seja, até R$ 200 mensais. A constatação é da Fipe, fundação da USP, com base em sua mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada em 1998 e 1999.
Nessa faixa de renda, observada em geral nas favelas ou cortiços, 55,13% dos domicílios são sustentados por mulheres. Mesmo entre R$ 200 e R$ 500, isso ocorre em 45,07% das casas, o que surpreendeu os economistas da Fipe.
Já nas camadas de renda mais alta, de R$ 4.000 ou mais, 82,92% dos chefes de família são homens.

O efeito da educação
Outra constatação da mais recente pesquisa da Fipe sobre orçamentos familiares em São Paulo é que níveis educacionais mais elevados nem sempre garantem maior renda.
Em domicílios nos quais a renda mensal varia de R$ 200 a R$ 500, cerca de 1% das famílias são sustentadas por quem tem curso superior.
Na faixa de R$ 500 a R$ 1.000, essa relação chega a 2,58%, enquanto no contingente de renda mais elevada (R$ 4.000 ou mais), como era previsível, atinge 49,17%.
A distribuição dos domicílios paulistanos por faixa de renda familiar indica que a maioria (cerca de 58%) se situa entre R$ 200 e R$ 1.500 mensais.

Outras surpresas
A pesquisa da Fipe também chegou a outras conclusões surpreendentes.
1) Famílias com renda até R$ 200 por mês gastam 117,1% dela com despesas familiares de consumo, o que pode ser explicado pelo fato de favelados, por exemplo, complementarem o sustento com esmolas que os filhos pedem nas ruas.
2) Nas demais faixas, sobra renda depois das despesas familiares, mas o excedente não é necessariamente poupado em caderneta etc. A diferença é destinada, por exemplo, à reforma do domicílio ou, no caso de renda mais elevada, à casa de praia.
3) Gastos com habitação são preponderantes (de 25,8% a 35,2%) em todas as faixas de renda. É bom lembrar, entretanto, que esse item exclui prestação da casa própria (considerada investimento, e não consumo) e inclui água, luz etc., além do aluguel.
4) Despesas com alimentação caíram nos últimos anos, em termos relativos, porém ainda chegam a 38,7% entre famílias que ganham até R$ 200 e a 30,3% nas faixas de R$ 200 a R$ 500.
5) A maior participação das despesas com transporte é observada entre famílias com renda mais elevada (a partir de R$ 1.000 por mês), fato explicado pela manutenção de veículo próprio.
6) Despesas pessoais têm participação parecida em todas as faixas de renda, já que, mesmo entre famílias bem pobres, o fumo e as bebidas têm peso razoável, explicam técnicos da Fipe.
7) A relação entre gastos com saúde e renda familiar varia de 4,9% (R$ 200 a R$ 500) a 9,2% (R$ 4.000 ou mais). Esse último percentual é praticamente o mesmo em todas as faixas a partir de R$ 2.000.
8) Vestuário pesa de 4,2% a 6%, com pequenas variações entre as faixas de renda.

Educação
9) A maior disparidade em relação ao nível de renda ocorre quando são observados os gastos com educação. A participação na renda é nula, ou quase nula, nas camadas mais pobres, que educam seus filhos na rede pública de ensino, mas alcança 11,3% entre famílias que recebem R$ 4.000 ou mais por mês. É quase o que se gasta em média, nessa última faixa, com alimentação (13,3%).


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